Capítulo 12

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No mundo sombrio, frente a um castelo em ruínas, uma grande gritaria toma conta. Vinha de uma pessoa só, por sinal, as outras apenas escutam paralisadas.

O local em específico é o Reino das Trevas, dimensão onde Holter está aprisionado, e o mesmo reclama ferozmente com os dois servos à sua frente. Ambos estão sem as máscaras de leão, pois foram despedaçadas pelo lorde ao qual servem. Um é homem e alto, possui um cabelo ajustado e castanho, enquanto a outra é uma mulher negra de cabelos cacheados, com uma chamativa heterocromia: o olho direito é castanho, o esquerdo é um branco brilhante.

— Será possível que não posso confiar em vocês?!! — o homem ruivo continua com seus sermões. — Proud, você só precisava matar Spency! Só isso! E chegou tão perto… que droga! — expõe toda a fúria, acumulando energia negra em suas mãos e assustando os dois, porém despejando tal em uma montanha que desaba ao som de um tremor. Mais uma estrutura de rocha que vai ao chão. — Era só finalizar.

— Klous apareceu na hora, Lorde — justifica, respirando fundo ao falar do soldado.

— Aquele Judhtin maldito mal se aguenta em pé! — bate seu cajado no chão, acumulando nuvens escuras entre a lua vermelha. — Matasse ele também! — o grito é suficiente para causar trovões.

As atitudes furiosas de Holter causam desconfortos em seus servos, que engolem em seco. Já o viram irritado uma vez, porém essa é a primeira que ele está tão violento. Até mesmo Gardus, a monstruosa ciratura transmorfo, escondia-se próximo às ruínas do castelo como um cachorrinho, mesmo que a bronca não seja destinada a ele.

Proud apenas pensou, pois claro, não podia externalizar algo assim, mas se Klous fosse fraco, o próprio Holter o mataria em 1224, quando o soldado auxiliou o príncipe Pakeos na derrota das Trevas. No entanto, o súdito do Lorde Marx diz isso de maneira mais suave.

— Klous é poderoso, meu Lorde. Ainda doente, possui grande potencial.

— Ora, não me diga asnerias! E você, Yrian, não podia ter ajudado?

— M-Mas Lorde… — a voz dela sai falhada.

— Tinha que ser uma Glakin mesmo. Inútil por natureza.

As palavras ferem o ego dela, causando um desconforto e mágoa dolorosa no peito. Desapontar seu amado mestre é a última coisa que ela quer.

Por mais que assustado, dentre todos os outros servos, Proud é o que aparenta estar mais tranquilo e sereno, seja lá como consegue. Bom, ele dilacerou o último herdeiro de Zulter, o garoto da profecia, não é pouca coisa.

Desapontado com seus soldados, analisa um livro que havia guardado dentro de sua túnica. É o livro mágico de Júdith, o qual um “boneco” roubou durante a operação de Harty.

— Bom. Perdi uma serva leal como Harty Ruth — lamenta, virando para trás e encarando o corpo da mulher deitada sobre as rochas musgosas, ao lado da marionete responsável pela captura do livro. — Obrigado por tudo, você lutou com bravura desde 1214, quando entrou para meu exército — se volta para Yrian. — Você.

— Senhor! — fica em continência, engolindo em seco com uma armagura se formando como um tornado dentro dela.

— Leve os dois corpos para os terradorcus se alimentarem.

— Sim, meu Lorde!

De prontidão, a jovem negra encaminha seus passos para a conduzir até os corpos, segurando cada um pelo pulso e arrastando montanha a baixo.

Agora, Holter e Proud estão frente a frente.

— Você tem uma importância inimaginável para meu exército — afirma para o loiro. — Mais que Harty tinha.

— Tenho consciência disso.

— Estamos mais fracos e menos numerosos que o de costume, porém acredito em sua capacidade para nos liderar à glória. A perda de uma integrante do exército deve piorar nossa situação.

— Irei vencer as adversidades, o senhor sabe disso — afirma com convicção.

— Eu acho bom. Por isso, mate Spency. Não assuste, não torture, não ataque. Mate ele — enfatiza. — E abra espaço para Gardus sugar mais Auras. Com um exército ainda mais reduzido, não podemos nos dar o luxo de aguardar demais. Embora estejamos com o livro em mãos — analisa o livro profético —, o que já é suficientemente bom por não estar com a prostituta da Júdith, seguimos em desvantagem.

Proud apenas assente, encarando o monstro que apenas ouvia atentamente a conversa. Por um momento, baixa a cabeça, como se lamentasse algo. Claro, não podia transparecer, pois novamente terá que voltar ao ofício, cujo dever é guiar as Trevas em campo de batalha enquanto Holter não pode sair da prisão dimensional. Já está até com problemas de coluna de tanto carregar o exército nas costas desde que assumia a liderança em 1225.

De dentro do castelo em ruínas, aparece um homem trajado tradicionalmente como um adepto de Holter, e o Lorde se dirige até ele.

— E você, faça sua parte — sussurra para o servo. — É o único Marx com quem posso contar, o que é um declínio. Siga fingindo ser contra nós para enganar nossos verdadeiros inimigos.

A pessoa em questão assente com a cabeça, disposta a continuar com o plano. 

— Ótimo. Preciso mesmo que conclua seu propósito, só assim poderei me livrar desse Judhtin e daquela Glakin que tanto me enojam… — disfarçando, observa Proud.

Então segue andando para dentro do castelo destruído, sumindo do campo de visão.

Hutbus Island: Profecias Do ApocalipseWhere stories live. Discover now