LIVRO 2 DA SÉRIE IMPLACÁVEIS
Na busca em garantir um futuro independente assente na sua grande paixão pela medicina, Portia Wood aceita a sugestão de uma amiga influente na Ton e muda-se para Londres, de modo a tentar exercer o ofício na cap...
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Ficar em casa e acovardar-se não era do seu feitio, e não seria um acontecimento infeliz que iria estremecer a sua coragem. Embora, bem no seu íntimo, envergonhava-se de ter deixado o medo dominar os seus pensamentos e vontades pelos últimos dias.
A verdade é que a visita de Christopher acabou por se tornar num divisor de águas, um incentivo para voltar a conectar-se com a sua verdadeira personalidade e esquecer qualquer receio, por mais justificável que fosse. Tinha outras prioridades na sua vida, e aquele homem vil e seboso não iria tornar-se numa delas.
Assim que saiu do seu apartamento, no dia seguinte à visita de lorde Clermont, com o intuito de dirigir-se ao abrigo, sentiu-se como um coelho que saiu da toca após dias lá confinado a desfrutar daquela escuridão e quietude. Já esteve confinada na sua própria toca por dias suficientes, agora estava na hora de encarar a realidade e retomar a sua rotina.
E pedir desculpas à senhora Lockwood pelo seu desaparecimento sem qualquer justificação.
A rotina da manhã foi a mesma dos outros dias, porém a sua chegada ao abrigo teve um sabor diferente, um sabor de saudade. Sentiu saudades do abrigo, mas foi ela própria que se privou daquele lugar.
Assim que entrou na casa humilde que albergava o abrigo, Selene Watson, a nova voluntária, aproximou-se de si com uma expressão de surpresa.
— Meu Deus, Portia! Por onde tens andado? Faz dias que não sabemos nada de ti.
Portia sorriu com a reação efusiva da colega. Selene era uma jovem bastante agradável de se conviver, para além de bastante empenhada nas suas funções no abrigo. Era impossível não perceber o amor profundo que ela tinha pela medicina, assim como a própria Portia, e foi esse detalhe que as aproximou.
Ambas conversavam bastante nas pausas que faziam, e para além da medicina, compartilhavam as mesmas origens humildes. Selene provinha de uma família numerosa de seis filhos do interior de Newcastle, porém veio para Londres sozinha e sem apoio da família quando anunciou que queria dedicar-se à medicina. Segundo o seu pai, jamais permitiria que a sua filha assumisse a profissão de um homem, que fosse contra a sua natureza e o que é a obrigação de uma mulher na sociedade. Selene não pensou duas vezes e saiu de casa atrás do seu sonho e das suas ambições.
De dia trabalhava no abrigo, e à noite trabalhava numa taverna.
— Foram dias complicados, aconteceu algo que me levou a afastar-me por uns dias, mas já explico tudo...
— Bons olhos a vejam, senhorita Wood. — pronunciou-se Christine Lockwood com um sorriso afável, ao aproximar-se das duas. — Por momentos pensei que tivesse desistido de nós.
Portia sorriu com certo embaraço.
— Jamais faria uma coisa dessas. E não estive ausente por vontade própria, mas primeiro vamos sair da entrada e já conto o que aconteceu.
