Capítulo 1|| Pesadelos

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A noite se estendia, junto com o uivo eletrizante do vento ao passar pelas árvores tenebrosas e magníficas do lado de fora das duas torres do ostentoso castelo do Bem e do Mal, agora unidos. Em um quarto específico, localizado na torre do Bem, a professora e reitora, Dovey, se contorcia em sua cama, suor percorrendo por todo o seu corpo. Sua cabeça latejava. Estava sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo. Sua mão agarrava o lençol furiosamente, uma forma involuntária de se acalmar. Fios de cabelo dourados grudavam em seu rosto, que estava contorcido em uma careta de dor.
Sonhava com a escola sendo destruída, se desmaterializando, junto com todos, incluindo ela própria. Com o tempo, o cenário mudou; estava andando em uma praia deserta, em direção ao mar, escurecido por ondas nervosas. Seu corpo se movia sem seu consentimento e por mais que tentasse, não conseguia parar. A água batia violentamente em sua perna, chegando cada vez mais perto do seu pescoço à medida que andava. Uma onda enorme a derrubou, e justo quando ia afundar, acordou.
Seus olhos estavam esbugalhados, e sua respiração, agitada. Tentou manter os olhos abertos a maior parte do tempo, com medo de que o pesadelo voltasse. Começou a sentir arrepios e se levantou, já que não conseguia dormir. Quando era apenas uma criança, sua mãe costumava dizer:

"Quando pensamentos obscuros te possuírem, pense no seu oposto: pense em coisas boas, o máximo que conseguir, minha pequena!"

Dovey levava isso para a vida inteira, então foi isso que fez. O primeiro pensamento que lhe veio não foi algo, e sim alguém. Uma mulher ruiva, com olhos hipnotizantes e um sorriso lindo, por mais que não lhe fosse comum. Ela pensou em Lesso, e como adorava fazê-la sorrir, por mais que o momentâneamente.
De repente, sentiu uma vontade imensa de ficar na companhia de Lesso, e por mais que fosse tarde, foi o que fez. Colocou um moletom por cima da camisola e calçou seu sapato. Saiu do quarto e foi até o portão da outra torre em silêncio absoluto, para não acordar ninguém. Por estar escuro, usou magia para iluminar o caminho. Depois de andar pelo longo corredor da torre do Mal e subir dois lances de escada, chegou na porta do dormitório de sua amiga. A luz estava apagada, indicando que Lesso estava dormindo. A loira hesitou por alguns minutos, mas por fim bateu na porta. Não aconteceu nada. tentou outra vez. Mais uma vez, nada. Já na terceira vez bateu mais forte, e pôde ouvir um pequeno resmungo mal-humorado, junto com o barulho da fechadura sendo destrancada. A porta se abriu, e Lesso apareceu, com uma expressão zangada.
- Mas que diabos? - disse. - ...Clarissa?
- Posso entrar? - a outra perguntou. Em resposta, a ruiva só a olhou desconfiada e se afastou da porta para dar caminho. Assim que a outra passou, fechou e trancou a porta.
- Você sabe que são duas da manhã, né? - bufou. Ela estava usando um pijama preto, constituído por uma camisa um pouco desabotoada e uma calça larga. Seus olhos estavam franzidos, tentando se acostumar à luz, que agora estava acesa.
- Sabia que você fica fofa quando está com sono? - Sorriu Dovey.
- Não fico, não. - resmungou Lesso, porém, logo em seguida suas bochechas ganharam um tom avermelhado.
- Fica sim!
- Oh, por favor, Clarissa! Dê um tempo! - a ruiva pôs a mão no rosto, indignada. - Não vá me dizer que me acordou só para isso! Sinceramente..
- Não foi por isso! - riu - Eu tive um pesadelo e não consegui dormir.
- Coitadinha! - ironizou Lesso. No fundo, ela realmente sentia pena da amiga, só era cabeça-dura demais para admitir.
- Então - disse Dovey, ignorando seu comentário-, eu pensei se poderia dormir aqui, com você...
As bochechas de Lesso ruborizaram, e ela ficou vermelha que nem um pimentão. Por um momento, ficou quieta, pensando no que dizer.
- O quê?? - Foi a única frase que conseguiu formular. - Você quer dormir aqui... comigo? Na minha cama..?
- Sim! Tudo bem? - perguntou Dovey, animada.
- Ãhn-não...Quer dizer, sim. - A outra gaguejou.
Dovey agradeceu, se lançando em um abraço, que a ruiva impediu rapidamente com a mão.
- Ainda não gosta de abraços, não é? - A loira riu.
- Pode apostar que não.
Lesso foi em direção à cama, girando para o lado para dar espaço para a outra. Quando as duas já estavam acomodadas, ela apagou a luz com um estalar de dedos. O silêncio predominou , até que a ruiva se pronunciou.
- Afinal, com o que você sonhou?
Eu estava me afogando - sussurrou Dovey, pesarosa.
- E você chama isso de pesadelo?
- Lesso!
- Ah, que seja. Tenha uma...boa noite. E, que esteja avisada: se me acordar de novo, ou se mexer muito, eu vou te empurrar no chão, ouviu? - Bocejou Lesso.
- Que cortesia a sua! Vai dormir e para de dizer besteira, vai!
- Eu estava fazendo isso até a senhorita me acordar! - resmungou a outra.
- Mas...
- Shhh!
E assim as duas adormeceram. No começo, havia um grande espaço entre elas, que, com o tempo, foi sumindo. Ao amanhecer, ambas estavam viradas uma para a outra, com as mãos entrelaçadas.

Our Strange Love (Dovesso)Where stories live. Discover now