Prólogo

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Quero alguém pra me valorizar
Dizer que eu amo sem me preocupar
Se é uma verdade ou é mentira
Que no fundo, o futuro vai machucar.

— Poesia acústica 9.

Melinda

Entro na casa da minha melhor amiga completamente destroçada, meu coração tava apertadinho e a única coisa que eu  almejava no momento era poder chorar no colo da única pessoa que iria me fazer ficar bem, nem que pra isso nós duas precise chorar juntas ou enxugar a lágrima uma da outra pelo menos uma última vez.

"Filha, eu consegui uma oportunidade de emprego em outro estado" — as palavras da minha mãe se repete na minha cabeça várias vezes fazendo meus olhos e nariz arder por causa do choro.

Era uma oportunidade incrível para nós duas, mas a minha vida todinha foi aqui no rio de janeiro, na rocinha...

— Lorena... — chamei seu nome com a voz embargada dando leves batidinhas na porta do seu quarto — Lorena...? — chamei mais uma vez e abri a porta com cuidado colocando meu rosto para dentro.

Chamei seu nome mais uma vez e ao ter certeza de que ela não estava aqui fechei novamente a porta e passei pelo corredor descendo as escadas com o rosto inundado pelas lágrimas que teimavam a escorrer.

Caminhei até a porta da frente e assim que eu coloquei a mão na maçaneta ela foi aberta por fora fazendo meu corpo bater de frente com alguma coisa confortável.

Me afastei lentamente e percebi que a coisa confortável da qual eu bati de frente foram os peitos da tia Rute, mãe da Lorena!

— Mel? Porque você estar chorando meu amor, aconteceu algo? — perguntou com a voz doce e eu neguei com a cabeça — Não minta pra mim mocinha, esse seu rostinho vermelho te entrega! — passou a mão no meu rosto enxugando as minhas lágrimas e eu dei de ombros.

— É... Que... A.... Minha... — solucei e ela segurou as minhas mãos me puxando pra sentar no sofá.

— Se acalma e respira junto comigo tá bom? — puxou o ar pra dentro e soltou bem devagarinho — Vamos meu amor, junto comigo! — repetiu a mesma coisa e eu imitei seu gesto me sentindo um pouco mais calma.

— É que a minha mãe finalmente conseguiu uma oportunidade de emprego. — falei encarando nossas mãos ainda unidas.

— Mas isso é  incrível Mel, então você estava chorando de felicidade? — perguntou e eu neguei com a cabeça sentindo o choro vim novamente.

— Não tia, a oportunidade de emprego é mesmo incrível, mas é em outro estado, Eu... Vou... Embora... — voltei a chorar e ela me puxou para um abraço finalmente entendendo o meu desespero.

— Oh meu amor, eu sinto muito! — fez carinho no meu cabelo e eu abracei seu corpo com força — Então você veio aqui desabafar com a Lorena e procurar consolo não foi? — perguntou com a voz calma e eu concordei com a cabeça.

— A senhora sabe onde... Ela... Está... Tia Rute? — perguntei com a voz embargada.

— Sei, ela ficou aguardando na fila do mercado junto com a Giulia, eu só voltei aqui pra pegar o dinheiro que essa cabeça de vento esqueceu! — apontou para cinco notas de duzentos em cima da mesinha de centro — Vamos fazer assim, você sobe para o quarto da Lorena e espera ela lá em cima, eu vou mandar ela vim pra casa e falar com você. — afastou minha cabeça do seu peito e mais uma vez enxugou as minhas lágrimas.

— Tudo bem tia...! — dei um meio sorriso e ela deu um beijo demorado na minha testa.

Ela sorriu pra mim e se levantou do sofá bem devagar, eu levantei logo em seguida e ainda meio perdida subi novamente para o quarto da Lorena, abri a porta e me joguei na sua cama pegando um dos seus travesseiros abraçando com bastante força.

Por mais que eu estivesse feliz pela minha mãe eu não estava preparada pra deixar tudo que eu construir aqui para trás.

Eu de verdade não estava preparada pra deixar a minha melhor amiga, deixar ele...

Escutei um barulho vindo do andar debaixo e continuei quietinha abraçando o travesseiro com força, mas ao escutar a voz dele vindo do corredor eu levantei da cama devagarinho e parei próximo a porta ao perceber que ele não estava sozinho.

— Quando é que aquela pirralha vai sair do seu pé hein? — escutei a voz melosa da Sofia e engoli em seco.

— A Linda? — Gabriel falou e eu me atentei ao escutar meu apelido sair da sua boca.

— É Gabriel! Aliás porque você insiste em chamar ela desse jeito? — perguntou e eu abri a porta bem devagar vendo os dois bem próximos a porta do quarto dele.

— É sério que tu tá com ciúmes de uma garotinha de dezesseis anos? — deu risada e imprensou o corpo dela contra parede.

— Garotinha de dezesseis anos que você tirou a virgindade né? — debochou e ele deu risada negando com a cabeça.

— Eu tirei pô, mas me arrependi na mesma hora tá ligada? Ela é ingênua pra caralho e agora não sai do meu pé! — falou dando um beijo no pescoço dela e aquilo me quebrou.

Eu sabia muito bem que nós dois tínhamos uma diferença de idade bem considerável, mas ele sempre foi muito atencioso comigo e eu sei que ele sabia que eu poderia estar sim me apaixonando por ele. Mas se eu não fazia o seu tipo porque ele me iludiu desse jeito, só foi pra tirar a minha virgindade?

Era só ter me cortado e não me dado nenhuma esperança, porque ele me deu quando falou em uma das nossas conversas que esperaria eu completar dezoito anos pra gente poder ficar juntos.

Senti a minha vista embaçar e o choro veio novamente me fazendo soluçar e começar a tremer, meus olhos se encontram com os dele e assim que ele se deu conta de que eu havia escutado toda conversa engoliu em seco e seu olhar passou a ser de pena.

— Porra, linda... Não era pra você ter escutado esse bagulho! — falou se afastando da Sofia e caminhando na minha direção.

— Era pra ter escutado sim, quem sabe agora ela não se toque. — Sofia falou e eu engoli em seco.

— Cala boca Sofia! — gritou olhando pra ela.

Eu me encostei na parede próxima a porta e encarei ele totalmente sem reação.

— Linda... — tentou me tocar e eu me encolhi mais tentando me afastar dele.

— Não me chama mais assim! — falei séria sentindo meu peito doer — Você mentiu pra mim Gabriel, você falou que iria esperar por mim... — engoli a saliva tentando não chorar na sua frente — Você me iludiu só pra poder tirar a minha virgindade... — senti minha voz embargar.

— Me escuta pô — tentou me tocar de novo e eu neguei com a cabeça — Para com isso Melinda, eu não te iludi porra nenhuma, fui sincero em todos os bagulhos e...

— Não foi porque pra mim você falou uma coisa e pra essa daí você estava falando uma coisa totalmente diferente — interrompi olhando para os dois — Eu não vou confiar em nada do que você falar e quer saber de uma coisa? Por sua causa eu vou amar a ideia de me mudar, assim não vou ser obrigada a olhar pra sua cara! — gritei me sentindo fraca e ele arregalou os olhos.

Ele ficou parado no mesmo lugar e eu olhei pra seu rosto uma última vez sentindo a dor por ter confiado cegamente em uma pessoa que claramente me usou e só estava brincando com os meus sentimentos.

×××

Só para dar um gostinho, se vocês merecerem eu solto todos os personagens!

Meu Declínio Where stories live. Discover now