Isso Não é um Clichê! (ESPECIAIS)

CEO

"A fire in his eyes, no, I saw it
He's bleeding from his brain and his wallet
He's sick and he's taken but honest" - You Can Be the Boss, Lana Del Rey

Com a caneta em mãos, rabiscava um redemoinho qualquer na ponta da folha da minha agenda, ao mesmo tempo que meus olhos se perdiam na vastidão do azul do céu.

Jamais pudera imaginar que uma segunda feira poderia ser tão deprimente quanto essa, justo a do dia dos namorados. Nem mesmo Killer Queen tocando ao fundo conseguira tirar um sequer sorriso meu.

O motivo de tamanho desagrado? Então, não é só por ser nove e pouca da manhã e eu estar preso entre quatro paredes de um escritório, como também por saber que estaria ocupado o dia inteiro.

É muita coisa marcada para um dia só e não está sobre meu controle. Digo, está, mas eu não seria irresponsável ao ponto de desmarcar tudo e perder clientes para ficar brincando de papai e mamãe com a Bianca.

Embora não seja uma má ideia...

Respirei fundo

— Alexa, tocar "A Man Without Love".

Apressadamente as primeiras notas musicais e a voz de Engelbert Humperdinck começaram a se espalhar, sendo até um prazer para meus ouvidos.

Virei a cadeira giratória em frente à minha mesa, lembrando de tudo o que tinha que fazer.

Notas fiscais, a reunião pós almoço para falar sobre a abertura daquela empresa do interior. Era do que mesmo? Ah sim, borrachas para pneus. Também tem o evento corporativo às quatro. Sequer lembro o objetivo...

O único horário livre que terei será o do almoço, mas Bianca vai estar ocupada, me pergunto com o que. Ela não vai almoçar?

Oras essa, lá vai eu me perdendo em devaneios novamente. É só Bianca, Bianca e Bianca. Estou começando a ficar louco.

De fato, hoje seria um dia especial, aliás, nosso primeiro dia dos namorados juntos. Já sabia que não poderia comemorar apropriadamente, então a prometi que tiraria umas férias em julho e que viajaríamos para "suprir" o dia comemorativo.

Mas acordar sem ela ao meu lado e dirigir pelas ruas de Porto Alegre cobertas de corações, flores e casais apaixonados, é de deixar qualquer um deprimido.

Mais tarde, me encontrando com meu velho amigo e infelizmente secretário, Gustavo, não demorou muito para ele comentar:

— Nunca te vi tão estressado antes, Eros. O que foi?

— Odeio segundas feiras e está frio.

— Bom, se eu fosse o senhor, também preferia estar em frente à lareira com a amada em um braço e a filha no outro — afirmou em um tom sarcástico, sabendo que estava tocando sal na ferida.

Abri um sorriso sádico para ele.

— Você já leu a Bíblia, Gustavo? Eu conheço uma passagem que você vai gostar: Ezequiel 25:17 — fiz referência à Pulp Fiction, logo pegando o elevador para me afastar dele, ouvindo um último "tenha um bom dia".

Aproveitando essa brecha de tempo no elevador, rapidamente peguei meu celular e liguei para a Bianca.

Um sorriso instantaneamente tomou meu rosto quando o "Chamando" fora substituído pelo temporizador da ligação.

"Oi, amor" se pronunciou primeiro. "Achei que não me ligaria, já estava ficando triste".

"Perdão, paixão, dia começou agitado. Só queria te desejar um bom dia e um feliz dia dos namorados".