Para se enquadrar no padrão superprotetor de seu pai, Manuela sempre foi a filha perfeita e a aluna modelo. Porém, agora com 23 anos, cansou de sustentar essa imagem que esperam dela, enquanto vê seus amigos fazendo tudo o que tem vontade.
A oportun...
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"Vá em frente e chore, garotinha. Ninguém faz isso como você. Eu sei o quanto isso importa para você, eu sei que você tem problemas com o seu pai." Daddy Issues - The Neighbourhood
— Você tem certeza de que está tudo certo?
Pergunto com o celular preso entre o rosto e o ombro, enquanto ando de um lado para o outro em meu quarto. Não acredito na bagunça que fiz tentando organizar uma simples mala. Parecia até que eu ficaria meses fora, quando, na verdade, seriam apenas duas semanas.
Duas semanas. Foi só isso que minhas reservas conseguiram arcar dessa maluquice que decidi fazer. Mas, também, por que diabos a DownUnder tinha que se hospedar em hotéis tão caros assim?
— Manuela do céu, fica tranquila! Já está tudo certo, suas reservas estão seguindo o mesmo cronograma que o desses gatos roqueiros que você ama. Já está tudo no seu e-mail, qualquer problema que você tiver é só me ligar.
A voz do Fábio tenta me tranquilizar, mas tudo o que eu consigo pensar é que estou fazendo a maior maluquice da minha vida.
Onde eu estava com a cabeça?
— Acho que não pensei direito nisso, dá tempo de cancelar as reservas? — Solto um casaco em cima da minha cama e abraço meu corpo, mordendo a ponta do dedo de ansiedade.
— Não, Manuela! — Fábio retruca e, mesmo por telefone, sei que ele está revirando os olhos. — Esse é o seu momento, a sua chance perfeita para realizar um sonho. Você está enchendo o meu saco há meses, falando que não faz nada de divertido na vida, e, quando finalmente fará algo, quer desistir?
— E se acontecer alguma coisa? E se eu me machucar? Ou então conhecer alguém, achar que é uma pessoa legal e, de repente, acordar em uma cabana esquisita, com ricos pagando para me torturar e arrancar meus órgãos?
— Meu. Deus. Do. Céu! O seu caso é muito pior do que eu imaginava. Você precisa, urgentemente, dessa viagem.
— Eu estou falando sério, Fábio! Esse tipo de coisa acontece com mais frequência do que a gente imagina.
— Você está vendo muito filme de terror ruim, isso sim! — Consigo escutar uma movimentação do outro lado da linha, ao mesmo tempo em que a voz dele fica baixa. — Eu coloquei meu emprego em risco. Se alguém descobrir que eu puxei informações confidenciais do sistema para que uma doida perseguisse clientes caríssimos pelo país, eu estou completamente lascado.
— Eu sei, eu sei — suspiro me dando por vencida. — E eu sou muito grata por isso, tá bom? Eu realmente sou. Mas é assustador.
Me sento na cama e olho para a minha bagunça. Dentro do meu armário, que está com a porta aberta, consigo ver várias fotos dos gatos da DownUnder, banda de pop punk que eu sou apaixonada desde o meu Ensino Fundamental. Sempre que me via sozinha, frustrada ou sobrecarregada por ser a filha perfeita, eu dava play nas músicas deles, em meu mp3 prateado, colocava meu fone e aumentava o volume no máximo.
