O dia da Provação

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Olá. Tudo bem? Espero que sim. Meu nome? Bem, não tenho mais um nome. Você pode me chamar de Khizy (significa "fracasso" na minha língua). Neste momento estou indo para direção do bayt alraqiq, o maior mercado de escravos da minha nação, Balad Alrayah. Infelizmente não estou indo como um comprador, muito menos como um simples visitante. Estou indo como como uma mercadoria.
Você deve está se perguntando como eu vim para aqui. Ou do porque não estou desesperado ou algo assim. Bem, respondendo a segunda pergunta, só quero deixar claro que sim, estou com medo e não sei qual será o meu futuro. Talvez seja por que minha ficha ainda não caiu ou algo do tipo. Responde a primeira pergunta, vamos ter que voltar um pouco no tempo. Em específico a uma semana atrás.

Meu despertador toca, me tirando do meu sono. Hoje é um dia muito especial. O grande dia do ritual de passagem, que me levaria de um garoto a um homem. Teria todos os direitos de um homem adulto em nossa sociedade. Teria direito a posses, direito de beber bebidas alcoólicas (mesmo que já tenha bebido escondido do meu pai), e o principal: estaria livre da escravidão. Nunca gostei muito dessa ideia, mas oque eu poderia fazer não é mesmo? Sou apenas um garoto, futuro homem, de uma sociedade que é assim a mais de 50 gerações.
Me levanto da minha cama e minha irmã já está ajoelhada na minha frente, esperando minhas ordens. Em dias normais ela não estaria aqui e sim tomando conta da casa toda, como empregada. Mas como hoje é um dia especial para mim, meu avô, o líder atual da casa, mandou ela me auxiliar na preparação para grande provação. Apesar dela ser uma escrava da casa, nunca tive o costume de a tratar mal. Nossa cultura nos ensina dês de cedo que as mulheres são naturalmente submissas aos homens, mas nunca pude tirar da cabeça que ela é minha irmã. Alguém que deveria cuidar e proteger, mesmo ela sendo mas velha que eu. Quando mais novos brincávamos escondido do meu avô e meu Pai. Porém um dia o nosso irmão mais velho viu isso e correu para nós dedura. Eu levei algumas palmadas, mas minha irmã tem uma cicatriz no olho até hoje, devido ao violento castigo que ela recebeu. Diferente do meu irmão, nunca tive interesse em usar minha irmã sexualmente. Apesar de eu ouvir meus colegas falando isso, e já ter visto meu irmão a usando nunca tive interesse nela como também não encontrei nenhuma mulher que realmente me faça sentir algo.
Hoje ela está aqui pronta para me servir.
- Pode preparar meu banho.
Sem dizer nada, ela vai para o meu banheiro, só escuto o som da água caindo dentro da banheira. Começo a me despir ali mesmo deixando meu pijama no chão. Me olho no grande espelho que tinha do lado do meu quarda roupa. Minha aparência era boa, para meus 15 anos. Tinha 1,65 de altura, pele bronzeada, cabelos e olhos negros, poucos pelos no corpo. Meus músculos não eram os mais forte, mas também não eram fracos.
Minha irmã sai do banheiro, tirando minha atenção do espelho. Ela se ajoelha ao lado da porta, com a visão baixa, me dando espaço para entrar. Lá dentro, a banheira estava cheia de água fresca e cristalina. Boinhando nela, estavam algumas ervas e flores, que variam parte da preparação do ritual. Entrando na banheira me deixo afundar nela, deixando toda a água tocar no meu corpo.
No rádio que ficava no banheiro, sintonizado no programa de notícias, os seus locutores falavam com voz entusiasmada:
- Hoje é o grande dia da Provação. O sacerdote da nossa cidade escolheu, hoje por saber que estaria um clima agradável.
- A nossa cidade sorri para os novos cidadãos que viram após o ritual. Mas lembrem-se garotos. Falhar no teste os condenará a uma vida de sofrimento e servidão.
- Isso mesmo. Todos os garotos que se provarem fracos, demonstrarem serem viados, ou não tiverem pulso firme para dominar uma mulher, serão imediatamente eliminados do ritual e escravizados.
"...demonstrarem serem viados...". Essas palavras me deixam um pouco recioso. "Não sou viado... né?", Esse questionamento me lembra de algo do passado. "Ah não adianta ficar pensando nisso agora. Isso é coisa do passado". Minha mente foca em terminar logo meu banho. Quando saio, minha irmã já tinha preparado minha roupa para o ritual: uma túnica branca e Keffiyeh também brancos.

Depois de já arrumado, desço para a cozinha, tomar meu café. Meu pai, mesmo no dia de hoje, estava trabalhando e meu avô com a saúde baixa estava em seu quarto dormindo. Só meu irmão mais velho, que já tinha passado pelo ritual, estava lá. Sento na mesa junto com ele, e minha mãe me serve o café.
- Acho bom você não falhar na provação.- O silêncio é rompido pelo meu irmão.
- Com certeza não é minha ideia falhar.- retruco.
- Lembra daquele seu amigo, né? Ele era um ano mais velho que você e fez o teste ano passado. Resultado: falhou no segundo teste.
Esse amigo meu, era o nosso vizinho. Ele era minha inspiração. Ver ele falhar foi um soque para mim. Meu outro amigo, irmão dele vai fazer o teste hoje também.
- Eu sei irmão. Não se preocupe.
- Acho bom mesmo. Nossa família não tem a desonra da falha a mais de 5 gerações. Se você estragar isso, não vou ter piedade de você.- meu irmão fala de forma séria.
O silêncio novamente reinava no lugar.

KhizyWhere stories live. Discover now