Setembro de 1999 - Primeiro dia de escola

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Amanhã é o grande dia!

O pai diz que me vai levar à escola. mas não sei se é verdade, porque quando era pequena e andava no infantário era sempre a avó que me levava.

Habituei-me a viver em casa da avó, o papá está sempre a trabalhar, e tenho lá em casa os meus brinquedos favoritos. Não posso simplesmente deixar lá a minha princesa favorita e o meu ursinho Tex.

Não consigo adormecer, o papá disse-me para fechar os olhos e contar carneirinhos, mas eu não sei contar infinitos números, pois não? Afinal, só tenho seis anos. Pedi ao papá para me contar uma história e ele, mais uma vez, contou-me a do lobo mau, mas desta vez numa versão mais assustadora.

A avó Benny diz que sou muito espevitada para uma menina da minha idade, não sei o que ela quer dizer mas acho que é uma coisa boa. Tenho de me lembrar de lhe perguntar sem falta amanhã!

O papá está com um cheiro forte e azedo, deve estar doente outra vez. Se calhar amanhã quando sairmos para o meu primeiro dia de escola, vai colocar os óculos de sol, como sempre coloca quando fica doente. A avó Benny diz que ele tem de se tratar para eu não apanhar a mesma doença quando for grande.

Gosto muito da avó, se ela estivesse aqui tinha contado a melhor das histórias, com fadas, princesas e dragões como eu adoro.

Olhei pela janela, para ver as estrelas e a lua, e estava um menino na casa da frente. A avó disse que ele e a família se mudaram para o bairro e que tenho de ser amiga deles.

O menino reparou que estava a olhar para ele e eu sorri. Ele fez uma cara feia e fechou a janela. Que miúdo estranho, pensei. Será que vai ser da minha turma? Podemos ir os dois para a escola e fazer os trabalhos de casa juntos. Era bom ter amigos a sério. O mais certo é ele só querer jogar à bola e sujar-se na lama, e eu não quero chatear o papá ao trazer a roupa toda suja. Ele é dono de um café, mas também servem comidas, comidas mesmo muito boas, divinais! O papá não lhe quer chamar restaurante, porque a clientela não ía gostar dessa alteração. Acho que é porque os clientes só vão lá maioritariamente beber cerveja e outras bebidas com cheiros fortes e que fazem as pessoas ficarem malucas da cabeça.

A avó Benny diz que é minha amiga, mas ela não consegue correr para jogar à apanhada e diz que não tem força para subir à casa na árvore. É uma seca não ter com quem brincar. Fiquei a olhar para o céu e adormeci no parapeito da janela.

... no dia seguinte ...

Acordei com dores no pescoço. O sol está a iluminar o quarto todo e, por isso, acho que tanto eu como o papá adormecemos. Fui ao quarto dele, mas ele continua a dormir. Voltei para o meu quarto, peguei no meu telemóvel e liguei para a avó, que me disse que já estava a caminho de nossa casa.

Vesti-me como uma menina grande e comi o pequeno almoço dos atrasados, um manhãzito e um pacote de leite achocolatado . Ainda não tinha terminado e a avó já estava a buzinar no carro velhote dela, um Renault 5.

- Bom dia avó! Eu bem te disse que o papá não se iá levantar. - disse-lhe eu orgulhosa de mim, na inocência e ignorância de uma criança de seis anos

- Tens razão filha, tens razão. O David é mais criança do que tu. - disse a avó, com uma expressão triste e desiludida na cara - Não sei mais o que fazer com ele! – murmurou, mais alto do que seria suposto.

- O quê avózinha? - perguntei

- Nada meu amor. Coisas de gente grande! - respondeu com uma tentativa de sorriso.

- Avó, já tenho seis anos! Não sou nenhuma criança! – exclamei

A avó deu uma gargalhada que a fez inclinar a cabeça para trás e eu ri-me junto dela, sem perceber o motivo de tanta risada. Ficamos algum tempo em silêncio enquanto eu olhava pela janela os meninos que faziam o caminho para a escola a pé quando a avó diz - Tori já estamos a chegar meu amor!

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