II - Um bom mentiroso?

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(Capítulo não revisado)


Há noites em que o pequeno apartamento de Andrew fica barulhento, com vozes angustiadas e perturbadoras que assombram Andrew em momentos em que ninguém além dele pode salvá-lo. Não há uma morte iminente o esperando. Seria muito mais fácil se a morte estivesse ali, espreitando, o observando em silêncio à espera do momento perfeito para abraçá-lo até que o último suspiro cortasse seus lábios. No entanto, há muito tempo Andrew se conformou com o fato de que ele era imune à morte. Então a ideia esperançosa de que no fim daquele tormento, a morte o esperava, foi arruinada. Andrew continuaria sofrendo com as vozes, com a dor de suas costas que sofriam com agulhas invisíveis perfurando a sua pele.

Andrew tem certeza que escuta uma criança. Uma risada ecoando por sua mente, o perseguindo em seus pesadelos. No começo, é uma risada feliz, entusiasmada, daquelas que as crianças normalmente deixam escapar com qualquer coisa. Depois, a risada morre para um som angustiante e doloroso perpetuar. É doloroso. Faz Andrew se sentir insuficiente por não poder ajudar.

Ele pensa que é uma criança do orfanato. Uma das muitas crianças que morreram no orfanato e foram eternizadas nas costas de Andrew através de penas de corvo. No entanto, Andrew reconhece aquela risada. Reconhece o som doloroso que atravessa os lábios da criança como uma adaga afiada.

A criança era ele.

A criança era na verdade um adolescente de quinze anos obrigado a ficar sentado em uma cadeira. Mas Andrew o vê como uma criança. Grandes olhos verdes iluminados de felicidade até serem extinguidos para uma angústia dolorosa. Os cachos grudam em sua testa devido ao suor que se acumulava em sua pele. Ele não sabe dizer se está suando no sonho ou se realmente estará suando quando acordar.

Mesmo quando era criança – ou quando tinha quinze anos –, Andrew parecia triste.

A culpa é sua.

Seja um bom garoto para nós.

Você não quer nos decepcionar, não é?

Não chore. Não vai doer tanto.

Andrew acorda, sufocado por soluços que rasgam caminho por sua garganta e preenchem o silencioso apartamento. O peito sobe com força, os pulmões se enchem de ar enquanto Andrew pisca os olhos, sentindo as lágrimas arderem seus olhos.

Se ele já não estivesse chorando, ele iria querer chorar.

Uma mão quente e acolhedora descansa no meio das costas de Andrew. A pele fria de Andrew quase adormece sob a mão de Pietro, que faz suaves círculos em suas costas até sentir Andrew relaxar.

– Está tudo bem. – Pietro garante, sentado na cama após ter sido acordado por Andrew. – Foi só um pesadelo, amor.

Andrew passa as mãos no cabelo, sentindo os cachos úmidos de suor.

– Só um pesadelo. – Andrew repete para se convencer de que não eram somente memórias sombrias que voltaram para atormentá-lo.

– Sim, só um pesadelo.

Pietro alcança uma garrafa de água ao lado da cama e a abre, oferecendo a Andrew.

– Os mesmos pesadelos? – Pietro pergunta.

Quando Pietro diz os mesmos pesadelos, ele se refere a Ultron e a queda interminável que Andrew sofreu nos meses que se seguiram desde que Ultron foi derrotado.

Ao invés de contar a verdade e compartilhar que seus pesadelos não se resumiam mais a Ultron, e sim ao orfanato e seus lares adotivos, Andrew mente como o bom mentiroso que ele era e diz:

Em outra vida - Pietro MaximoffOnde histórias criam vida. Descubra agora