005 • o acordo

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O filho da mãe estava com o meu colar.

O desgraçado não o tira do bolso em momento algum.

Lionel olha para onde eu estou fuzilando-o com o olhar pela última hora e abre um sorrisinho de lado. Sorriso de quem sabe que me tem na palma da mão. Porque ele tem mesmo.

Aquele colar era muito mais do que aparentava ser. Minha irmã tinha um par idêntico que foi roubado no dia em que morreu. Nós os ganhamos de nossos pais quando completamos cinco anos, pouco tempo antes da morte deles, deixando-nos sozinhas. O colar é a única coisa que me prendia à memória feliz dela, porque sempre que eu chorava ou tentava desistir, ela tocava em nossas pedrinhas na altura do peito e dizia que ainda teríamos dias melhores. Era só confiar.

Depois que Aliria morreu, eu passei bons quatro dias sem nem sair do quarto onde estávamos hospedadas. Alguns guardas apareceram para levar o corpo dela embora, mas eu nem consegui me mexer. Ficava apática, encarando a mancha de sangue no piso de madeira o dia inteiro, e na minha mente tentava me convencer que não estava dentro de um terrível pesadelo. Mas a realidade caiu abruptamente sobre mim quando a dona da hospedaria — uma senhora velha e ranzinza que cheirava a urina — me jogou para fora.

Dizer que fiquei desesperada é um eufemismo. Fiquei completamente maluca, caçando por todos os lugares alguém que pudesse me ajudar a desvendar a identidade do homem que a matou e roubou seu colar.

Lionel não sabia a importância desse objeto para mim, mas agora tinha uma boa ideia.

Minha irmã não era perfeita. Ela roubava mais do que qualquer um e me ensinou a fazer isso com a mesma maestria que possuía. Ela lutava, atirava, caçava como ninguém. E me tornou tão boa quanto ela. Podia não ser a melhor irmã do mundo, mas era perfeita para mim.

O vazio em meu peito nunca vai sarar completamente, eu sei e aceito isso. A morte da minha luzinha vai me causar dor até o fim dos meus dias, mas pelo menos eu poderei aplacar um pouco o sofrimento quando me vingar. E tenho um plano perfeitamente calculado para isso.

Vejo Lionel se aproximando, as pernas longas diminuindo a distância entre nós rapidamente. Ele para à minha frente e ajuda a aba do chapéu em minha cabeça para que eu possa encará-lo sem interferência. Vejo um brilho malicioso em seu olhar quando me vê puxar as amarras desconfortavelmente. Meus pulsos doem como o inferno, e sei que ambos devem estar feridos com o atrito da corda, mas ele não parece muito disposto a me soltar tão cedo.

— Desistiu de lutar? — o capitão pergunta, e até o som da sua voz me irrita. Suspiro e encosto a cabeça na viga.

— É claro que não. Só estou recuperando as forças.

No Coração da Tempestade (em andamento)Where stories live. Discover now