Capítulo 34 - Troca (Miguel)

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Após abrir os olhos, levei menos de um segundo para me recordar do que havia acontecido antes de eu apagar.

Levantei-me rápido e me deparei com a criança sentada ao meu lado, na beirada da cama. Num pulo, me afastei dela, mirando a porta, pronto a correr por ela.

— Está tudo bem — disse ela. — Agora já podem trocar.

— Que? — Levei uma das mãos à cabeça, ainda confuso. — Trocar? Como assim? — Em seguida, a encarei. — Você não injetou aquela coisa em mim, né?!? — Comecei a verificar o braço em busca de uma marca e constatei um pequeno pontinho na parte interna do braço, próximo da articulação. E além daquela pequena marca, a dor local era uma outra comprovação que ela tinha mesmo aplicado aquela injeção em nós.

"Ai, meu Deus! Ela injetou aquela coisa na gente!!"

'Calma.'

"Calma?!? Como assim, calma?!? A gente vai morrer!! Já tô sentindo meu coração parar! Meu Deus! Eu estou morrendo!!"

'Para de ser dramática! Seu coração não está parando, Tai. Fica tranquila.'

"Está parando, sim!"

Cenna abriu a bolsa e mostrou a ampola vazia. — Não se preocupem. Está tudo bem.

"Mata ela, Miguel!"

'Pode apostar que eu vou mesmo!' — ameacei, trincando os dentes de raiva.

"Anda logo!"

— Você me dopou! — gritei, apontando para a menina. Mas eu não conseguia fazer nada além disso, me limitando a esbravejar sem tomar nenhuma atitude mais física. Meus olhos continuavam sendo enganados por aquela imagem de criança fofa e isso me impedia de ser mais incisivo nas ações.

— Não havia outra maneira de provar que eu queria ajudar — explicou-se ela, que apesar da postura imitando uma adulta, ainda mantinha aquele ar infantil que convidava a confiar em suas palavras.

Droga! Por que ela tinha que ser tão fofa?

— Tente liberar o controle para ela — pediu a criança.

— Liberar o controle... para ela? — murmurei, arqueando as sobrancelhas.

— Exatamente, Henry. Deixe que ela tome o controle do corpo.

"Será que ela está falando sério?"

'Só tem um jeito de descobrir.'

Então, atendendo ao pedido, me concentrei naquele objetivo.

Até ter a surpresa de sentir meus braços e pernas ficarem dormentes, perdendo totalmente os movimentos, como se eu fosse amarrado automaticamente por cordas invisíveis.

No entanto, não caí no chão, pois o controle sobre aquele corpo não havia sido perdido.

Ele fora apenas repassado para a dona original.

Após cambalear num primeiro momento ao receber de maneira tão inesperada a devolução de controle, Tai conseguiu se aprumar, deixando o corpo ereto.

— Sou eu...! Sou eu! — exclamou ela, fazendo ressoar sua voz em alto e bom som depois de tanto tempo. — Eu estou me movendo! E estou falando! Hahahahaa!! Eu voltei a ser eu mesma!

Como uma louca possuída, ela começou a pular e agitar os braços, simplesmente porque conseguia fazer aquilo.

Cenna apenas a observava em silêncio, se limitando a revirar os olhos diante de uma cena tão patética.

Consciência Viajante 2Where stories live. Discover now