♡ cap.18 - mansão mikaelson

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Pela manhã, Rapunzel e Klaus partiram para a mansão Mikaelson. Eles tiraram as malas, levando-as para o quarto de Klaus, que de certa forma agora pertencia a Rapunzel também. Em meio a tantas conturbações, ela demorou a entender a profundidade do convite dele. Morar juntos definitivamente era um avanço no relacionamento, e isso deveria deixa-la feliz. No entanto, sua tristeza permanecia sólida.

"Não deve demorar muito para arrumar isso", seu namorado apontou. Ela não tinha muitas coisas e decidiu que não levaria consigo o que não fosse essencial – que Matt fizesse bom uso do resto. Ela forçou um pequeno sorriso, balançando a cabeça.

As palavras de Matt ecoavam em sua mente, fragmentos da discussão matinal insistindo em atormentá-la: cuidar de mim e de Vicki era a única função que você tinha e conseguiu falhar, como você falha sempre. E você deve ter merda na cabeça pra acreditar que dá pra namorar essa daí. Ela olhou para Klaus, como instintivamente havia olhado após seu irmão proferir essa frase. Ele organizava suas roupas no guarda-roupa. Ela não estava disposta a ajudar.

Você é uma dissimulada maluca e eu tô exausto de ter que aguentar os seus problemas.

Viver com você é uma porcaria.

É sofrido ficar aqui com você.

Tenho nojo de você.

Esses anos todos eu fingi que você não existia e fiquei bem melhor. Agora eu vou fazer isso de novo.

Ela já não sabia o que era de hoje e o que era memória decantada, o acúmulo do que ela aguentou sua vida inteira. Você não percebe que ela é retardada e nunca vai melhorar? ele dissera para Vicki uma vez.

Eu que sou saudável e tenho a cabeça no lugar não mereço ter que conviver com você.

Você não faz nada, sua inútil de merda. É isso que você é.

Chicoteada pelas cenas do passado, Rapunzel sentou-se na cama, tentando controlar a ansiedade irritante que insistia em criar-se dentro de si. Klaus tentou consolá-la, mas foram palavras ao vento.

Desde seu diagnóstico, aos quinze anos, ela era perseguida por essa sensação de insuficiência; sua doença, afinal, era justificativa para as pessoas a desprezarem. Mystic Falls a tratava mal, e, embora ela tivesse sido relativamente feliz em Massachusetts, esse preconceito não se limitava a Mystic Falls.

Rapunzel gostava de se considerar uma pessoa esperançosa, mas havia momentos – e esse era um deles – em que não podia evitar sentir como se estivesse destinada à tristeza, e o máximo que receberia da vida seriam breves momentos de alegria.

E havia Klaus, é claro. Ele era a luz da sua existência, a promessa do amanhã. Ela sabia que, quando se encolhesse em si mesma, quando se cobrisse em seu casulo porque o mundo tornar-se-ia inabitável para ela, ele sentiria sua falta e a chamaria de volta, insistiria em sua melhora.

Já era hora do almoço quando ela fez menção de deitar-se na cama, e ele, já tendo finalizado a arrumação, não a permitiu. "Não pode dormir o dia inteiro", disse.

"Quando eu fico mal, é como se as alucinações dessem trégua por uma parte do dia", ela tentou explicar, afastando-se de suas mãos que tentavam levantá-la. "De dia, para que à noite eu possa dormir, ou à noite, para que pelo dia eu possa descansar. Mas quando eu pioro, elas não me deixam em paz. E é tão, tão exaustivo."

Klaus suspirou, derrotado. "Permitirei que você tire um cochilo, então", ele respondeu, um pouco cômico. "Daqui a pouco teremos que almoçar."

Ela deixou de lado o fato de estar sem apetite, temendo preocupa-lo ainda mais. Por mais que se sentisse um fardo, um estorvo, era incapaz de contestar tamanha devoção. Não apenas ele se apaixonou por ela de volta, como ele constantemente demonstrava essa paixão, demonstrava que se importava – isso era raro em sua vida e Rapunzel não poderia negar nem para si mesma que gostava desse tratamento. Sua compaixão excessiva lhe custava muito; era espontânea, sim, mas não desprovida de esforço. "O mundo é um lugar terrível, é melhor me encontrar com ele em seus termos", Klaus dissera uma vez. Para Rapunzel, ninguém era gentil ou cruel por razões simples, mas sua experiência lhe ensinava que sua vida seria muito mais fácil se as pessoas fossem mais gentis e, embora ser uma boa pessoa nunca a tivesse protegido de pessoas ruins, ela tentava se ater a isso.

Entretanto, talvez não fosse a gentileza que a levara a não devolver a jaqueta que Klaus lhe emprestara, tantos meses atrás, quando sua relação ainda caminhava rente ao amor, escorando-se na amizade. Mais tarde, Klaus mencionaria esse pequeno furto, e ela coraria de vergonha, não pelo ato em si, mas pelo que havia por trás dele – ela só desejava ter algo dele consigo. Tantas noites ela se agasalhou naquela jaqueta e imaginou que ele a abraçava. Tantas outras, ela tomou banho, no afã de sentir-se limpa, secava-se ao máximo e então vestia aquela jaqueta. O couro em sua pele nua, o cheiro de Klaus, a imagem dele, agitavam seu corpo, traziam-no à vida.

Aquela era a jaqueta favorita dele? Ela não tinha como saber, mas ele sempre a estava usando. Será que alguma mulher se aqueceu com ela, alguma vez? Essa resposta ela ainda não tinha, mas ao menos sabia que ele não tinha dormido com ninguém em Mystic Falls. "E desde quando nos conhecemos?", ela tinha continuado a questionar. Klaus ria de sua seriedade, consolava seu nervosismo. "Honestamente, eu não tive tempo sequer para considerar isso", e ela reagia com bochechas coradas e sobrancelhas franzidas, como se estivesse refletindo sobre sua resposta, calculando possibilidades. Mas a vergonha era uma das engrenagens do desejo, evidenciado na continuidade dos meses deles juntos.

Todos ficaram contentes ao receberem a notícia de que de agora em diante ela moraria com eles. Rapunzel havia inocentemente suposto que Klaus combinara isso previamente com sua família, mas, como sempre, ele não estava disposto a discutir suas vontades. "Se for incomodar, tudo bem eu ir embora, mesmo", ela dissera, ao que Rebekah respondeu: "De jeito nenhum! Finalmente tenho outra mulher nessa casa. Esse lugar está cheio demais de testosterona."

Até o final da semana, todos já tinham feito planos com ela.

Kol, que tentava recuperar seus anos perdidos, tinha acabado de assistir os filmes de Star Wars e ouviu cinco minutos consecutivos de explicações físicas e de especulações das naves espaciais – "e isso porque" ela adicionou ao terminar, "eu nem vi os filmes, sabe, eu quase nunca vejo filmes." E, com o nariz franzido, como se refutasse uma teoria absurda: "Além disso, Star Wars nem é assim tão popular nos cursos de Física."

Conversar sobre temas que gostava ajudou Rapunzel a socializar mais com aqueles com quem dividiria a casa. Logo ela descobriu que ela e Elijah compartilhavam a paixão pelo ballet, e ele prontamente lhe contou suas experiências nos mais exuberantes teatros. Há muito tempo ela não pensava em como era sua vida de bailarina amadora, de como se sentia livre a cada passo. A escola de ballet que ela frequentou continuava aberta, e talvez ela pudesse, um dia desses, fazer uma visita.

Rebekah, por sua vez, insistiu que era de extrema necessidade elas fazerem compras, e de fato Rapunzel precisava de algumas coisas. Ela relutou em aceitar emprestado o cartão de Klaus, mas ele insistiu com tanta convicção que pareceu ofensivo negar.

Lindamente, ela foi recebida, tratada com uma gentileza que lhe era rara. Klaus estava certo, ela foi obrigada a admitir: mudar para aquela casa lhe fez bem. Mesmo nos momentos em que ela alucinava, delirava, insistia em trancar-se em si mesma, confundia palavras, agia estranha ("claramente esquizofrênica", como ela costumava falar), eles a auxiliavam, faziam o possível para deixa-la confortável. Ali, ela era querida. Eles se esforçavam pelo seu bem estar não por algum tipo de obrigação ou pena vazia, mas porque gostavam dela.

Era gracioso não se sentir culpada por existir.


Rapunzel • N. MikaelsonWhere stories live. Discover now