Tarde Demais - visão Jake

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Eu jurei que não iria fazer mais isso, prometi a ela que não iria mais invadir a sua privacidade, mas eu preciso falar com ela e ela não está me atendendo. Só mais essa vez, falo pra mim mesmo repetidamente enquanto acesso o seu celular.
Estava ensaiando na minha cabeça tudo o que eu falaria assim que a visse, sei que só palavras não seriam o suficiente pra tentar convencê-la a me ouvir, pego minhas coisas e vou em direção a sua localização, não era muito longe de onde eu estava. Finalmente consegui o acesso ao seu celular, invadi a sua câmera e lá estava ela, inerte, seu olhar estava vazio, sem brilho, em um misto de dor e tristeza, vejo ela levando comprimidos até a sua boca, e não, ela não pode estar fazendo isso, sinto o desespero invadir meu peito, minhas pernas começaram a fraquejar mas fazem um esforço para correr o mais rápido possível até a sua casa, enquanto disco o número da ambulância. No telefone, vejo que sua respiração que antes era descompassada e ofegante está diminuindo aos poucos.
Apresso mais os meus passos, sinto meu coração acelerar, meus pulmões gritam por ar, mas não posso parar agora. Quando me dou conta já estou na frente de sua porta, tento abrir mas a mesma está trancada, não tenho outra opção a não ser arrombar,  deposito meu últimos resquícios de força pra conseguir entrar. Subo as escadas procurando pelo o seu quarto, adentro a segunda porta à direita e a encontro deitada na cama, seu corpo está imóvel e gelado, sua boca apresenta uma coloração roxa, seu semblante estava vazio, sem qualquer resquícios de preocupações, tristezas, decepções ou alegria, era apenas vazio.

Agarro seu corpo contra o meu. Me desculpe, aguente só mais um pouco, por favor. São as únicas palavras que conseguem sair da minha boca. Ouço o barulho das sirenes se aproximando da casa, paramédicos entram no quarto para socorrê-la, sou direcionado ao lado de fora do quarto e fico ali aguardando.
Após alguns minutos vejo eles sairem com ela em uma maca, um deles vem até mim e informa que ela será levada ao hospital, aceno com a cabeça e o acompanho até a ambulância.

Chegamos no hospital mas não pude acompanhá-la nos procedimentos, eles disseram que as chances eram poucas, sua pulsação estava muito baixa.
Eu me sinto completamente impotente, sentado no corredor de espera, esse sentimento me invade, me sufoca, me consome. Eu tentei ao máximo me manter longe, longe de qualquer sentimento por alguém, longe de relacionamentos mas tudo vem à tona e não consigo controlar quando se trata dela. Mas nesse momento, além do amor, a dor da perda está invadindo o meu peito.
Esse é um daqueles momentos estranhos, onde tudo passa como um flash na cabeça, o momento em que você encara o amor e tem vontade de fugir. Relembro cada conversa, cada risada, cada demonstração de afeto e penso não ser possível ser merecedor de um sentimento tão único, de alguém tão incrível. Me pergunto o que ela fez comigo pra me manter tão preso, por qual razão ela me escolheu? Justo eu? Alguém com tantos traumas, inseguranças, alguém que até poucos dias atrás não poderia andar por aí livremente, alguém que precisa ser reconstruído aos poucos, com paciência.
Não tive uma boa experiência com relacionamentos, já fui machucado, trocado, usado e feito de idiota, tive a confiança quebrada, e agora que tenho um amor puro, leve sincero, tenho vontade em aceitá-lo. Me saboto com medo de ser igual as outras vezes, mesmo sentido uma sintonia diferente, mesmo sendo tratado com carinho e respeito.
É estranho pensar que existe uma pessoa que te acolha, que te olhe nos olhos e não peça nada em troca, que consegue ver em você um potencial para ser mais, muito mais, do que você mesmo imaginou, alguém que te peça calma, quando todas as outras te pediram pressa. Mas ela realmente existe, e a minha está bem ali, entre a vida e a morte. Independente do quanto erraram comigo, do quanto eu me feri tentando nos proteger, a chance de consertar tudo é está, é agora, é a última. Dessa vez não vou fugir, eu escolho ficar, espero que não seja tarde demais.

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