Era Uma Vez... - Contos BR

Capítulo VII - O Anjo✓

Dizem que a queda de um anjo é como um raio, e que seu estrondo, ao cair, é idêntico ao de um trovão. Isso sempre me deixou em dúvida, uma das poucas coisas que eu não sabia explicar.

Meu nome é Cassiel Sanctus, o veloz de Deus, sou um ex-querubim. Os querubins são anjos que refletem a sabedoria divina, a palavra querubim pode significar anjo, grande e poderoso, abençoado, auspicioso, puro e até divino. Eu era tudo isso, até aquele dia no Éden.

Quando Lúcifer caiu com os outros anjos tudo mudou, a vaga de líder do Grande Coro estava aberta. Miguel era o general do primeiro exército, Gabriel era o general do segundo e agora era a minha vez de comandar o Grande Coro (ou terceiro exército). Tinha que ser eu, de todos os anjos eu era o mais veloz. Dentre os maiores, eu me destacava. Esperei centenas de anos para aquele momento, mas não fui escolhido. Rafael, o arcanjo, foi escolhido, para alegria de todos, com exceção a mim.

Eu precisava de um tempo para me recompor, então fui caminhar pelo jardim para pensar e espairecer. Arrastando-me em cada passo, lágrimas correndo sem rumo dos olhos e uma crescente ira em meu coração.

— Por quê?! – gritei em frente a um rio que se abalou em ondas.

Esmurrei pedras, árvores e arranquei enormes rochas do chão, jogando tudo para longe. Me sentei e desatei a chorar, sentia que minha existência não tinha mais sentido. Senti algo se aproximando, ouvi um movimento entre as árvores, então ele surgiu:

— Por que está chorando meu irmão? – disse Lúcifer ao meu lado.

— O que? Vá embora, sabe que não é bem vindo aqui... – enxuguei as lágrimas.

— Ah pare de mi mi mi e me diga... o que houve? O que te fizeram? – ele me pareceu compreensível.

Peguei cinco pedras na beira do riu e fui tacando no rio cada uma em determinados momentos.

— Nada... só o fato de eu esperar centenas de anos para conseguir a sua vaga... – joguei uma pedra. – Nada pessoal.

— Tudo bem, eu odiava guiar aqueles bocós desafinados. Continue.

— Aí quando você foi embora eu tripliquei meus treinamentos gerais e meus estudos... – joguei a segunda. – Li três vezes os planos divinos e cinco vezes a lei dos céus.

— Eu nunca abri nenhum desses, peguei no sono assim que li o título... – Eu sorri e atirei a terceira.

— Depois me tornei o mais rápido dos anjos e o mais sábio dos querubins... – Uma quarta pedra. – Mas parece que nada disso importa porque o Pai Eterno escolheu Rafael! Tipo assim, o que ele sabe de coral? A única função dele é anunciar cura e o apocalipse, que por sinal ainda falta muito para acontecer! Mais nada! – atirei a quinta com muita força, gerando um estalo nas árvores.

Eva estava a poucos metros dalí e ficou curiosa com todo o barulho e Lúcifer sabia disso:

— O que você pensa em fazer a respeito? – perguntou Lúcifer

— Nada.

— Como assim nada?

— O que vou fazer? Sou só um subordinado.

— Ora essa, você não vai deixar isso pra lá, não é?

— Não sei, o que acha que eu deveria fazer?

— Eu tenho um plano. – ele se aproximou. – Adão e Eva estão perto daqui, consigo sentir que Eva está se distanciando de Adão por caso do barulho das pedras que você jogou...

— quer chegar?

— E se você contar a eles a verdade?

— Que verdade?