Por do sol

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— Vamos, mãe, por favor?

Junior, enquanto sentado na cadeira giratória do escritório de sua mãe, insistia com uma carinha irrecusável para que fossem juntos ver o pôr do Sol na praia, porém Sandra estava com a agenda cheia para aceitar o convite do filho.

Eles sempre faziam isso juntos e Sandra amava passar esses momentos com Junior, sentia-se feliz por tudo que conquistou na vida e principalmente por ter ganho o privilégio de adotar o menino quando tinha apenas 5 anos de idade. Hoje, com seus 16 anos, só lhe dava orgulho!

Muito carinhoso, Junior era agarrado à mãe. Tinha conhecimento de que era adotado e, inclusive, disse ser o fato um mero detalhe em uma conversa na qual Sandra lhe contou toda a história.

— Mãe, a senhora lutou por mim, me adotou, me deu e dá amor, me faz sentir verdadeiramente seu filho. Podemos até não ter o mesmo sangue, mas temos o mesmo coração, pois dele também passa o amor que sinto pela senhora. Sou grato por ter sido você a me tirar daquele orfanato. Tenho orgulho de ser seu filho.

— Não sabe o quanto fico feliz em ouvir isso de você, amor! O medo de me rejeitar quando entrasse na adolescência era grande demais, essa rebeldia de hoje em dia... Jogar na minha cara que não sou sua mãe de verdade, que sairia de casa para ir embora e encontrar seus verdadeiros pais... Essa possibilidade me assusta.

— Você é minha verdadeira mãe, tu não me abandonou em frente à porta de um orfanato quase sem vida. Isso, para mim, é injustificável! Ela só fez me parir.

Sandra se emocionou ao recordar deste momento. Estava tensa e com medo de contar a verdade, mesmo que Junior fosse um menino muito inteligente e de boas energias, que lutava sempre pela causa do bem. O rapaz ficou extremamente feliz por ter sido adotado por ela, dizendo a todos que lhe perguntavam que Sandra era sua família e isso bastava.

— Mãeeeee, eu ainda estou aqui, vamos ou não? – repetiu Junior, resgatando a mãe de suas lembranças.

Sandra encarou o filho e depois desviou o olhar para a mesa de seu escritório. Era final de ano e sua clínica ficava lotada de bichos de 4 patinhas, sempre saía tarde do trabalho. Mas Junior estava ali, na sua frente, insistindo para que fosse ver o espetáculo com ela... Não poderia recusar.

— Está bem, iremos. Mas você sabe que não posso ir sempre nessa época.

— Aee, velhota, eu trago suas coisas e daqui a gente vai! 

— Olha o respeito, menino! Aqui só tem número, estou com tudo no lugar.

E não deixava de ser verdade. Com seus 38 anos, Sandra aparentava ser uma jovem de vinte e poucos. Sempre cuidava da pele e sempre estava na academia, sua alimentação era regrada, bebia bastante água. Era uma morena alta, cabelos cacheados, olhos castanhos-claros... Arrancava suspiros por onde passava! Principalmente de uma certa jovem que levava Janete, sua cadela, na clínica duas vezes no mês com a desculpa de que a cachorrinha não estava bem ou que precisava de banho e tosa. A maior intenção da moça, porém, era ver a Dra. Sandra, nem que fosse por alguns minutos.

— Isso é verdade, gostosona ainda! Não sei porque está solteira, sendo que chove homem e mulher na horta.

— Já falamos sobre isso, filho. É complexo para quem vive disso ou necessita para manter relações.

— Mãe, eu acredito que o amor pode ser maior que os desejos da carne. Veja os exemplos de pessoas impossibilitadas que, mesmo assim, tem alguém do lado, amando independente da condição, alguém cuidando sem querer nada em troca, apenas o amor que existe na relação.

— Esses casos são diferentes, amor... Eu sou uma mulher inteira, porém incapaz de satisfazer alguém com sexo.

— Mãe, suas desculpas já estão ficando passadas!

Atração Rara - Assexual (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora