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Blakely

Eu enterrei o rosto contra o travesseiro para que abafasse meu gemido.

O despertador vibrava na cômoda. O som estridente e irritante lembrando-me constantemente de que já eram seis horas da manhã e que eu precisava me levantar. Após reunir forças, coloquei meus pés para fora da cama e olhei para minhas meias. Uma diferente da outra. Sem me importar, calcei os sapatos, porque já havia dormido com o uniforme do trabalho. Hoje era sábado, o que significava que eu tinha dois turnos.

Pela manhã, eu iria para meu emprego de meio período em uma cafeteria, de lá seguiria ao Pink Lemonade, um bar universitário, onde eu só ía aos finais de semana, quando a demanda era tão alta que mal dava para se mover lá dentro sem esbarrar em alguém ou tomar uma cotovelada não intencional.

Fui para a cafeteria de metrô, porque ficava meio longe do meu apartamento. Assim que entrei no estabelecimento, fui recebida pelo cheiro familiar de grãos de café e torta de amora. Senti meu estômago roncar. Era como se Gina pudesse escutar, porque disse:

— Você parece faminta. — Ela fez uma pausa, amarrando o avental ao redor da cintura. — E também parece que foi atacada por um guaxinim.

Eu relevei sua gentileza.

— É, estou com fome mesmo. Esqueci de tomar café da manhã. — Bocejei, esforçando-me para manter os olhos abertos.

Minhas pálpebras estavam pesadas. Achava que eu poderia dormir sobre uma das mesas retrôs da cafeteria, ou cochilar enquanto preparava um expresso. Não me lembrava da última vez em que tive uma noite de sono digna, sem me preocupar com meus empregos ou pagar o aluguel em dia.

— Também esqueceu de pentear o cabelo — Diamond surgiu por trás de mim, após o sino tilintar.

Observei-o caminhar até o balcão, posicionando ao lado de Gina. Agora, os dois me lançavam olhares de pena. Fechei a expressão e fui para o banheiro. Ainda não tinha me olhado no espelho hoje, então fiquei meio constrangida por minha aparência estar desgrenhada. Além de realmente estar parecendo que eu havia lutado contra um guaxinim, meu uniforme estava amassado. Ajeitei os cabelos com as mãos e tirei o tubo de batom vermelho do bolso.

Eu amava batom vermelho. Depois de passá-lo, pressionei os lábios um contra o outro.

— Sério, eu daria tudo por uma noite de sono — lamentei, escorando-me contra o balcão de pedidos.

Gina estava de costas para mim, checando uma das máquinas de café. Diamond desapareceu. Provavelmente tinha ido para a cozinha, onde cuidava da bagunça. Gina era a caixa e eu uma garçonete.

— Qualquer coisa? — ela perguntou, olhando-me sobre o ombro.

— Qualquer coisa.

— Até um braço?

— Não me subestime.

O turno começou, após nossa conversa furada dar-se fim. A placa na porta agora dizia "Bem-vindo, estamos abertos" e eu tinha que forçar um sorriso toda vez que ia atender alguém na mesa. Claro que às vezes não dava para segurar a careta quando um engraçadinho dizia que gostaria do meu número com panquecas e bastante xarope de bordo.

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