Assexual arromantico

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Ana estava deitada em sua cama esperando o dia terminar de nascer. Há 5 anos, vivia com insônia e, todas as vezes que acordava de madrugada, não conseguia voltar a dormir. Por vezes, permanecia deitada na cama pensando no rumo que sua vida tomou e se questionando da besteira que fez. Outras vezes, levantava da cama e seguia para o quarto de hóspedes que transformou em um pequeno ateliê de arte. Suas criações estavam penduradas pelo quarto, havia quadros por todas as partes daquele cômodo. Sua arte era abstrata, viva, porém com os anos não conseguia expressar o pouco de sentimento que existiu uma única vez em sua vida.

Decidiu levantar-se. Foi até a cortina, fechando-a e deixando apenas uma fresta aberta em que passava claridade. Respirou fundo e caminhou até a porta do quarto para sair. Seus olhos vacilaram para a cama, vendo seu marido dormindo calmamente, fazendo-a ouvir seu ronco fraco. Encarou-lhe por alguns minutos e se perguntou o que estava fazendo da própria vida.

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Ana era uma jovem mulher de 25 anos, independente, dona do seu próprio trabalho. Sua orientação sexual era de uma mulher assexual arromântica, não sentia atração sexual e nem atração romântica por quem se envolvia.

Apenas uma vez Ana sentiu atração romântica por seu parceiro quando tinha 20 anos. Na verdade, era pouca a atração, porém conseguiu sentir algo diferente do afeto dos amigos e da família. Ele também era um jovem da comunidade que, diferente de Ana, sentia atração sexual, mas não tinha vontade de ser correspondido, sendo assim Litossexual. Desta maneira, o relacionamento foi dando certo. Existia cuidado e preocupação, mesmo que os amigos achassem estranha uma relação em que não tinham o sexo e nem o romantismo. Quando fizeram um ano de namoro, porém, o rapaz sofreu um acidente de carro, ficando em coma por meses e, depois, veio a falecer. Para a jovem foi triste, mas não a ponto de sofrer sentindo a perda, pois não havia um laço forte entre os dois.

Ana nunca mais sentiu vontade de se relacionar novamente, até que se envolveu com Ricardo, seu marido, há dois anos. Um casamento de faixada, já que não sentia nada pelo rapaz. Era um bom amigo, mas se arrependeu de ter se unido a ele. Ricardo conhecia um pouco como Ana era e sabia que a jovem não nutria sentimentos por ele, mas, mesmo assim, fazia questão de manter um casamento de aparências.

O sexo entre eles era raro e só acontecia quando ele a procurava. A jovem era sex-neutra, indiferente ao ato. O fazia, mas não sentia nada. Porém, com o tempo notou que estava sentindo repulsa e passou a evitar o ato sexual, fugindo sempre das investidas de Ricardo.

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Depois que se retirou do quarto, coou café e seguiu para seu ateliê, sentiu uma grande necessidade de visualizar suas obras com cuidado, reparando em cada detalhe, cada cor que já usou, cada combinação que, aos seus olhos, parecia perfeita. Pegou um quadro dentro de uma caixa, estava empoeirado, mas conseguiu ver os conjuntos de cores vivas que nele existia. Após limpá-lo, notou que no canto superior havia sua assinatura, a data em que o fez e um nome, nomeando o quadro. Sorriu ao se lembrar do significado.

— Este terá o nome de Emoções Únicas. - disse para Lucas, seu namorado, que estava ao seu lado apreciando aquela arte acabada.

— Por que será esse nome? - perguntou curioso.

— Porque eu o fiz no mesmo dia que senti um pouco de atração romântica por você, esclarecendo meus sentimentos. Sabemos que para isso acontecer é raro... Neste quadro, expressei o que estava passando dentro de mim. - Ana falava orgulhosa.

— Ele está perfeito, lindo, são nítidas suas emoções! Fez uma bela obra, amor, parabéns. - Lucas terminou de falar abraçando a jovem, que aos poucos foi se acostumando com as demonstrações de carinho que o rapaz fazia.

Atração Rara - Assexual (concluído)Where stories live. Discover now