I. Sra. Hwang

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Atrás da estante de detergentes de repente se tornou o melhor esconderijo que alguém poderia ter. O grande problema, afinal de contas, era que Sra. Hwang tinha olhos muito bons, talvez pelo fato de ter de cuidar de mais filhos que se dá para contar nos dedos.

- Pequeno Felix! Estou te vendo, não adianta se esconder. - ela soltou aquela risada que era carismática e alta, apesar de você claramente saber que era falsa. Era boa no que fazia, afinal.

Lee Felix se encolheu, xingou o pensamento de ter decidido entrar naquele maldito mercado e aos pouco foi saindo dali, abrindo um sorriso desconfortável que ela prontamente ignorou.

- Ora, como está crescido! - Sra. Hwang juntou as mãos diante do corpo, ainda sorrindo. - Como tem andado, menino?

- Oi, Sra. Hwang. - ele murmurou, coçando a nuca e voltando ao seu carrinho. - Estou indo muito bem, obrigado. E a senhora?

Ele não queria saber. Não dava a mínima, sejamos sinceros. Mas, feliz ou infelizmente, seus pais lhe ensinaram a ser minimamente educado mesmo com as pessoas que não mereciam.

Felix conhecia a Sra. Hwang desde que se lembrava da primeira memória. A mulher é uma amiga, alguns anos mais velha, de seus pais que frequentava semanalmente sua casa, sem nenhuma falta. Ele nunca gostou dela. Achava que talvez nenhuma pessoa com bom senso gostava, mas se repreendia por tal pensamento; era muita maldade e maldade era coisa dela.

A Sra. Hwang é do tipo de pessoa que comenta do seu aumento ou perda de peso de graça sem que ninguém pergunte, que pega o último pedaço da torta de framboesa no natal de 2008 sem se importar se alguém mais quisesse. Era ela que incomodava Felix em alguns finais de semanas específicos, afim de que ele cedesse o quarto para ela passar a noite, e aí dele se negasse. A Sra. Hwang que dizia para seus pais que ele deveria ser mandado para uma escola militar rígida que o "consertasse" com um falso sorriso empático no rosto e um "é para o seu bem" logo em seguida.

Obviamente, nos próximos cinco minutos, a mulher narrou um monólogo sobre sua vida, incluindo a parte da artrite e que sua irmã estava viajando para algum resort, aparentemente não se importando que Felix não ligasse e... Meu Deus! A Sra. Kwon da manicure se separou do marido?

- Bem, mas não é minha vida que importa, meu menino... - ela diz depois de um suspiro. - Faz muitos anos que não te vejo. Não vejo toda sua família, na verdade, devido a minha...

- Mudança para o interior. - Felix completou, seu sorrindo ficando cada vez mais forçado.

- Isso, exatamente! Oh, garoto, não sei porque voltei... - ela diz com pesar, balançando a cabeça. - A cidade em que eu morava era tão serena, sem esses pivetes vagabundos tatuados pelas ruas, sem aquela música horrível dos jovens... Realmente tranquilo.

O garoto respirou fundo, arregaçando as mangas e deixando exposto - não propositalmente, óbvio - algumas das tatuagens que tinha.

Se a Sra. Hwang viu, fingiu não notar.

- Enfim, fiquei sabendo de coisas que me deixaram muito tristes.

Lee Felix apoiou o peso no carrinho, mordendo os lábios: - É mesmo?

Antes que ela continuasse, um garoto apareceu entre eles. Parecia concentrado em ler o rótulo de molho de tomate e quando ergueu os olhos, ficou sem jeito por aparentemente ter atrapalhado a conversa. Felix achou graça e até se pegou abrindo um meio sorriso pelo fato dele ter dado dois passos atrás e acabou esbarrando nas prateleiras, se virou e pediu desculpa sem notar que elas não pudessem responder.

- Ora, Hyunjin. - a mulher ralhou, franzindo o rosto. - Como pode ser tão mau educado e interromper nossa conversa? Nem parece que é meu filho, meu Deus...

𝗮 𝘄𝗮𝘆 𝘁𝗼 𝗳𝗿𝗲𝗲𝗱𝗼𝗺 ⌇ hyunlix Where stories live. Discover now