Conto 05: Da música até a eternidade

17 2 0
                                    

Escrito por: Beatriz Umeki, @bia.e.livros no Instagram

Revisado por: Gabriella Ferreira, @intrografando no Instagram

Aviso de Gatilho: Menção de drogas ilícitas

Classificação Indicativa: +14

Eric tinha dois grandes problemas: estar com a perna esquerda quebrada e ter um ingresso para o Lollapalooza. Não que o outro problema, que ficava fechado a sete chaves no baú de sua mente, fosse menos importante.

Eu gosto de um cara! E não de um cara qualquer.

Ressalto que, desde o dia que foi divulgada a lista dos shows, ele ficou extremamente animado. Finalmente poderia ver Foo Fighters ao vivo e em cores! E seria uma experiência avassaladora, fascinante e viajante, parafraseando Isabela Boscov. É claro, isso se ele fosse.

De um lado, sua mãe alertando-o que seria impossível aproveitar o festival andando de muletas. E mães têm a assustadora tendência de estarem certas em 99,999% das vezes. Do outro, seu pai falando que os jovens de hoje estão perdidos, não escutam mais música que presta.

Eric tinha a paciência de explicar que Foo Fighters faziam um som daora, tão bons quanto Nirvana, e tinham letras profundas. Porém, seu pai, apegado a coisas antigas como a maioria das pessoas antigas, mal dava ouvidos.

Ele tinha só uma semana para decidir se venderia os ingressos ou iria encarar a luta de não poder se locomover da forma habitual. É óbvio, ele previa, que seu gesso poderia ficar cheio de lama, além das outras dificuldades a enfrentar.

Enquanto fumava no estacionamento do campus e pensava nos prós e contras da questão, ele apareceu. Felipe. Seus olhos castanhos e cabelo cacheado preso em um rabo de cavalo imediatamente o tiraram do transe. A camiseta com a logo do Batman passava um ar amigável e a calça jeans costumeira lhe caia bem.

Eric seria obrigado a encarar o garoto mais lindo que já vira em sua vida, sem desmaiar ou falar algo estúpido, e não que estivesse reclamando. Faziam quase duas semanas sem se verem, ele estava preocupado e, quem sabe, com um tiquinhozinho de saudade. Fato que não admitiu pra ninguém, exceto sua melhor amiga Bárbara.

— Oi — Começou Felipe.

— Oi — Respondeu Eric, tentando conter um sorriso. — Anda sumido.

Será que dei na cara que sinto falta dele? Ah, meu Deus do céu.

— Pois é — Continuou, pegando a bituca da mão do amigo. Os dedos dos dois roçaram de leve. Ele tragou e a fumaça saiu como se estivesse em câmera lenta. Tudo ficava mais devagar e relaxado quando estava com Felipe. — Eu tava ralando mais no serviço pra conseguir comprar um ingresso pro Lolla.

Ele só pode estar brincando.

— É sério? — Eric ajeitou o cabelo atrás da orelha e pegou o cigarro de volta, os olhos verdes ficaram mais claros devido ao sol forte. — Eu vou também.

Vou coisa nenhuma. É mais fácil eu ser pisoteado por uma manada de gente.

— Tá brincando?! — Felipe abriu um sorriso genuíno e toca animado o ombro do loiro que, por sua vez, sente uma corrente elétrica descer e subir por todo o seu corpo, e mesmo depois de estar longe do toque do amigo, o local da pele há pouco tateado parece faiscar.

— Juro. Só não sei como vou fazer com isso — Aponta para o gesso, aquele empecilho irritante e idiota. Literalmente.

Ele havia quebrado a perna ao pular de uma cerca que dava para uma grande mata. O objetivo? Tirar fotos do pôr do sol. Seus pais riram tanto ao encontrá-lo que por alguns minutos até esqueceram de seu filho precisando de ajuda médica e o deixaram no chão com uma cara de tacho, sem ver diversão nenhuma no ocorrido.

Entre Palavras e AcordesWhere stories live. Discover now