Capítulo 70

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29 anos atrás
Anely James Barkoff
Mansão Barkoff | Moscou, Rússia
21 de novembro de 1989, 15:52

— Doze anos, da para acreditar? — mamãe fala entre suspiros — Há doze anos você estava aqui dentro — balbucia enquanto passa às duas mãos na barriga — Era tão agitada — ela ri. Traz sua mão até meu queixo e faz um biquinho — Desde meu ventre eu já sabia que você seria luz meu amor!

— Isso porque sou tão branca que se reflete em mim? — arqueio uma das sobrancelhas para ela, que simplesmente gargalha do que acabo de dizer.

— Quando digo luz, não digo no literal meu amor — ela ri mais alto ainda. Balanço a cabeça de um lado a outro enquanto seguro um sorriso.

— Podemos terminar isso logo? Quero voltar as aulas de piano. Não esquece que a senhora me prometeu que ia me ensinar a tocar aquela música da Celine Dion! — pisco um par de vezes para mamãe que com um sorriso lindo em seu rosto assente.

 Estamos no quintal observando todos os lençóis limpos que estendemos. É uma tradição das mulheres da nossa família. No dia do nosso aniversário lavamos todos os nossos lençóis e os estendemos no quintal. Segundo mamãe, é pra jogar fora tudo de ruim e abrir alas para coisas boas que estão por vir graças a nova idade. Eu particularmente gosto dessa tradição. Mamãe sempre participa comigo. Sempre me ajuda a lavar e a estender.

 Para mim essa tradição é como se fosse um processo de renovação. Enquanto se esfrega o lençol, se deixa partir com a sujeira todas as frustrações. Tristezas e arrependimentos que nossos lençóis testemunharam. De uma forma ou de outra, é na cama antes de dormir que temos nossos mais profundos pensamentos e é lá que choramos muitas vezes sozinhos com apenas os lençóis como companhia.

 Olho para ela que é bem mais alta que eu. Tem um lenço quadriculado em vermelho e branco em seus cabelos tão loiros que chegam a ser brancos. Seu sorriso pode iluminar o mundo. Ela enfia a mão em seu avental, tira de lá uma caixinha vermelha de veludo.

— Mandei fazer especialmente para você meu limãozinho — mamãe diz baixinho enquanto abre a caixinha para mim e me mostra o colar de ouro reluzente com um pequeno limão-siciliano de ouro maciço.

— Eu amei! — falo empolgada. Em um pulo abraço minha mãe. Ela me abraça de volta com carinho. Seu perfume de uva invade meu nariz.

Anely James Jackson
Studio Stone, Manhattan
21 de novembro de 2020, 10:52

— E por que a gente nunca lavou e estendeu os nossos lençóis? — Leo pergunta muito indignado por essa tradição ser apenas para as mulheres da família.

— E por que só as mulheres da família? — Prince faz uma careta engraçada. Olho para Michael que está com os braços cruzados e me olhando com a mesma carinha que Prince.

 Estamos no chão do meu camarim. Estou contando a eles sobre esse meu aniversário em especial porque ele foi muito tranquilo e quando eu era mais novinha, momentos de tranquilidade eram raros.

— É por quê? — Michael pergunta com uma carinha de quem está se sentindo muito injustiçado e excluído.

— Podemos modificar um pouco a tradição, então! — falo calmamente. As meninas se entreolham e seguram um sorriso — Antes eram apenas as mulheres porque minha família sempre foi maioritariamente feminina!

— Ainda não entendi porque lavar com as mãos? Não dá muito trabalho lavar todos os lençóis? — Amber questiona.

— Com as mãos é melhor ainda. É como se o ato de lavar os lençóis com as próprias mãos pudesse jogar fora o antigo e, ao mesmo tempo, dar boas-vindas ao novo! — explico a eles. Agora, sim, tenho certeza que entenderam — Querem ajudar a mamãe a lavar os lençóis? — em questão de segundos o camarim que estava silencioso vira uma enorme bagunça. Minhas crianças estão gritando incessantemente "sim".

Rancho Neverland, Los Olivos
19:52

 Sentados na grama encaramos todos os lençóis que estendemos no quintal atrás da casa. Lavamos até mesmo os que estavam limpos no closet. Foi uma ótima experiência em família. Temos que fazer mais dessas coisas tão simples juntos.

— Devíamos plantar arvores naquele terreno que a mamãe comprou! — Ariel fala enquanto se deita ao meu lado. Michael que estava deitado na grama, se senta e olha fixamente para o chão.

— Sim, devíamos mesmo! — fala entre sussurros. Michael olha para mim e arqueia uma das sobrancelhas — O que acha? Está livre amanhã?

— Dou um jeito! — é só falar com Pietra e pronto. Tudo certinho — Bora? — pergunto a ele que assente decidido.

— Então, amanhã vamos plantar arvores. Vou avisar a Judite para preparar tudo! — ele tira o celular do bolso e já começa a colocar a mão na massa.

NOTICIASFamília James-Jackson se reúne em um enorme terreno para plantar arvores de todas as espécies imagináveis. Esse terreno era um parque que foi desmatado pela prefeitura há alguns anos. Anely James comprou o terreno para a construção de sua empresa, mas, parece que os planos foram mudados. Segundo Michael, a intenção é que seja feita uma restauração para que volte a ser o parque que foi um dia. Michael também nos contou que esse não é totalmente um projeto dele e de Anely como a mídia está fazendo parecer, é um projeto de seus filhos e eles estão os apoiando completamente. — BNH

Parque San Diego
San Diego, Califórnia
23 de novembro de 2020, 16:52

 Já estamos no segundo dia de plantação de árvores e outras plantinhas. Estamos exaustos porque ontem plantamos muitos coqueiros e pelo amor de Deus, são tão pesados. Eu cavei buracos enormes e fundos, Michael e Léo plantavam. Enquanto isso, os menorezinhos plantavam as árvores mais finas e fáceis.

 Hoje estamos plantando algumas árvores frutíferas que são menorzinhas. Hoje estamos acompanhados da minha família e da família de Michael. Meu pai está fazendo várias coisas em simultâneo, e está dando atenção a todos. Ele é uma das pessoas mais incríveis que conheço, eu adoraria ter crescido com ele.

 Agora estou aqui, embaixo de uma das únicas árvores que ficou do desmatamento. Ao longe encaro minha família em peso se ajudando. Como eu sou sortuda. Ao longe meu pai olha para mim. Levanta sua mão e acena para mim. Com um sorriso bobo, eu aceno de volta para ele.

 Esse lugar é enorme. Aqui seria construído a minha empresa. Essa empresa vai ser de produtos naturais. Quero que tudo seja acessível e nada testado em animais. Queria começar esse projeto antes de o ano acabar, mas, será impossível. Estou com milhares de compromissos, não conseguirei dar atenção a isso.

 Sem contar que daqui quase uma semana, nós vamos para África Central e Ocidental a ideia é que possamos dar um pouco de felicidade a eles nesse mês de dezembro que é o mês de natal e claro continuar incentivando a filantropia nos nossos filhos. Cozinharei para centenas de famílias e entregaremos muitos brinquedos, computadores, celulares, comidas e dinheiro para as famílias. Tudo isso no mês de dezembro. Espero que dê para mudar nem que seja só um pouquinho da situação deles.

Altivez O ReinadoWhere stories live. Discover now