32' - n u m e r o s e t e

737 89 92
                                    

NÃO QUERIA LEVANTAR. Temia até mesmo respirar e atiçar aquela agonia novamente, mas alguém havia batido na porta da enfermaria.

Dominik Luther, o enfermeiro de plantão, saiu de sua mesinha e deixou a partida de damas online para trás, bufando como se trabalhar em um lugar como aquele fosse tudo o que sua mãe não queria para ele. Ainda irritado, abriu a porta e, em um passe de mágica, foi obrigado a recompor a postura.

Oficial Sovereign, o que procura?

Alisson atentou os ouvidos, porém, se manteve de costas para a porta. O travesseiro da maca pinicava sua bochecha, bem sobre o hematoma da recente briga com Jordan — se é que poderia chamar aquilo de briga. Três contra um nunca seria justo, mas se orgulhava de ter deixado um ou dois arranhões para trás.

Entretanto, o contragolpe havia sido pior. Bem pior.

— Vim assim que pude. — Harper Sovereign passou pelo enfermeiro devagar, observando a menina sobre a maca — Como puderam deixar isso acontecer?

O enfermeiro respirou fundo, contendo a vontade óbvio de revirar os olhos. Não era como se recebesse para ficar de babá para um bando de pirralhas arruaceiras, e brigas entre elas eram frequentes. Que culpa tinha se, daquela vez, haviam pesado um pouco a mão na violência?

— Foi um acidente, policial.

— Eu estou vendo uma criança enfaixada em uma cama com marcas permanentes, senhor... — Sovereign parou para ler o nome no crachá do jaleco azul claro — Luther. Acha que nasci ontem a ponto de acreditar que Alisson Graham caiu em cima daquelas brasas?

Escutar seu nome na voz do policial invocava lembranças, ouvir sobre o que acontecera também. Era para ser uma manhã agradável e feliz, para comemorar sua saída na próxima semana, mas claro que o St. Mônica não a deixaria ir sem carregar algo para sempre cravado na pele. Mesmo que já estivesse eternamente maculado na alma.

— Posso vê-la?

— Sinto muito, policial. — Luther o barrou em falso tom penoso — Apenas familiares, ou seja... Ninguém nunca veio.

Alisson cobriu os ouvidos com as mãos, desejando sumir daquele quarto, daquele lugar, daquela existência. Era um fracasso. Um fardo. Uma vergonha. Por isso Elroy, em três meses de internação, nunca havia posto os pés ali. Não seria por conta de um bullying um pouco severo que ele iria começar a baixar o nível.

Um instante de silêncio se passou antes de Harper Sovereign soltar um pesado suspiro.

— Quero que coloquem atenção redobrada em cima dessa garota, e exijo o nome dos responsáveis por isso. Cuidem dela até a semana que vem, quando sair. — ordenou, facilmente mais imponente e respeitado que o atual delegado — Eu vou estar aqui, e vou saber se não tiverem me levado a sério.

As botas duras do policial pisaram corredor a fora, o enfermeiro em seu encalço tentando reparar a primeira impressão lixosa que dera. A quietude retornou ao quarto e, com ela, veio o cansaço. Não havia ninguém ali. Não precisava fingir mais.

Alisson parou de prender a respiração, relaxou os punhos cerrados e a mandíbula. Finalmente, pode chorar.

🎃🎃🎃

A porta estava trancada. Ela trancou. Imaginar que Viola havia planejado aquilo desde que entrara como um furacão ditando ordens não contribuía em nada para abafar as chamas em meu peito.

Usando da minha própria artimanha, fiquei estática e sem palavras quando ela se afastou. Ainda sentia a pressão de sua boca na minha, o contato quente e acolhedor das mãos em meu rosto contrastando com a frieza metálica de vários anéis, o roçar quase inexistente de seu joelho em minhas coxas. Viola Sovereign tinha total consciência do quanto me destruía fazendo coisas desse tipo.

FAKE GAME | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora