O som estridente do sino na porta da loja de penhores a fez levantar o olhar para ver quem entrava. Selina sorriu quando viu a imagem de sua tia Beth — que veio buscar seus pais para procurar uma casa nova, com aluguel mais barato e onde pudessem viver sem se preocupar tanto com as contas — e deixou de lado o lenço umedecido com água que usava para limpar o balcão, sorriso foi retribuído pela mulher de lábios grossos e cabelos crespos.
— Como está a minha sobrinha favorita? — perguntou se aproximando.
— Eu sou sua única sobrinha, tia Beth — Selina saiu de trás do móvel de madeira escura para abraçá-la — Pensei que viesse mais tarde.
O perfume da tia Beth era doce e memorável, jasmim, pois ela adorava a flor branca.
— Eu bem que gostaria de ter dormido um pouco mais, mas seu tio Robert não suporta o trânsito desta cidade, então saímos assim que o sol nasceu — ela reclamou — Onde estão seus pais? Por acaso só você trabalha nesta casa?
Selina suspirou, segurando a vontade de responder à última pergunta dela. Soltou-se do abraço e abriu a porta atrás do balcão, que dava acesso à casa pequena onde morava com seus pais e o irmão mais novo.
— Eles estão em casa.
— Bem, então vou até lá apressá-los, seu tio está nos esperando no carro!
A mulher corpulenta se afundou no corredor, deixando Selina para trás, com um bico nos lábios. Outra vez o som do sino tocando a fez virar-se para olhar a porta, pensou que fosse o tio Robert, mas uma pessoa desconhecida adentrou a loja.
— Ainda não abrimos — Selina se aproximou e notou ser uma senhora, ela usava um capuz verde musgo que escondia parte de seu rosto.
— Eu quero penhorar um objeto — a voz rouca fez um arrepio percorrer a coluna vertebral de Selina.
— Se a senhora voltar mais tarde...
— Mas já estou aqui.
Selina suspirou, a mulher não parecia estar disposta a voltar mais tarde.
— Okay... — ela assentiu e voltou para atrás do balcão — Qual objeto a senhora quer penhorar?
A velha aproximou-se do balcão e tirou o objeto de dentro de uma bolsa de couro escuro surrada, era um livro. Selina nunca viu nada igual, a capa dura parecia ter saído de um conto de fadas, com o desenho de uma porta com relevo em 3D e acima dela havia um coração no centro da capa. A mulher o colocou sobre o balcão e Selina deu uma olhada.
— Quanto você acha que pode pagar por um livro mágico? — perguntou a mulher.
— Nós não costumamos empenhorar livros... — ela respondeu, ainda com os olhos grudados no objeto, parecia chamar por ela — Então eu não posso pagar muito... — voltou a encará-la — A senhora disse "livro mágico"?
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Era Uma Vez
FantasySelina Blake nunca teve uma vida fácil, em qualquer sentido. Seu maior sonho era ser escritora, mas a condição financeira de sua família não a permitia realizá-lo. Apesar de estar sempre presa em suas dificuldades e inseguranças, Selina era muito cr...