Dor

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CAPÍTULO 57 - Dor

Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.
Não sinto onde é que estou, nem se estou. Não sei de nada.

Nem de ódio, nem amor. Tédio? Melancolia.
- Existência parada. Existência acabada.

Nem se pode saber do que outrora existia.
A cegueira no olhar. Toda a noite calada
no ouvido. Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.
A alma, um deserto branco: - o luar triste na geada...

Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.
Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!
Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.

Tudo opaco... E sem luz... E sem treva... O ar absorto...
Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto...
Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?

- Cecília Meireles.



As festas de final de ano passaram voando e um novo ano havia chegado. Tudo estava em perfeita harmonia, as irmãs de Liz iniciaram a escola e logo de cara fizeram varias amizades que vez ou outra levavam em casa, Olivia e Ariella finalmente deram um significado para o que estavam tendo "namoro". E Lizandra ia bem em seu novo emprego, seu relacionamento com Eleanor estava mais forte que antes, tudo ia bem... bem e calmo até demais.

Por que isso teve que acontecer?
Quando se tornaram tão negligentes?
Como não perceberam o perigo?

Essas e outras perguntas atormentavam as quatros naquele corredor frio e solitário da UTI enquanto esperavam impacientes alguma declaração do médico.

- Ela está em coma - o médico explica a situação - E infelizmente não há previsão de acordar tão cedo.

Aquelas palavras foram suficientes para acabar com todos que estavam ali presentes. Eleanor estava sem chão, Liana e Lara entraram em estado de choque e Olivia desmaiara com a notícia. Tudo estava um caos absoluto, todas estavam desoladas e com medo. Caleb morreu no acidente, pelo menos não tinham que se preocupar com mais um problema, entretanto, não sabiam o que fazer sem a fonte de alegria e energia delas dali para frente. Lizandra tinha chances de nunca mais acordar.

Por outro lado Lizandra não sentia nada. Só podia ouvi-los, ouvir suas lamentações e choros contínuos, suas rezas e conversas paralelas ao longo dos... dias? meses? Já não tinha idéia de quanto tempo havia se passado desde o acidente.

Não via nada.
Liz sentia-se exausta.
Acordaria um dia?
Pois estava a um passo de se render ao seu destino.
A morte.





12 de Fevereiro

Eleanor passou por momentos muitos difíceis, passando semanas sem realmente notar a vida. Ficara em estado vegetativo, não saia, não comia, não vivia, não tinha forças para seguir em frente, não sem seu lírio. Depois de algum tempo, com a ajuda de suas amigas e mãe, volta a recobrar a consciência.

Sua aparição na empresa depois de todo esse tempo, chocou algumas pessoas, inclusive Heloá que ficara alegre com a volta de sua chefe. E como imaginara, tudo estava um caos, assim como sua vida mas não podia parar. Eleanor precisava prosseguir e precisava viver por Liz também. Tentaria. Com dor no peito, mas tentaria seguir em frente.

Um dia de cada vez, um passo de cada vez...

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21 de Março

- Já disse que não precisa vir nos buscar, pegamos um ônibus - Liana cruza os braços mal humorada em frente a escola.

- Diga por você - Lara abre a porta e adentra o carro.

Quando Olivia e Ariella estavam ocupadas com seus trabalhos e sem tempo para pegar as meninas na escola, nos revisávamos para buscá-las, mas Liana ainda recusava minha ajuda para com elas.

- LARA! - repreende a irmã mais nova.

- Entre o ônibus com um bando de pessoas com cheiro de cecé e essa Lamborghini com ar condicionado, eu prefiro a Lamborghini - ignora os gritos da irmã -Anda logo, entra!

Vencida pelo cansaço, Liana adentra o automóvel reclamando em murmúrios baixinhos. Seu jeito durão, seus braços cruzados e o beicinho que fazia quando é contestada era idêntico a Liz, aqueles simples gestos e pequenos detalhes emocionou Eleanor que disfarçou ao por o óculos escuros e dá partida com o veículo.

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07 de Abril

A vida delas sem Lizandra agora era assim, cheias de altos e baixos de dias bons e ruins. De saídas à shoppings aos finais de semanas para espairecer a mente e tentar se divertirem um pouco. Sempre sorria quando Olivia dizia que daria tudo para ver a cara de Lizandra vendo todas aquelas interações que nunca imaginou um dia acontecer. Era isso... Liz estava perdendo tudo e Eleanor tinha medo de a perder mais uma vez, sendo que desta vez. Para sempre.

- Meu amor... - Eleanor acaricia seu rosto pálido - Hoje a Liana me deu um abraço antes de entrar no apartamento - conta com os olhos lacrimejantes - Acho que ela está começando a gostar um pouquinho de mim.

Naquele dia, pela primeira vez depois de quase três meses, Liz deu-lhes seu primeiro estímulo - ao mexer seus dedos e apertar a mão de Eleanor que chorou de emoção - Segundo o médico, sua recuperação estava tendo ótima eficácia, já que Liz conseguia ouvir bem e com o passar dos dias após aplicarem a ferramenta de Glasgow, a mesma começou a movimetar e mexer os braços e as pernas.





***

No dia 15 de abril Lizandra abrira os olhos, trazendo esperança a todos, entretanto, não lembrava nada do acidente. O médico dissera que a mesma passava por um processo chamado: amnésia retrógrada. O paciente pode lembrar de seu passado, mas em alguns casos, pode acontecer de ela não se lembrar do motivo de ter ido para o hospital. A capacidade de memória nessa fase de recuperação acaba ficando prejudicada.

Infelizmente sua capacidade de fala ainda era limitada. Conseguia balbuciar com muita dificuldade algumas palavras, mas segundo o doutor, com muita fisioterapia, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional, conseguiria ter uma ótima recuperação. O apoio da família é essencial nesse processo.

A felicidade de suas irmãs era contagiante, Olivia correra para rever sua melhor amiga no hospital e avisara aos demais amigos e familiares que não mediram esforços em vir vê-la acordada novamente, e nessas idas e vindas de parentes e amigos mais uma sessão de chororo começava. De uma coisa ninguém podia negar: Lizandra é muito amada. Sempre será.

E como se tudo tivesse voltando ao normal pela primeira vez em meses, Eleanor pôde finalmente respirar tranquila.

Seu lírio havia voltado para ela.



Continua...

Um capítulo bem depre mas deu tudo certo no final. Não devo demorar a postar os últimos capítulos então fiquem ligadinhxs 😉

Até a próxima!

Save Me (Romance Lésbico) - REVISÃO Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu