Capítulo 1

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Em cima de uma laje, no maior bairro da América Latina, conhecido por Cajazeiras, encontrava-se Amara

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Em cima de uma laje, no maior bairro da América Latina, conhecido por Cajazeiras, encontrava-se Amara. Ela estava olhando para cima com olhos semicerrados por conta da forte luz do sol. A pele negra brilhava devido ao suor e um grande sorriso contagiante desenhava o seu rosto.

O motivo da posição um tanto desconfortável, era a arraia vermelha que ela estava empinando. Amara duelava com o seu próprio irmão e estava quase conseguindo cortar a linha da arraia dele, o que a deixava muito entusiasmada, pois ele sempre ganhava os duelos.

— Agora já era, Zezinho! A sua arraia é minha! — Amara zombava do irmão, rindo dele, enquanto mexia o braço para dar movimento ao brinquedo de papel, que voava agitado.

— Vai sonhando.

Ela deu risada e mexeu ainda mais o braço. Estava tão empolagada, tão focada olhando para cima, que não percebeu que ao dar alguns passos para trás estava se aproximando da beirada da laje, que além de não ter cobertura, também era desprovida de muros.

Cada vez mais próxima, e cada vez mais desapercebida. Ela tinha conseguido enroscar a linha de sua arraia na de seu irmão e fazia força para conseguir cortar. Estava tão perto de ganhá-lo pela primeira vez, que dava pulinhos de nervoso e dava mais passos para trás.

— Meu Deus! Eu deveria ter temperado melhor esta linha. — reclamou, tendo dificuldade para roubar a arraia do irmão.

— Eu vou ganhar. — disse o rapaz.

— Não vai! Eu vou cortar é agora, quer ver?

Caminhou ainda mais para trás. A vitória estava tão perto, faltava tão pouco. O peito da menina subia e descia com rapidez devido a forte respiração. Ela estava entrando em êxtase.

Uma pequena irritação começou a tomar conta dela, tamanha era a dificuldade de cortar a maldita linha. O vento soprou forte e Amara percebeu um sorrisinho no rosto do irmão quando olhou rapidamente para ele. E então, ela respirou fundo e deu mais dois passos para trás. A negra sentiu uma forte pontada no coração e um arrepio percorrer por todo o seu corpo quando percebeu que não tinha mais chão, mas infelizmente era tarde demais para voltar.

O grito saiu do fundo de sua alma. Ela tentou se segurar em algum lugar, até mesmo na linha da arraia, mas era pesada demais para um frágil papel sustentado por pauzinhos. Os braços sacudiram no ar como asas, porém esse movimento não obteve nenhum resultado. Amara caía de costas e como numa câmera lenta viu o irmão gritando o nome dela, e também viu o céu, tão azul que incomodava os seus olhos. O sol brilhava intensamente, refletindo a luz nas penas de alguns pássaros que passaram voando sobre a menina. O desespero foi tão grande que ela sentiu a cabeça latejar. Sentiu vontade de chorar, mas as lágrimas não vieram.

E o que restou para Amara foi fechar os olhos e esperar pelo impacto. Certamente morreria, e não queria que a sua última visão fosse de Zezinho gritando e olhando para ela com aquele aspecto de angústia. Ele também sabia que ela não ia sobreviver aquela queda. A laje ficava no quinto andar, à uns 15 metros do chão. Era muito alto.

A menina conseguiu pensar em toda a sua vida até aquele momento. Foi como as pessoas disseram, como um filme antes da morte. Tinha apenas 15 anos de idade, e não tinha muita história para deixar de lembrança para os vivos. Ainda não tinha feito nada de extraordinário. Toda a sua vida foi dentro de casa, sempre competindo com o seu irmão; seja em duelos de arraia ou jogando vídeo game e jogos de tabuleiro. Ainda tinha um mundo para conhecer, e pessoas. Ela não poderia ir agora, não quando precisava resolver os seus conflitos com a sua mãe que havia proibido ela de subir na laje, pois tinha atividades escolares para fazer.

"Para de ser chata, depois eu faço."

Foram as últimas palavras que ela disse à mãe antes de pegar a arraia e sair de casa. Caramba, aquilo era um castigo pela sua desobediência. Ela foi tão grosseira com a mãe que o universo estava lhe punindo. Queria poder pedir perdão.

E então, os olhos de Amara se abriram e fixaram-se no céu. Ela não sabia para quem ou para o que, mas conseguiu pedir com um fio de voz:

— Não me deixe morrer.

Um segundo depois o seu corpo encontrou-se com o chão.


[740 palavras]

Else - A Deusa ExiladaOnde histórias criam vida. Descubra agora