Prólogo

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"O corpo de uma jovem foi encontrado às margens do Tietê na última madrugada. É o quarto a ser achado nas mesmas condições neste mês. A polícia ainda não confirmou se estamos lidando com um novo serial killer, mas a população está assustada com a possibilidade."

A reportagem não terminava por aí, descrevia sobre o estado do corpo, a situação e a recorrência do crime. Tirei o olho da tela e encarei a mulher em frente a mim. Ela não era exatamente uma mulher, tampouco eu era um simples homem. Nós éramos algo a mais: a vampira mais forte que já existiu e o primeiro nascido lobo em milênios. Formávamos uma dupla e tanto, era uma pena que enquanto ela era a soberana de um povo, eu ainda era tratado como um filhote superprotegido.

Um poderoso filhote de quase quarenta anos de idade e aparência de vinte e poucos.

— O que é isso?

Talvez eu devesse ter tirado a desconfiança da voz, mas andava impaciente nos últimos dias. Sentia-me enjaulado, apesar de ser capaz de correr livre pela floresta.

A minha vida estava estagnada.

— Isso — respondeu, ignorando o meu desconforto. — É a missão que você não muito sutilmente me pediu.

Por um breve e tolo momento, o meu coração bateu rápido em expectativa. O lobo se agitou sob a minha pele, fazendo-a ondular. Uma missão — a chance de trabalhar para a polícia sobrenatural, para Izzy e Heinz — era tudo que eu sempre desejei. Poderia caçar os vampiros que saíam da linha e matavam humanos, manter a ordem e fazer a diferença, porém, algo estava errado. Nunca seria tão simples.

Voltei minha atenção para a reportagem.

— A minha missão é um serial killer?

Dessa vez não tentei esconder a raiva borbulhando em meu peito.

— Exato.

Izzy não se dignou a ficar abalada.

— Isso é uma piada? Alguma pegadinha? Me mandar à caça de um humano é ridículo!

Eu me levantei e procurei atrás das grossas cortinas do escritório, por mais que meus instintos dissessem que não tinha ninguém ali. Abri a porta para ver se o meu avô ou Ceci, a prima vampira da chefe, estavam por perto, ouvindo escondidos o fim da brincadeira.

Ridículo é você questionar a sua superior, soldado!

O rosnado veio de algum lugar do andar inferior. Com a nossa superaudição, Heinz não teve problemas em me ouvir, assim como eu o escutei com clareza. Como esperado, em um piscar de olhos, o vampiro vivo mais antigo do mundo estava à minha frente. Sua expressão fechada, que irradiava promessas de perigo, faria qualquer outro tremer. Contudo, ele era o meu padrinho e eu já tinha ultrapassado diversas vezes o limite da insubordinação nas últimas quatro décadas para temê-lo de algum modo.

De fato, estava doido por uma boa briga. Os reais limites do meu poder nunca foram testados de verdade.

— E você acha que é justo me colocar na busca de um simples homem? — perguntei a ele.

A gente não mexia nos assuntos humanos. Criminosos comuns eram deixados para a polícia comum. Tínhamos os nossos próprios problemas a resolver.

— Se a schatzi diz que é importante, então é importante, rapaz.

— Padrinho, por favor — apelei para o golpe baixo: o sentimentalismo. — Há vinte anos peço para servir a vocês e é assim que sou recompensado?

Não se entrava em um super-time sobrenatural com facilidade, ainda mais com pais protetores ao extremo. Tentaram me matar quando eu ainda estava na barriga de minha mãe e a minha avó foi assassinada em uma tentativa de escravizar lobisomens para serem servos leais de vampiros.

(AMOSTRA) Valknut - o legado do alfaWhere stories live. Discover now