Capítulo 4

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Eu sempre achei muito engraçado — para não dizer trágico — o rumo que as coisas tomavam na minha vida. Acho que eu poderia escrever um livro com todas as situações inusitadas que eu passei desde que entrei no ensino médio e precisei me virar sem a supervisão dos meus pais. Se eu fosse um passarinho, com certeza seria o que não duraria uma semana na natureza depois de sair do ninho.

Estar em um carro com Jimin, vestindo seu paletó depois do desastre com o zíper do meu vestido, entraria para um capítulo bem cômico desse livro. Pelo menos era o que parecia até aquele momento.

Eu me remexi no banco do carro, um pouco constrangida quando percebi que estava olhando para ele por muito tempo. Jimin não me olhou, mas sorriu e eu soube que estava me percebendo com a visão periférica.

- Chegamos. - ele disse depois de estacionar o carro em frente ao prédio.

Não tive muito tempo para agradecer a carona, já que Jimin saiu do carro e apressadamente abriu a porta para mim. Também não consegui encerrar ali nosso contato porque ele seguiu na minha frente até a porta de entrada.

Ele não vai entrar.

Foi o que pensei ao abrir a porta do prédio. Mas eu não o parei quando entrou comigo no elevador e parou em frente a porta do meu apartamento ao chegarmos no meu andar.

- Já volto. - foi o que eu disse antes de desaparecer em direção ao quarto e deixá-lo plantado perto do sofá, sem ao menos mandá-lo sentar.

Depois que troquei de roupa e voltei para a sala, ele ainda estava lá. De pé.

- Obrigada. - eu disse entregando o paletó a ele.

- Ah, não precisava me entregar agora.

Eu inclinei a cabeça levemente.

- Mas não é isso que você estava esperando? - perguntei.

- Bem... - ele olha sorri sem mostrar os dentes. - não.

Aquilo me pegou de surpresa. Enquanto subíamos até meu apartamento, pude jurar que o único motivo de Jimin estar praticamente me escoltando, era o fato de poder ter certeza que recuperaria o paletó que me emprestou. Mas se aquele não era o motivo...

- Sua casa tem um perfume gostoso. - ele disse se sentando no sofá.

Ok. Ele se auto convidou.

- Quer beber alguma coisa? - perguntei indo até a geladeira.

- O que você tem aí?

Abri a porta da geladeira e olhei para as únicas opções que não levariam Jimin para a cadeia por dirigir embriagado.

- Água? - sorri sem graça.

- Hum... - ele colocou o indicador no queixo. - passo.

Peguei uma cerveja para mim e fechei a porta com o pé. Jimin franziu a testa quando me viu abrindo a tampa da garrafa e tomando um gole.

- Então eu não tenho nada para você beber.

Jimin sorriu como se o que eu acabara de dizer fosse um desafio. Um desafio que ele aceitou e gostou.

- Você é uma péssima anfitriã. - ele disse se levantando e apoiando as mãos na bancada da cozinha.

O único problema é que eu também gostava de desafios.

- Achei que a anfitriã era a pessoa que convidava para entrar. - eu disse bebendo outro gole e sorrindo.

Jimin não pareceu se abalar com a alfinetada e ainda mordeu os lábios para não sorrir.

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