Prólogo

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Ally

A chuva martelava implacavelmente contra a janela do hospital, formando uma cortina de gotas que obscurecia a paisagem lá fora. Sentada na cama, observava o ritmo cadenciado da tempestade, uma metáfora perfeita para a turbulência que dominava meus pensamentos.

Sempre chove em dias tristes, e todos os dias dentro de mim era isso que via. Uma tempestade interminável.

Minha meia-irmã adentra o quarto com uma expressão de alívio estampada no rosto, mas logo sua preocupação toma conta de suas feições.

- Ally, o que deu em você? Quase morreu atropelada ontem e agora tenta se jogar do terceiro andar? - sua voz soa repreensiva, enquanto aponta para o meu pé enfaixado. - Você devia ser mais cuidadosa.

Suspiro, desviando o olhar da janela para encará-la. A última coisa que precisava era ser repreendida por minha irmã neste momento.

- Eu só quero sair daqui logo. - desabafo, sentindo a frustração se acumulando dentro de mim.

Ela me olha com preocupação antes de mencionar algo que mudaria o rumo da minha vida.

- Papai decidiu te mandar para a fazenda. - sua voz é séria, e sinto um nó se formando em minha garganta.

- O quê?! - minha voz sai em um sussurro, a ideia de voltar para a fazenda trazendo à tona uma enxurrada de emoções conflitantes.

Minha irmã tenta me tranquilizar, mas o medo e a incerteza continuam a ecoar dentro de mim. Eu não estava preparada para enfrentar os fantasmas do passado que assombravam aquele lugar, mas sabia que não tinha escolha senão encarar o que quer que estivesse por vir.

- Você não tem escolha, Ally. Se não for, ele te tira  da empresa. - Amber me encara com uma seriedade preocupante em seu semblante, e suas palavras ressoam em meus ouvidos como um aviso sombrio do que estava por vir.

Se eu recusasse a ordem do meu pai, estaria colocando em risco não apenas minha herança, mas também minha estabilidade financeira e minha posição na empresa. Era uma escolha difícil, mas as consequências de uma negativa poderiam ser devastadoras.

- Por que ele decidiu isso? - pergunto, tentando conter a ansiedade que se apodera de mim diante da notícia.

Amber suspira, parecendo relutante em revelar mais detalhes, mas finalmente cede sob meu olhar insistente.

- Ele acha que é o melhor para você, considerando... bem, considerando tudo o que aconteceu recentemente. A fazenda pode ser um lugar tranquilo para você se recuperar e encontrar um pouco de paz.

- Então, o pai decidiu que eu devo ir para a fazenda? - perguntei, tentando mascarar minha incredulidade.

Amber assentiu com um suspiro pesado.

- Sim, parece que é isso mesmo. Ele ficou bastante preocupado depois do seu... incidente.

Revirei os olhos com sarcasmo.

- Então, ele se preocupa comigo depois de eu tomar uma ou duas doses a mais depois do expediente, mas não se importa quando trabalho até tarde todas as noites? - resmunguei, frustrada com a situação - Ótimo maneira para eu me recuperar, isolada do mundo e com abstinência de sexo e álcool, esse vai ser meu recorde.

Amber ficou surpresa com minha franqueza, mas logo recuperou a compostura.

- Espera... Você terminou com o Billy? - ela perguntou, surpresa.

- Sim, há cinco meses. - suspirei indignada - E você saberia disso se fosse mais presente na minha vida.

Houve um breve momento de silêncio antes de Amber responder, com uma expressão mista de culpa e compreensão.

- Desculpe, Ally. - Amber disse, com sinceridade na voz.

Eu a encarei por um instante, percebendo a genuinidade em suas palavras. Suspirei, sentindo-me um pouco mais resignada com a situação.

- Tudo bem, Amber. Parece que vou ter que voltar a Dallas mais cedo do que planejei.

Assenti, uma determinação silenciosa se formando dentro de mim. Era hora de encarar de frente os demônios do passado, de fazer justiça pelo que havia acontecido. Minha mente estava repleta de planos meticulosos, de estratégias para alcançar meu objetivo.

Fazenda Greene - Paixão Sem Limites Where stories live. Discover now