Capítulo VI - Um Favor

147 27 1
                                    


— Porra, Na-moo! Você entrou na frente bem na melhor parte!

Hansan estava em choque, Satoru e Luo se aproximavam a passos apressados e Na-moo estava parado, sem reação. Benjamin tomou a iniciativa para prestar o socorro, enquanto Kwan, mais ao longe, reclamava por ter seu vídeo arruinado.

A reação inesperada do fisioterapeuta foi premeditada pelo vizinho, que assim que viu a primeira queda do rapaz, e seu rosto pálido olhando fixamente para Na-moo, imaginou o que vinha a seguir e pegou rapidamente o celular para gravar a cena.

— Esse ia fazer sucesso na internet!

— Dá para algum de vocês me ajudar aqui?! — Benjamin tentava levantar Dae-ho, que ainda estava desacordado. — Você não, Hansan!

— Calma aí, campeão...

A mente do artista, em desacordo com seu corpo, esqueceu de lembrá-lo de sua momentânea incapacidade na urgente necessidade de prestar socorro. O que lhe fez tombar para frente quando sua muleta se enroscou nas pernas de Dae-ho, que estava estirado no chão, fazendo Na-moo segurá-lo pela cintura e puxá-lo para trás, arrumando novamente a sua postura.

Nesse momento, Hansan se deu conta de que ali, nada podia fazer, a não ser sair do caminho de quem realmente podia ajudar.

Sentir as mãos do primo lhe auxiliando em um momento em que não era ele quem realmente precisava de auxílio, fez a raiva explodir em seu peito enquanto se afastava e se desvencilhava bruscamente dos braços de Na-moo.

— Olha o que você fez! — bradou com ele.

— Eu?

O palestrante já estava acostumado com a rispidez do primo, eles sempre tiveram suas desavenças, porém, depois do acidente as coisas pioraram consideravelmente.

— Você!

— Posso saber por qual mazela do mundo estou sendo acusado de ser autor agora? — Retirou os óculos escuros que já estavam despencando de sua cabeça e o guardou no bolso da camisa aberta.

— Você quebrou o garoto, olha lá! — Apontou para o caminho que Satoru e Benjamin faziam, carregando Dae-ho para dentro da casa — É o Deus da destruição mesmo!

Na-moo achou graça do mais novo apelido, abrindo um sorriso largo de covinhas que só o deixava ainda mais relaxado diante da postura afrontosa do primo. Hansan odiava como achava lindo aquele sorriso, a ponto de querer reproduzi-lo em alguma de suas artes, porém nunca cederia a um desejo desse tipo. Seu orgulho não permitiria.

— Sei que sou meio desastrado, Bae, mas...

— Mas foi a minha perna que você arrancou! — As veias de seu pescoço já estavam ressaltadas, as pupilas dilatadas e as carnes do corpo trêmulas.

— Ei, ei, ei! Vamos com calma, Hansan! — Luo se aproximou com Kwan ao lado, tentando acalmar os ânimos do amigo. — Não vamos começar essa discussão outra vez! Você sabe que, ou era você, ou a droga da perna. E o Na-moo só estava fazendo a porra do trabalho dele, que era te manter vivo!

Luo odiava como Hansan algumas vezes parecia ingrato diante de tudo que aconteceu. Afinal, apesar das perdas, ele estava ali, vivo, podendo usufruir de muito mais do que a maioria. Sabia que todo aquele processo foi, e continuava sendo, difícil para ele. Foi o primeiro a estar com Hansan no hospital, estava ao seu lado quando acordou e se deu conta de que a decisão tomada no carro, quando ainda estava preso às ferragens, foi real e que havia perdido um membro.

Luo o segurou firme em seus braços, acolhendo seu choro e garantindo que ele não passaria por aquilo sozinho e, apesar dos meses difíceis, em que o artista sequer lutava para obter uma pequena melhora, ele não ficou só, pois mesmo que não tivesse total ciência, os amigos sempre estavam lá no hospital, buscando informações sobre seu estado de saúde e de meios de fazê-lo, ao menos, tentar dedicar-se um pouco para sair daquele leito.

Um PassoWhere stories live. Discover now