CAMPO DE PAPOULAS • MINI CONTO

CAMPO DE PAPOULAS

       Estávamos no culto da manhã quando o pastor me chama para dizer algumas palavras. Mas não eram palavras comuns, eram aquelas que poderiam mudar a vida de alguém. Era o meu testemunho.
— Gostaria de chamar nossa irmã Laura. Ela tem algo para compartilhar com a igreja. — Disse o pastor com um sorriso convidativo.

Após me chamar, senti um frio na barriga. Todos olhavam para mim enquanto ia em direção ao púlpito. Nunca falei para tanta gente em toda a minha vida! Mas eu sabia que a vergonha não poderia ser maior que o desejo de falar sobre Jesus.
Respirei fundo e pedia a Deus para ser guiada em cada palavra. Que não fosse uma simples garota falando, e sim Ele.
— Graça e paz, irmãos! — Disse com a voz um pouco trêmula. Nunca pensei que diria uma frase tão "crente" como essa. Foi a primeira vez que declarei aquilo. — Fui desafiada a contar um pouco da minha experiência com Deus.
Minha vida era sem forma e vazia. Sempre foi assim. Eu que nunca havia percebido. — Uma lágrima discreta escorreu em meu rosto. — Me sentia só como nunca antes. Até que um dia, em plena sexta – feira, fui convidada para estar no acampamento de jovens. Eu pensei em recusar, mas talvez aquela fosse a minha única chance.

O convite foi feito em cima da hora para os olhos humanos, mas na hora exata para os de Deus. Fiz a oração mais sincera de todas. Enquanto chorava sem pausa, disse: "Deus, essa é a última chance que dou. Eu não sei o que sou capaz de fazer após essa oração, mas de uma coisa tenho certeza: não aguento mais viver como estou vivendo. Você tem até amanhã para fazer algo ou darei adeus a todos que me cercam."

O sábado chegou. Pela manhã, fui cercada por jovens empolgados. Todos com suas bíblias e sorriso nos lábios. Eu não tinha nada daquilo, apenas o desejo de sair correndo. Pensei: "O que eu estou fazendo aqui?".

Não posso negar que fui surpreendida do início ao fim daquele dia. Mas ainda faltava algo.

O horário de nos recolhermos para os dormitórios chegou. Meu coração palpitava por mais que simples emoções e arrepios no louvor. Eu ansiava por algo, só não sabia o que. Me isolei e me sentei no gramado que estava úmido pelo sereno. Olhei para aquele céu estrelado e fechei meus olhos. Até que uma luz veio sobre mim.

— És minha filha amada em que acho o Meu prazer. — Ele olhava para mim com um olhar que queimava de amor. Um amor que jamais havia sentido antes. Estendeu Sua destra em minha direção. Fiquei sem saber o que fazer. Ele continuou:
— Venha Comigo! — Aquelas palavras foram ditas com muita confiança. Não tinha como não aceitar. Peguei em Suas mãos e me deixei ser conduzida por Ele.

Um lindo campo de papoulas vermelhas estava à minha frente. Uma paz inexplicável envolvia o meu corpo. Eu me sentia como se estivesse flutuando de tão leve. O olhar dEle era tão penetrante que não conseguia ver mais nada além disso. Seus olhos diziam tudo o que eu precisava. Ele me abraçou. Fazia tempo que não era abraçada com tamanha verdade. Seu cheiro era como de um perfume doce.
— Eu te perdoo! — Naquele exato momento meus olhos se encheram de lágrimas e senti toda sujeira que havia em mim ser levada embora. — Eu te amo e nada que você faça poderá mudar isso. — Ele prosseguiu.

Em seguida caminhamos por aquele campo com nossas mãos entrelaçadas. Elas se encaixavam perfeitamente! Fomos feitos um para o outro. Meu coração não parava de palpitar toda vez que Ele me olhava.

Igreja, se eu disser, mesmo que com muita empolgação, que uma comida estava deliciosa...vocês jamais saberiam o sabor. Se descrevesse um lindo pôr-do-sol, vocês jamais compreenderiam a sensação de estar lá. Assim é o relacionamento com Deus: uma experiência única e pessoal.

~ Fim ~