Capítulo Único

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Parecia uma miragem sendo vista em pleno deserto.

As mãos trêmulas, a boca seca, as pernas bambas e o coração em agonia.

Mia não se lembrava de já ter vivido algo parecido. O futebol nunca tinha sido o responsável por lhe causar reações tão intensas quanto as que ela sentiu durante aqueles sofridos 96 minutos. Vestida com a camisa vermelha, número 7 nas costas, sem suas usuais cinco estrelas no peito, ela estava ali por ele. Chorava junto a ele, sofria junto a ele, e não mudaria sequer uma vírgula da história que viveu até ali com ele.

Mas a batalha ainda não estava ganha.

A Coreia do Sul havia operado um milagre no Al-Rayyan, porém o 2:1 sobre a seleção portuguesa não garantia a classificação dos tigres asiáticos. Dependiam do Uruguai, que não podia mais marcar em seu jogo, faltando oito longos minutos até o apito final. Talvez os mais longos da vida de Mia, Heungmin, jogadores e comissão técnica coreana, os quais estavam reunidos no centro do campo assistindo o final da partida que definiria seu destino naquele mundial.

Quando os olhos do coreano procuraram por ela, como havia acontecido tantas vezes durante a partida, Mia e Heungmin só conseguiam pensar em tudo o que tiveram que passar para chegar até ali.

Ninguém sabia das noites em claro que passaram juntos, no silêncio de casa, enquanto Son era duramente criticado pelo baixo rendimento em campo no início da temporada.

Ninguém sabia das brigas, desde as mais bobas às mais sérias, que tiveram por não saberem lidar tão bem com a pressão que a vida colocava nas costas de cada um.

Ninguém sabia do medo, do sentimento que beirava o desespero, que ambos sentiram quando ele teve uma lesão às vésperas de uma Copa do Mundo.

Não podia ter sido em vão.

Ela sempre soube, sempre acreditou. Heungmin também acreditou que era possível, por causa dela.

Ele sabia que Mia moveria o mundo para vê-lo feliz. E quando suas pernas não respondiam mais, saber que ela estava por perto era a força que o fazia correr até que não restasse mais tempo para tentar.

Mia estava lá nos gols, nas conquistas, nas lesões, nas vitórias e nas derrotas. Estava lá quando ele saiu aos prantos após a derrota para Gana. Assim como estava lá para vê-lo chorar de alegria quando o apito final no outro jogo carimbou o passaporte dos coreanos para as oitavas de final.

Nenhum dos abraços, sorrisos ou parabéns que Heungmin recebeu durante aquela noite foi tão esperado quanto o que veio dela. Aqueles escassos minutos antes da delegação ir embora, em um canto reservado do estádio, fizeram tudo valer a pena.

— Eu te disse, meu amor. — ela repetia com a voz embargada, em meio ao abraço apertado. — Eu te disse.

Heungmin estava imerso naquele calor, naquele cheiro. Nada além dela era mais importante. Estavam nos braços um do outro, derramando as lágrimas que se acumularam a cada obstáculo que haviam ultrapassado para estar ali.

— Você disse. — o coreano respondeu, secando as lágrimas que molhavam o rosto da namorada. Dividindo sua atenção entre os olhos brilhantes e o sorriso aberto da mulher de sua vida. — Você sempre está certa, meu amor. Sempre.

— Eu sei.

Heungmin balançou a cabeça em negação, sem conseguir parar de sorrir, e a beijou com todo o amor que sentia. Estar com ela era sinônimo de paz. Mia o viu chegar em estado de euforia, porém a mão que mantinha no lado esquerdo do peito dele agora podia sentir as batidas controladas do coração do mais novo.

Hyung! — o casal se separou a tempo de ver Heechan se aproximar, sorrindo ao reconhecer a namorada do amigo com a camisa da Coreia. — Oh, a noona estava na torcida hoje? Foi o nosso amuleto da sorte!

Não só o camisa 11, mas toda a equipe sabia que as coisas eram diferentes quando Mia estava por perto. Era notável que Heungmin parecia ter uma razão a mais para se dedicar em campo.

— Belo gol hoje, Heechan! — Mia parabenizou o atacante dos Wolves.

— Graças ao nosso capitão! — respondeu — Espero que você esteja de vermelho no próximo jogo.

— Seria muito cruel torcer para o Brasil não ser o primeiro do grupo hoje? Não quero ter que escolher entre o meu país e o meu namorado. — a brasileira brincou, sabendo que não existia a menor possibilidade de ficar em qualquer outro lugar se não ao lado de Heungmin.

Seria ele, sempre. Não importava o que havia pela frente. E Mia tinha a certeza de que a recíproca era verdadeira.

— Com certeza ela estará do nosso lado! — Heungmin disse.

— Assim espero! Precisamos ir, hyung. Até mais, noona!

Mia se despediu de Heechan, sem soltar a mão de Heungmin, soltando o ar ao perceber que precisavam se despedir também.

— Eu amo você, não esqueça disso. — ela disse antes de beija-lo rapidamente pela última vez.

— Obrigado por sempre estar aqui. Eu também amo você.

Estar presente nunca foi um sacrifício. Heungmin era um combustível para Mia, havia chegado em sua vida no momento certo.

Afinal, o sol sempre chega após um longo, frio e solitário inverno.

N/A: ——————— Hyung: expressão em coreano (형) utilizada por homens para se dirigir a amigos ou irmãos mais velhos;

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Hyung: expressão em coreano () utilizada por homens para se dirigir a amigos ou irmãos mais velhos;

Noona: expressão em coreano (누나) utilizada por homens para se dirigir a amigas ou irmãs mais velhas.

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VPP é um spoiler. É um pedaço não contado de uma história que já está sendo desenvolvida há alguns meses. Espero que vocês apoiem Mia e Heungmin, e acompanhem o que ainda está por vir. Confesso que é o meu casal favorito de todos que escrevi até hoje!

Eu tava morrendo de saudades! Até breve! 💜

Você Por Perto • Son HeungminWhere stories live. Discover now