Capítulo 4

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O balançar da carruagem causado pelo bater dos cascos dos cavalos no chão nevado ecoavam por duas mentes bastantes pensativas. Estavam dentro de uma espécie de “carruagem-cabana”, fechada com formato triangular no topo e revestida por madeira.

— Os corpos foram encontrados por um caçador independente.

Os olhos verdes do príncipe se dirigiram ao homem a sua frente, que terminava de explicar sobre a denúncia. Por um tempo, somente processava o ocorrido enquanto analisava os detalhes metálicos da armadura prata com desenhos e símbolos dourados que o parceiro vestia. Dentre eles, o mais notável estava no peitoral: a face de leão com uma coroa de louros na cabeça, a insígnia do Centro Investigativo e Criminalista de Hutbus Island.

Soprou o ar frio da boca, liberando uma sútil fumaça. Ajeitou seus cabelos lisos e macios numa cor viva de vermelho, os tirando de cima do ombro e os jogando para as costas.

— Não foi somente uma avalanche? — pondera.

— Um cadáver estava dilacerado — o homem loiro que o acompanhava retirou um papel de dentro da armadura, mostrando ao príncipe um desenho de estranho lagarto quadrúpede. A imagem o faz ter um arrepio na espinha. — Os animais que causaram isso é o que mais chama a atenção.

Manteve seus olhos incrivelmente dourados no ruivo, que somente guardou o esboço em seu casaco preto de tecido fino e da melhor qualidade que se poderia encontrar. A inexpressividade no rosto dele, para quem o conhece, revelava mais sentimentos que ele gostaria.

— Mostrei também para a princesa, ela disse que não havia registros da criatura em sua corporação. Mas disse que você poderia saber.

Não houve respostas quanto a isso, foram guiados em completo silêncio para o local de denúncia.

Quando os cavalos pararam de trotar, o príncipe não se demorou e logo se levantou, passando pela cortina vermelha do fundo da carroça e pulando para o chão de neve. Quase que como sua sombra, seu aliado fez o mesmo.

Ambos caminharam juntos naquele meado de tarde. Compartilhavam coisas em comum, a aparência de uns 25 anos, a altura e o porte físico musculoso, embora com as vestes atuais não deixem a mostra todo o seu potencial corporal. A paixão por investigação criminal e proteger o reino os uniam como fiéis aliados, ou até mais, como amigos. Pareciam uma dupla de guerreiros lendários que juntos detonavam seus inimigos, andando com autoridade e postura.

Checaram atentamente os arredores, segurando o cabo de suas espadas sem retirá-las nas costas, com lâminas escondidas no porta-espadas. Estariam prontos para qualquer ameaça que viesse a surgir. 

Chegaram ao local onde os corpos estavam, já visualizaram um mais exposto – possivelmente o que o caçador encontrou – e alguns outros soterrados com braços ou pernas para o lado de fora da neve que tentavam omiti-los. Saíram da posição de alerta e, com suas luvas de frio, desenterraram todos por completo, encontrando suas lanças e verificando todos os graves ferimentos que possuíam. No topo da cabeça de cada um, uma enorme cratera que pareciam terem sido causadas por garras. O corpo deles estavam pálidos, talvez pelo frio, mas o príncipe tinha outro palpite. Abriram também a pálpebra deles, observando que somente o branco dos olhos sobraram.

— Estão exatamente como os dois cadáveres que chegaram na CIC — comenta o príncipe. — E conforme o estado… tenho certeza absoluta que o incidente não aconteceu hoje.

Além disso, também encontra ossos com formatos estranhos, que poderiam pertencer ou não aos caçadores.

— Pakeos — ao ser chamado, imediatamente se levanta. — Vem ver isso.

Vai até seu aliado, o qual arrasta um pesado e congelado réptil. Sua aparência não o enganava, sem dúvidas se tratava do que estava pensando.

— É exatamente o que foi mostrado no esboço — encara a alteza.

Hutbus Island: Profecias Do ApocalipseWhere stories live. Discover now