๛ PRÓLOGO

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(Contém 1.465 palavras)

         O trabalho diurno estava cansativo para a família Jánez. Sempre no mesmo domingo, após uma longa jornada explorativa, a corporação convidava os funcionários para uma celebração que tipicamente terminava em negócios.

A densa neblina da noite impedia a visão de muitos motoristas na estrada e o horizonte parecia difícil de enxergar, mas se tinham pressa não era um grande obstáculo a percorrer. O pequeno Gabriel vivia nessa situação e seu pai estava impaciente pela inconveniência. O homem precisava chegar rapidamente na mansão, onde seria a festividade, e a esposa, sentada ao lado, se irritava a cada solavanco dos pneus.

— Precisa dessa correria? — Ela adverte acidamente.

— Não é você que terá a cabeça numa bandeja.

— Tiago não é tão ruim assim.

— Claro. Porque vocês são bem próximos né? — Insinuou, sorrindo de banda.

— Lucas!

— Relaxe, Gabriel nem está prestando atenção. Ele só liga para o joguinho dele — disse indiferente.

O garoto realmente se divertia em seu tablet, mas os ouvidos estavam atentos às discussões recorrentes dos pais. Gabriel sabia que sua mãe tivera um caso com o patrão de seu pai, ambos deixavam bem claro nas brigas, mas eles decidiram continuar no casamento por causa do filho. Ele era o único motivo de estarem dentro de um carro. Entretanto, a relação deles se desgastava cada vez mais até chegou num ponto em que o próprio menino desejava que eles se separassem!

— Você nem olha pra ele, parece que nem o reconhece como filho — ela resmunga.

— E é? — Provocou.

— Calado — refutou entredentes.

Um silêncio esmagador pairou sobre eles.

— Vamos demorar muito? Quero fazer xixi — o pequenino sussurra.

— Argh! Esse garoto só mija e come — Lucas reclamou.

— Ele é uma criança, Lucas. É natural — ela o defende.

— Seria mais fácil com um animal.

— Eles necessitam de cuidado igualmente — ela contrapõe.

— Mas um deles se pode abandonar legalmente — responde olhando-o de relance.

Gabriel sentiu um calafrio estranho subir a espinha.

— Vou fingir que não escutei isso, para o seu próprio bem — disse entredentes.

— Melissa, calma. Eu só estava brincando — disse aos risos. Seu olhar acastanhado capturam os olhos do menino através do retrovisor. — Não é mesmo, garotão?

Gabriel assentiu, embora quisesse negar com todas as forças.

Melissa suspira, encostando a cabeça sobre a janela. Sua cabeleira escura balança contra a pequena brisa noturna, enquanto seu marido passeava a mão pela cabeça raspada.

Lucas acende um cigarro, despreocupado com a delegacia próxima e impaciente com o clima, durante a passagem de uma avenida perigosa. Gabriel apertava o aparelho entre seus dedos miúdos, seus olhos de chocolate estavam amedrontados e a cabeleira cacheada, herdada de sua mãe, estava uma bagunça.

Ele tinha acabado de sair da cama e só desejava voltar para ela, mas sabendo do temperamento de seu pai não seria facilmente possível. Quando Lucas tinha algo, ou alguma ideia, nada e nem ninguém conseguia fazê-lo mudar.

DOIS MUNDOS: Do mesmo caminho 「Em breve」Where stories live. Discover now