Capítulo 3

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Ao acordar, deu de cara com as flores que recebeu no dia anterior e imaginou se aquele seria seu último ato. Estava se sentindo leve, mas no fundo havia algo pesando em seu coração, um mau pressentimento, uma energia pesada, mas não deu tanta importância, afinal era um novo dia.

Havia separado um conjunto de camisa social branca, calça jeans nude e uma bota tratorada para ir ao trabalho, e enquanto preparava o capuccino viu que havia um cartão preto em cima da mesa, era de Ron, com as letras em dourado, nele havia seu nome, contatos e uma mensagem escrita "me chame quando precisar", ele tinha caído de uma das flores, pegou e o guardou dentro da carteira, não planejava ligar tão cedo, nem se precisasse.

Chegando em seu trabalho, já foi preparada para receber Ron dentro da sua sala, mas para sua surpresa, e ao chegar, a sala estava vazia e fechada, quando entrou ouviu a voz atrás dela:

- Bom dia, como você está? - perguntou Ron, com uma xícara de café na mão.

- Bom dia. Bem melhor depois das flores, obrigada inclusive, e você?

- Melhor agora com a sua chegada. Bem, eu perguntei a você na carta se iria querer tomar um café comigo hoje de manhã, vejo que já trouxe o seu.

- Claro, por que não?! Meu capuccino está sempre comigo.

Ele fez um gesto para que ela passasse a sua frente na porta, então Leyla sugeriu para que fossem ao jardim de inverno que estava sendo construído no final do prédio, sentaram em um banco do lado de fora de frente para este jardim, observando o local, Ron indagou:

- Por que escolheu este lugar?

- Não gostou?

- Não é isso, só fiquei curioso, existem tantos outros.

- Particularmente eu admiro o processo de construção, seja ele material, físico ou emocional. É um processo que dedica esforços e o resultado pode ser melhor do que o esperado, e nós dois estamos em um processo de construção. - Ela falava empolgada.

- Assim como nós? Entendo. - Afirmou ele rindo.

- Você se acostuma, não é tão difícil conviver comigo.

- Sempre pensa assim?

- Não, não é tão fácil. Nem sempre tenho a mente aberta para as pessoas, tenho meu lado egoísta e julgo facilmente, essa é uma observação em especial, uma exceção.

Talvez Ron tenha interpretado mal as palavras dela, mas entendeu que de alguma forma ele era especial para ela.

Conforme foram conversando, percebeu que ela era sincera e intensa, deixava o emocional agir em certos momentos, predominando suas escolhas baseadas na raiva, felicidade ou amor, e que apenas no trabalho conseguia equilibrar essas emoções, e é aí que ele precisava agir e tirar vantagem, cada emoção no seu devido local e que ali não deveria agir. Sem que ele esperasse, ela o indaga:

- Desculpe a pergunta, mas um homem ocupado como você não deveria viver na correria, sabe, sem parar um minuto já que está aqui a trabalho?

- E tomar café com minha assessora é uma perca de tempo, é isso que quer dizer?

- Claro que não - ela sorriu - é só que você me parece despreocupado demais em um ambiente de trabalho.

- Você é uma pessoa que vale a pena deixar o trabalho de milhões de lado por algumas horas. - Dessa vez, falou sério olhando em seus olhos - Como eu mencionei antes, vir para cá é como uma terapia, ultimamente deixo apenas o trabalho consumir minha vida.

- Entendo. - Leyla respondeu com o rosto corado. - Bem, eu odeio cortar esse clima de tranquilidade, mas temos que voltar para nossos projetos. - Ela deu um sorriso de consolo.

Saíram em um clima agradável, Ron a acompanhou até a sala dela e ele teve que sair por algumas horas. Estava sempre conversando consigo mesma, e naquele momento concluiu que talvez tenha se equivocado.

No final da tarde Ron chegou e pediu a Marcio para que todas as pendencias do que ele tivesse que assinar, permitir ou verificar fossem postas à mesa para que fossem resolvidas naquela mesma noite pois partiria para Dubai na manhã seguinte.

- Perdoem a pressa e o imprevisto, mas terei que viajar amanhã e preciso deixar tudo pronto e resolvido com vocês ainda hoje.

- Sem problemas, não há muitas pendencias então resolveremos em um estante.

- Você precisará assinar esses papéis para a próxima venda. - disse Márcio.

E ao terminar suas assinaturas pediu para ficar a sós com Leyla, com a desculpa de que precisaria tratar apenas de uma inspeção que fizeram.

- Desculpe partir assim de repente sem aviso prévio, ainda tínhamos muito o que fazer, então o que precisar falar sobre nosso trabalho pode ligar para Omar, meu assistente, aqui está o número dele. - Ele falava baixinho depois que Márcio saiu.

- Não precisa se desculpar, achei estranho isso não ter acontecido ainda. - disse ela em tom irônico. - Ligarei sim, não se preocupe.

- E sobre qualquer outra coisa pode entrar em contato comigo, já tem meus contatos pessoais então fique à vontade para me procurar.

- Não prometo nada, mas vou tentar ligar sim.

Logo ficaria ciente do que estava por vir. Essa com certeza foi uma das atitudes mais canalhas de Ron, não a pior, apenas uma das que praticou, daqui para frente entenderá porquê. Tinha tudo em suas mãos e bastava ter paciência e seguir o percurso do rio, mas foi um canalha, completo arrogante, todos os defeitos e pré julgamentos que Leyla impôs sobre ele estavam corretas, não foram equivocadas. Pobre Leyla.

A Dubai ArroganteWhere stories live. Discover now