Parte 7

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Vestimos nossas roupas com bastante pressa e corremos de volta à sala da administração, onde sabíamos que existia uma tomada funcionando. Não queríamos perder tempo procurando outra pelos corredores. Pensei que a luz acabaria em algum momento, como se estivéssemos num desenho animado em que os personagens nunca conseguiam sair de determinado lugar,mas não foi o que aconteceu.

Meu celular finalmente tomou carga suficiente para iniciar.

— O que faremos? Pra onde ligamos? — Meu nervosismo mal permitia que eu mantivesse o celular em mãos. Não acreditei em mim mesma; aquele tempo todo e não havia pensado em ninguém para quem pudesse ligar.

— Vou acionar o meu pai. Ele é policial aposentado, vai saber o que fazer. Tudo bem? —josh pegou o aparelho das minhas mãos.

— Sim, vá depressa!

Ele tentou várias vezes ligar para o celular de seu pai, porém chamava e ninguém atendia.

Josh, logo, começou a digitar vários números: o celular da mãe, o telefone fixo da casa deles, porém nada aconteceu. A minha teoria de que nunca mais conseguiríamos sair do supermercado se tornava real a cada segundo.

— Ah, cacete! — O homem já estava segurando o celular com força, como se quisesse quebrá-lo ou fizesse o maior esforço do mundo para não jogá-lo contra a parede.

Decidi tomar o aparelho de volta para mim. Josh não pestanejou, ficou me olhando enquanto eu tentava me lembrar o número da polícia. Digitei o 1, o 9, mas o próximo me deu branco.

— Qual é...

— Zero, Any Gabrielly— Josh me interrompeu com certa grosseria. — Pelo amor de Deus, 190.

Fiquei olhando para ele com indignação. Ninguém falava comigo daquele jeito idiota. Bom, a não ser a minha chefe. Josh percebeu que eu não tinha ficado nada satisfeita.

— Desculpa. — Deu de ombros como se lamentasse profundamente. — Só estou nervoso e me perguntando o que seria de você se estivesse aqui sozinha. Você não pode ser tão avoada assim, Any.

— Você disse que gostava que eu fosse assim — repliquei em um murmúrio, bastante irritada. Diante do silêncio dele, resolvi acabar logo com aquilo.

Eu sabia que Josh tinha falado superbem dos meus modos de lidar com a vida apenas para transar comigo. O imbecil nem me conhecia, afinal. Os elogios, os carinhos, todo aquele clima bom que ele montou foi com apenas um objetivo. Sinceramente, não tinha ideia de por que os homens ainda se davam ao trabalho de criar armadilhas, como se as mulheres fossem presas.

Eu não havia caído na dele, apenas atendido ao meu desejo e, em resposta, tive um momento intenso de prazer. Que, pelo visto, só havia sido um simples instante perdido, algo que não se repetiria. Tudo bem. Nada novo sob o sol. Eu estava acostumada a lidar com perdas.

Terminei de digitar o número da polícia e logo fui atendida por uma mulher. Informei o nosso problema em um timbre sério, dando o máximo de informações que o meu nervosismo permitiu oferecer. Ela fez de tudo para me acalmar e avisou que eu deveria ligar para os bombeiros, pois aquele não era um caso de polícia.

Ainda nervosa, desliguei e disquei 193, número que a mulher informou para que eu ligasse, e repeti todas as informações. Pronto. Problema resolvido. Assim que tirei o celular da orelha, olhei para Josh. Ele estava observando o horizonte da sala da administração.

— Agora, é só esperar. Os bombeiros vêm aí — informei seriamente e o deixei sozinho lá, com o meu celular ainda ligado na tomada.

Fui ao banheiro, não antes de pegar um pacote de lenços umedecidos na área de perfumaria.

Eu estava toda melecada de óleo, e a situação não melhorava entre as minhas pernas. Tudo me incomodava, principalmente depois que Josh foi um grosso comigo. Eu ainda podia sentir o rastro de suas mãos e o espaço, naquele momento vazio, que o seu pênis maravilhoso tinha ocupado. Não poderia dizer que estava arrependida. Seria mentira. Sempre fui do tipo que agia sem arrependimentos e jamais passava vontade.

Fiquei pelada, peguei os lenços e comecei a passar pelo meu corpo a fim de me tornar um pouco mais apresentável quando os bombeiros chegassem. Vestir de novo as roupas sujas, e ainda um pouco úmidas, foi um martírio e tanto, mas eu estava feliz porque em breve estaria em casa. Com certeza não voltaria ao escritório para terminar o maldito relatório, Mirna que se explodisse. Nada me faria não deitar na minha cama depois de um banho relaxante e da tão sonhada caneca de café.

Quanto ao Josh... Pouco poderia ser feito.Retornei aos edredons porque me lembrei que havíamos deixado uma grande bagunça para trás. Entretanto, o meu companheiro de supermercado já tinha deixado tudo organizado, e terminava apenas de colocar o que utilizamos dentro do carrinho de metal.

— Você não deixou a camisinha usada aí dentro, deixou? — Josh me olhou como se eu fosse louca por ter perguntado aquilo.

— Claro que não! — Riu, porém não parecia sentir muita graça. — Recolhi o pacote de preservativo. Ninguém precisa saber sobre essa parte da nossa noite.— É... Ninguém precisa.

Ele ficou em silêncio, apenas me olhando. Senti que iria se aproximar, então dei um passo para trás e perguntei:

— Significa que você roubou um pacote de camisinhas?

— Não. Quero dizer, acho que sim. Você vai me denunciar à polícia? — Josh colocou as mãos no bolso. Sua seriedade estava me irritando profundamente.

— Claro que não, não sou hipócrita. — Cruzei meus braços para frente, na defensiva. —Acabei de roubar um pacote de lenços umedecidos.

Era estranho demais observar o Josh e perceber que a conexão que tínhamos criado havia se rompido. Eu me sentia um tanto incompleta sem aquilo. Não fazia ideia de como podia sentir falta de uma coisa que durou apenas um instante.

— É por isso que você está exalando cheirinho de bebê... — ele sussurrou e se aproximou devagar. Daquela vez, não recuei. Fiquei quieta para ver aonde Josh chegaria. — O que é isso na sua mão?

— Um pacote de café. Não saio daqui sem isso. — Tudo bem deixar o supermercado sem dignidade, mas sem café... Não mesmo.

Ele riu e segurou os meus ombros com as mãos grandes, apertando-os. Um arrepio intenso me fez fechar os olhos. Eu estava pronta para me atirar em seus braços quando ouvimos as sirenes. Abri os olhos.

— Foi bom te conhecer, Any— ele falou em tom de adeus.

Fiz uma careta tão grande que não sei como Josh não saiu correndo.

— Foi bom te conhecer, também — minha voz saiu rígida.

Josh se inclinou e encostou os nossos lábios com bastante ternura. Pensei em não corresponder aquele beijo, afinal, o idiota estava se despedindo na maior cara dura, deixando claro que não nos veríamos de novo. Os sentimentos que me invadiram foram loucos demais para suportar. Era um misto de tristeza, saudade e vontade de gritar bem alto. A única coisa que eu podia fazer era beijá-lo de volta, e foi o que fiz.

O beijo foi tão suave, tão sutil e delicado que me deixou absolutamente derretida. Foi diferente de qualquer beijo que trocamos sobre o edredom. Havia intensidade, porém também tinha calmaria — e isso fez toda diferença. As sirenes ficaram cada vez mais próximas.

Paramos de nos beijar quando escutamos os portões de metal se abrirem.

— Acho que temos que ir — murmurei, olhando-o de perto.

Josh segurou a minha mão com força.

— Até um dia, Any.

Sua frase me deixou arrasada. Era aquilo. Não haveria troca de números de telefone ou qualquer outra informação. Não haveria mais nada entre nós além de uma louca noite no supermercado.

— Até um dia, Josh.

Caminhamos lado a lado rumo à nossa — porcaria de — liberdade.

penúltimo...

ATF- Uma Louca Noite No Supermercado✓Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang