5° capítulo.

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Julie

Passei a noite em claro, assistindo e lendo documentários sobre o sistema prisional de Chicago. Se isso teria de ser feito, que fosse bem-feito. Fiquei horrorizada com o tamanho da brutalidade dos prisioneiros e com o quanto algumas situações eram desumanas.

                                             ~

Peguei minha bicicleta e fui pedalando em direção a casa da Flynn. Ela era meu refúgio, a única pessoa com quem poderia contar. Minha família havia cortado o contato comigo, depois de tudo o que aconteceu. Então, a Flynn e o Willie eram tudo o que eu tinha. Nunca me importei em cortar relações com os outros. Mas, penso eu, que meus pais foram injustos comigo. Eles sabem que eu nunca tive culpa de nada.

- Oi, Flynn! - falei após a porta de sido aberta. - Depois chegar a essa hora, mas eu estou muito mal.

- Tudo bem, Jules. Você sabe que pode contar comigo a qualquer momento.

Desabafei por horas, pondo para fora tudo o que crescia e apertava em meu peito.

- Olha, Julie... - Flynn começou. - Eu acho que você se preocupa demais, com tudo. Você não pode carregar o peso do mundo em suas costas! não é saudável e você sabe que aquilo não foi sua culpa.

- Eu discuti com um homem novo lá do trabalho. Mas, não tinha intenção, eu juro!

Flynn bufou.

- Ah... a tão famosa transferência! você se estressou com a Carrie e transferiu para o cara novo? Foi isso?

Assenti.

- Isso é normal, Jules. Relaxa. As pessoas fazem isso o tempo inteiro e nem percebem.

- É, mas é chato. Eu fui grossa com um homem que nunca vi, isso é errado.

- Você ainda tá na terapia? - a morena me perguntou.

Neguei. Eu havia pedido para encerrar o processo terapêutico. Contei ao Willie que foi a terapeuta quem me deu alta, mas não foi assim. Estava cansada e sentia que ela não me compreendia mais.

- Eu comecei a achar que ela não estava me entendendo mais.

- Mas, Jules, não é ela que tem que te entender. Você que tem que entender a si mesma. A terapeuta só está lá para te guiar. O processo de auto conhecimento é algo só seu.

- Eu sei, Flynn. Eu acho que perdi a conexão com ela.

- E você tentou procurar outro terapeuta?

- Não.

- Olha, Julie. Eu não posso te obrigar a fazer terapia. Mas, eu sei que você tem ciência do tanto que a terapia pode agregar em sua vida. Ela só trás benefícios. Ela dói? dói muito! mas, faz parte e isso só mostra que está dando resultados.

- Eu sei, Flynn. Eu realmente sei. Vou pensar e depois converso com você sobre, tudo bem?

Minha amiga sorriu, concordando.

- Agora, mudando de assunto. - continuei. - Não tem como você ser minha terapeuta, não?

Ela riu baixinho.

- Você sabe que eu não posso, Jules. Mas, bem que queria. - ela me lançou um sorriso e continuou - e você sabe que não tem obrigação de fazer a entrevista, né?

Assenti.

- Se você quiser, fala com a Carrie e diz que não tem condições de fazer, tenho certeza que ela entenderá.

- Tudo bem, amiga. Acho que vou fazer isso mesmo! não sei se tenho psicológico pra enfrentar aquele lugar.

- Qualquer coisa, você sabe que pode me ligar a qualquer momento, não é? - ela sorriu. - Você é forte, Jules. Eu sei que é! basta olhar para tudo que você já passou, são poucos que enfrentam isso e continuam de cabeça erguida. Você é incrível e eu morro de orgulho.

- Eu te amo, Flynn! você é a melhor amiga que alguém poderia ter.

                                             ~

Terminei a conversa com Flynn e voltei para casa. Com a intenção de continuar a maratona de documentários. Quando a tela de meu celular acendeu, indicando uma mensagem nova.

Era minha chefe, dando um aviso: ela havia me selecionado para fazer a entrevista com os presidiários.

Ótimo. Agora, além de ter que entrar naquele local, iria ter que conversar com um detento. Eu realmente amava meu trabalho e dava meu máximo para fazer tudo certinho. Mas, não estava gostando muito daquela ideia não.

                                            ~

Quatro semanas haviam se passado desde que Carrie me encarregou para fazer a matéria. O processo de autorização de uma matéria em alas penitenciárias era enorme e demorado; mas, enfim, tudo havia dado certo e a data de minha visita se aproximava. E conforme o dia estava mais perto, o nervosismo dentro de mim aumentava!

Eu sempre soube como conduzir as entrevistas. Sempre soube quais tópicos abordar, sem ser muito evasiva. Ou então, estaria sendo antiética. Meus pensamentos estavam confusos e eu passei todos esses dias em claro. Não conseguia desligar minha mente por nada. Tentei tomar uma xícara de chá. Fiz exercícios de respiração. Escrevi meus pensamentos em um papel. Conversei com a Flynn. Mas, minha mente continuava a um milhão e eu não encontrava o motivo disso.

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