Gai Sensei ou Reencontro do time 9

1 0 0
                                    


De forma muito simplista, podemos separar as pessoas em dois ou três grupos distintos de acordo com a forma que elas se portam diante das situações com um experimento teórico conhecido há anos.

Coloquemos um copo preenchido até a metade com água sobre uma mesa e perguntemos à um grupo de pessoas o que elas veem. Algumas olharão para o copo com descontentamento e dirão que ele está meio vazio, outras olharão com expectativa e dirão que o copo está meio cheio e algumas poucas ainda podem olhar com total indiferença e dizer simplesmente que o copo está meio a meio.

E então, fugindo a essa contagem, apareceria alguém, olharia para esse copo com esperança e disposição e diria que não só está meio cheio como ele poderia estar completo e vê nisso uma oportunidade de poder preencher o copo em todo o seu potencial com a mais pura água das montanhas recolhida com suas próprias mãos sob a sétima lua cheia, coisa que ele inclusive já estaria fazendo no momento, arruinando todo o experimento.

Este alguém seria Gai Sensei.

Durante sua batalha contra Madara, Gai forçou seu corpo a um limite sobre-humano, de tal forma que todos achavam ser irreversível. E isso talvez fosse verdade se não estivéssemos falando da Besta Verde de Konoha, o homem com maior força de vontade que este mundo pôde conceber. Após um período hospitalizado e em tratamento intensivo o mestre do time 9 já mostrava melhoras consideráveis desde as primeiras semanas e no final, contra tudo o que se esperava de um caso como esse, acabou recebendo alta apenas com algumas costelas fraturadas e uma perna parcialmente, ainda que definitivamente, paralisada.

Na época, Lee e Tenten foram buscá-lo no hospital para comemorar o retorno de seu professor. Quer dizer, Lee o acompanhou durante todo o caminho até sua casa cumprindo desafios como pular numa perna só ou correr de ponta cabeça enquanto Tenten carregava a cadeira de rodas vazia, a mais nova companheira de Gai.

Companheira, sim, pois como instrumento ela quase nunca era utilizada, não por ele, pelo menos, que estava agora fazendo flexões verticais com uma braço às costas enquanto Kakashi quem a usava para ler seu livro.

Era um belo dia de sol, sem nuvens. Algumas crianças brincavam ali perto sobre o grande descampado que se estendia até próximo do lago, enquanto um casal descansava sob um olmo no limite do parque. O trio de alunos se aproximou de seu professor, bem no centro do gramado. Vendo-os chegar ele deu uma pirueta teatral e se apoiou na perna boa.

- NEJI! MEU GAROTO! - gritou animado, assustando um pouco o casal que de repente se sentia relaxado o suficiente para ir embora - Vejo que você já recuperou sua vitalidade juvenil! Eu sabia que você se recuperaria, nunca duvidei! - mesmo assim sufocou o garoto num abraço constrangedor e incrivelmente forte para alguém que mal tinha como ficar em pé sozinho.

- É bom te ver também, Gai Sensei. - respondeu, finalmente se desvencilhando dos braços do homem

- Eu falei, Gai Sensei! Meu amigo Neji não se deixaria abalar por um simples ferimento! Ele com certeza voltaria ainda mais forte para que pudéssemos lutar novamente!

- Está certo, Lee, meu rapaz. Mas vamos agir com cautela para voltar ao ritmo do incrível time 9 o mais rápido possível!

O simples ferimento a que Lee se referia eram quatro grandes perfurações nos pulmões, rins e estômago que Neji acabou por sofrer ao defender Hinata e, por consequência, Naruto do ataque da Dez Caudas. Um simples ferimento que o deixou em um coma induzido por meses, assistido de perto por Sakura, Shizune e uma equipe médica de elite num tratamento ainda muito experimental que felizmente deu certo. Um simples ferimento que o deixou à beira da morte, se é que realmente não havia morrido, mesmo que por alguns instantes. Um simples ferimento que, nas noites ruins, ainda o acordava assustado, buscando fôlego pela lembrança de estar sufocando em seu próprio sangue.

Kakashi, agora também de pé, aproveitou a deixa da conversa para se despedir e voltar aos seus afazeres como Rokudaime; deu as boas-vindas para Neji e desapareceu em uma nuvem de fumaça. Os quatro então se sentaram na grama e Tenten, que não havia dito nada ainda, começou a tirar itens de um cesto que ninguém tinha visto de onde viera e os colocava sobre uma toalha recém posta no chão..

Conversaram sobre as mudanças na vila, a aliança entre as nações e sobre as novas rotinas em tempos de paz. Ainda tinham muitos assuntos a resolver mas felizmente com os kages trabalhando juntos a quantidade de problemas envolvendo outras vilas tinha diminuído consideravelmente, deixando os shinobi com muito mais tempo livre do que antes.

Quando o sol do meio dia começou a erradicar as sombras em que eles se abrigavam, Lee e Tenten começaram a se despedir para treinar um pouco, já que não teriam nenhuma missão naquele dia.

- Você já voltou a treinar, Neji? Não te vi pelos campos ainda - Perguntou Lee, esperançoso

- Tenho treinado no campo dos Hyuga, ele tem estado bem tranquilo ultimamente. - explicou

- Ora, mas sem um adversário você não terá uma evolução adequada, meu rapaz! - argumentou Gai

- Nós poderíamos treinar os três juntos, como antes. - sugeriu Tenten

- Não precisam se preocupar comigo.

- Na verdade pode ser bom para nós todos, sabe, para variar o oponente e o estilo de luta...

Foi o que os lábios da garota disseram, mas ele pode ler "socorro, eu não aguento mais lidar sozinha com as loucuras do Lee" nos olhos dela. Sorriu em compreensão.

- Tudo bem, acho que pode ser válido - respondeu com falsa indiferença. Sentia falta de treinar com seus companheiros de equipe

Os outros ficaram muito animados com a notícia e imediatamente combinaram horário e local para começarem os treinos em grupo no dia seguinte mesmo, e com tudo organizado se despediram finalmente e seguiram para seus afazeres.

Os dois ficaram sentados observando Lee e Tenten sumirem na linha do horizonte, e ainda desse jeito que Gai falou em um tom mais sério que o normal.

- Eles sentiram muito sua falta. Ficaram preocupados com você de um jeito que nunca vi ficarem com alguém.

Neji não soube muito bem o que responder. Depois de pensar um pouco, disse, sem graça:

- Tenho certeza que eles também ficaram muito preocupados com você, Sensei.

- Ah, eu confio que sim, não me entenda mal. Talvez Lee com certeza tenha pirado um pouco por minha causa - sorriu brevemente - mas Tenten... Ela realmente passou por uns maus bocados pensando que talvez você não voltasse mais.

Seguiu em silêncio. Ele não sabia mesmo o que dizer agora. Se sentia um pouco... culpado? Com certeza não imaginou que sua ausência poderia pesar tanto.

- Não se engane. Tenten é muito forte, mas ela realmente esteve num lugar bem sombrio durante todo o tempo que você esteve... sabe...

- Sei.

- Pois é. Você é um herói de guerra agora e todos na vila te respeitam e te admiram, eu entre eles, é claro, mas ela... ela estava sempre te visitando, nunca deixava as flores murcharem na sua cabeceira. E para falar a verdade, antes de hoje, fazia tempo que eu não a via parecer tão em paz.

Ele olhava para Neji agora. O rapaz ergueu os olhos e o encarou enquanto seu professor se erguia apenas com a força dos braços e se sentava em sua cadeira. Ele também se levantou.

- Tenho orgulho de você, meu rapaz. Não só por tudo o que você fez. Pelo que você tem se tornado. Tenho orgulho do time que eu criei e só quero vê-los bem.

Gai se preparou para sair enquanto Neji se curvava em respeitosa reverência.

- Obrigado, Sensei.


O caminho de volta para casa foi de pura contemplação. A guerra havia acabado e finalmente era possível comemorar um tempo de paz, mas se tinha uma coisa que ele tinha aprendido em todo esse tempo era que cada um está constantemente lutando batalhas dentro de si. E ele estava certo de que lado devia ficar.

O Dragão e a FênixWhere stories live. Discover now