Extra

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Meus sentidos gritaram quando meu corpo despertou, mas pelos anos de treinamento quem quer que fosse ainda não saberia que eu estava acordado. Primeiro avaliei sem me mover, e senti o cheiro de Lucien pela casa inteira e ouvi seus passos pela sala, então me sentei sentindo que havia dormido um tanto muito relaxado já que minhas asas pareciam se abrir como uma folha amassada.

Meus olhos foram primeiro a janela, ainda era noite, provavelmente logo amanheceria, sequer havia notado o momento no qual me perdi a pouco mais que um cochilo com Lucien abaixo de mim... Anos de treinamento e o macho que estava abaixo de mim só havia me acordado depois de sair do sofá. Que grande mestre espião...

Enxerguei sua silhueta devido às janelas sem cortinas, Lucien já me olhava de onde estava, havia vestido suas roupas e estava próximo a mesa onde um de seus sapatos tinha ficado. Ainda era aquele nobre feérico de postura inigualável, mesmo com roupas amassadas e sujas, penteado desfeito e todo o meu cheiro por seu corpo, de nariz empinado, me olhava como se eu fosse uma prostituta barata.

Eu ficaria calado em qualquer situação, mas a maneira como me senti foi incômoda.

— Nem mesmo ao te proporcionar um orgasmo diminuí seu desdém por mim? — me ergui e caminhei alguns passos em sua direção o provocando em todos os sentidos, o fazendo ver meu tamanho e minha postura, mas Lucien não se moveu até que eu estivesse perto, então olhou no meu rosto. Aquilo inflou minha arrogância, sei dos meus defeitos muito bem mas eu realmente me deixava dominar por esse lado.

Gostei daquele Lucien de algumas horas, ele foi sincero, já este me incomodava mais do que deveria deixar ele saber. Mas sinceramente, o sexo com ele tinha sido sem duvidas marcante e eu ainda conseguia sentir o formigamento de seus dedos por minha asa, e eu queria sim novamente aquilo, ninguem em sã consciência deixaria escapar uma oportunidade de prazer assim.

E ele também parecia envolvido naquele instante, mas agora...

— Não estava me fazendo um favor, Azriel. Sabemos bem que queria isso — e ele também, mas parecia que agora seria mais difícil arrancar algo dele. Por isso suspirei, ficando mais próximo e quando Lucien ousou desviar eu dei um passo, sem mover sequer minha mão ou minhas sombras mas o fiz me olhar de cima a baixo rapidamente, ele respirou fundo quase como se tentasse disfarçar o que fazia mas também não recuou, ousou erguer mais o nariz e esperou, me olhando com cuidado como se eu fosse fazer algo a respeito, realmente tinha uma vasta ideia mas primeiro tinha que transparecer não ser uma ameaça como ele parecia me ver.

— E ainda quero, não terminei — ele cerrou os olhos com curiosidade, parecia que não esperava por isso — e quero aquele Lucien de instantes atrás, não esse, essa defesa me tira a paciência — o sorriso leve que ele me deu pareceu involuntário e sumiu no mesmo instante, ele não admitiria mas sabíamos que eu havia acertado.

— Nunca lhe tratei com desdém. Nem antes, nem agora, muito menos hoje. Estava fazendo meu trabalho, em uma corte desconhecida, com pessoas que são o mesmo para mim. Estar aqui não me torna imune, eu ainda posso me tornar o "bode expiatório" muito facilmente — ele retrucou rapidamente, com uma fala totalmente pronta e eu bufei incomodado, ele faz isso bem pra cacete, e estava preparado, e eu odiava isso, porque se Lucien havia se adiantado em um momento assim eu estava em desvantagem.

Ele entreabriu a boca indicando que continuaria e se aproximou somente um pouco, sua mão repousando em meu braço.

— Mas, se quer isso realmente, posso assumir que manteremos isso entre nós e nada vai mudar?

Ele realmente pensava o que eu acreditava que pensava? Entendia que sua preocupação era sua reputação, Velaris não é sua casa e eu me esquecia disso, nós, a nossa corte, não somos uma família para ele. Não fomos os melhores, não merecíamos menos do que ele vinha fazendo, com todos e comigo, mas aquela pergunta era demais.

Sigilo - Lucien e AzrielWhere stories live. Discover now