abundância

73 13 31
                                    

Devoradores de almas pintados de prata correm em minha mente, meu corpo, ainda um tanto desacordado, sentia o ardor de chicotadas brutas dadas pelas tuas palavras que vinham me agredir sem motivo aparente.

Partia ás 17 e voltava ás 20 trazendo consigo mais motivos para se pintar de prata e fazer meu corpo de tapete, passando os pés sujos em minha derme já arroxeada dos teus machucados.

Prometi ficar um dia mais, depois outro, um bocado de mais um, até me ver presa, encalhada nesse mar de insegurança, trancada em seu porto esperando todos os dias por um novo cuidado impossível e tentador.

Acreditar que sua mudança um dia seria possível me manteve tão presa em ti que perdi meu barco para o vasto mar. Sem amor e sem carinho perdi minha alma, passei a não ver, a não escutar, a não sentir.

Banhava corpos em formol para manter amores irreais vivos até ás 22. Vivi conservando paixões de outros e esqueci que já senti. Afinal, eu não vejo, eu não escuto, eu não sinto.

Anestesiada de sentimento não queria partir, mas se ficasse presa ali não passaria de outro dia e me afogaria no cais lotado d’agua. Deixei-lhe uma nota de partida e montei uma barca nova. Atravessei parte do mar sozinha, fui ajudada por novos barcos mas ainda não me apaixonei por amores de verão ou por sereias afinadas que tentavam me levar ao fundo.

Teu porto foi ficando para trás, longe de meus olhos, distante de mim e de minha calmaria. Mas ainda visivel se forçasse os olhos, sempre a espreita esperando que eu me enfraquecesse para depositar os devoradores em minha mente.

No final sempre volto á ti, a tuas malicias e a tuas palavras ríspidas. Sem sentir, sem ouvir e sem falar.

Yuqi não sente, yuqi não vê, yuqi não se move boiando no mar.

ABUNDÂNCIA ★ᅠ IDLEOnde histórias criam vida. Descubra agora