Capítulo 49

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Ela estava dentro do carro, na porta da igreja azul e branca. Respirava nervosa, Berenice estava ao seu lado, esperando a hora certo para sair do carro com a amiga. Angélica olhou para igreja novamente. Sorriu. Há mais de um ano eles estavam parados na frente dele. Miguel dizia para eles entraram para agradecer. Naquela época ela dizia que Deus tinha a abandonado. Mas agora ela sabia... Ele nunca a deixou sozinha.
— E então? Preparada para virar a rainha do chuchu? — escutou a voz da amiga.
— Achei que eu já fosse a rainha do chuchu. — retrucou com graça.
— Isso é, já tem até herdeiros. — Berenice respondeu rindo.
Angélica riu, se lembrando de Davi, que tinha feito 1 ano ontem, e eles puderam comemorar com toda a família na Ilha. Beatriz por si só era um show a parte. Com seus seis meses, a menina atraia a atenção de todos com seus olhos verdes e cabelos em tom de cobre, um pouco mais escuros que os de Angélica, não negando de quem ela era filha. Davi, porém, tinha os olhos escuros, e quem os via não diria que Angélica não era mãe biológica dele.
Mas ele era seu filho. E ela o amava com todas as forças. E já sabia que ele deveria estar fazendo sucesso dentro da igreja.
E sabia também que Miguel deveria estar passando a mão da nuca em sinal de nervosismo. Tinha que entrar logo, antes que seu noivo infartasse. Viu seu pai descendo os degraus da escadaria da igreja e cutucou Berenice para saírem. Uma pequena aglomeração de curiosos se juntou no local, e logo que a noiva saiu do carro, bateram palmas.
Berenice entrou na igreja primeiro, como uma boa dama de honra.
Angélica ficou parada com o pai na porta da igreja. Ramiro olhou para a filha, ela estava maravilhosa. Ele a beijou na testa e sorriu.
— Está maravilhosa...
— Obrigada, pai. — ela apertou a mão em seu braço. — Estou nervosa.
— Não se preocupe, eu estou aqui. — ele falou firme, com um sorriso. — Eu sempre vou estar aqui.

A ruiva olhou para ele com os olhos marejados e sorriu. A porta da igreja se abriu para ela, e lá no altar ela viu o amor de sua vida, com um terno azul, sorrindo para ela. Os olhos verdes brilhavam como joias e ela sentiu o estômago ser invadido por borboletas como no dia em que o viu pela primeira vez.
Angélica caminhou ao lado do pai, sorrindo. Miguel deixou uma lágrima cair, o que a fez rir. Quando Ramiro a entregou para o noivo, o agrônomo beijou sua mão. O padre tinha certeza que nunca tinha visto um casal tão apaixonado. A cerimonia foi simples, mas emocionante, e na hora dos votos, não poderia ser diferente. Angélica surpreendeu todos, até o padre, tirando um pequeno papel de dentro do suave decote do vestido. Miguel riu, pouco surpreso.
Ela abriu o papel e segurou a mão dele na sua.
— Miguel... aqui estamos. — ela começou a ler com um sorriso. — Que ano louco que passamos, mas passamos juntos. Quando eu ti vi pela primeira vez, não sabia que tudo mudaria tanto. E para a melhor. Você me mostrou o melhor do amor, da honestidade e de Deus. Há mais de um ano estávamos na porta dessa igreja, você queria agradecer, mas eu achava não ter motivos para isso. Hoje eu vejo que estava errada. Olho para os nossos filhos e agradeço todo dia, olho para nossa grande família e penso como temos que agradecer mesmo.
Angélica fechou o papel e o olhou nos olhos.
— Nós sonhamos com uma vida, e assim a gente a fez. Obrigada por nunca ter desistido de nós. — ela respirou fundo segurando as lágrimas. — Eu te amo... e nenhuma medida de tempo com você vai ser o suficiente para eu provar isso, mas vamos começar com 'para sempre'
Miguel olhou para o padre, desesperado para que o sacerdote os declarasse marido e mulher. O homem tinha lágrimas no olhar, e rapidamente fez o que tinha que ser feito.
— Eu vos declaro marido e mulher. — o padre sorriu para Miguel. — Pode beijar a noiva.

O agrônomo segurou o rosto dela nas mãos e a beijou. A igreja toda ficou de pé e bateu palmas. Todo mundo ali tinha acompanhado a montanha russa do último ano e sabiam que se existia um casal que merecia o dia de hoje, esse casal era Miguel e Angélica.
Os dois saíram da igreja e tiveram a clássica chuva de arroz. Foram para o Yacht Club da Ilha, onde Fernanda tinha preparado toda a recepção para eles. Quando chegaram, se sentaram em uma semana cumprida, Cecília ao lado de Miguel, Ramiro ao lado de Angélica. Davi estava no colo da mãe, como sempre gostou de ficar, e Beatriz era a menina do papai, por isso já estava dormindo nos braços de Miguel.
Os dois estavam em um misto de felicidade, uma vontade de gritar tamanha era a alegria. Não conseguiam parar de se olhar.
A recepção foi agradável, eles dançaram, brincaram. Os homens fizeram o clássico jogo da gravata, enquanto Angélica fez o da meia calça. Ela teve que se controlar muito quando sentiu as mãos dele subirem por sua perna para tirar o tecido.
Depois de toda a bagunça, eles dançavam no meio da pista.
— Está difícil escolher o dia mais feliz da minha vida desse jeito. — ele falou brincando enquanto acariciava o braço da esposa.
— Por que? — ela perguntou rindo.
— Cada dia com você tem uma coisa nova... algo que torna tudo mais especial... como você consegue?
Angélica riu, olhando para o lado.
— É o meu jeito... você não consegue resistir...
Miguel a puxou para mais perto.
— Não mesmo, não vejo a hora de estarmos sozinhos... — ele disse com aquela voz rouca.
— Se controle, Sr. Aguiar, ainda temos que colocar nossos filhos para dormir antes de irmos para nosso hotel.
Depois da festa, os convidados foram para seus hotéis. Davi e Beatriz ficariam com Tobias e Donatella, já que eles estavam acostumados a cuidar de bebê. Berenice até se ofereceu, mas Angélica ficou sentida de estragar um momento de descontração da amiga com o marido. Maria Antônia também se ofereceu, dizendo que já queria a treinar, o que assustou Hugo e Oxente, arrancando risadas da mãe.

Angélica se trocou para um vestido mais leve, e junto com Miguel, levaram os filhos para o flat que Tobias tinha alugado. Saíram do carro e já viram Donatella os esperando na porta. A ruiva demorou um pouco mais para se desgrudar de Davi.
— Será que eles vão ficar bem sem a gente? — ela perguntou preocupada e Tobias riu. — É sério! Eles não estão acostumados... e se estranharem?
— Estranharem o tio Tobias? Acho difícil, essa princesa aqui me ama. — disse o irmão, acariciando o rostinho da sobrinha que já dormia tranquila no berço.
Miguel se aproximou de Angélica e sorriu.
— Eles vão ficar bem, qualquer coisa eles ligam para a gente e viemos busca-los.
Donatella estendeu os braços para pegar Davi e sorriu quando o menino nem estranhou o colo diferente.
— Vão aproveitar a noite de vocês... quem sabe já não colocam outro no forninho? — Donatella disse brincando, o que assustou Miguel, que saiu puxando Angélica pela mão antes que ela se empolgasse com a história.
Tobias viu o cunhado entrar no carro com pressa e riu. Donatella colocou Davi no berço e se aproximou do marido.
— Ótima tática para mandar os dois embora logo. — ele falou, a abraçando de lado.
— É mesmo...
— Imagina o susto quando eles souberem que o forninho em produção é esse aqui. — ele falou, colocando a mão no ventre da mulher, sorrindo.
Donatella sorriu para o marido e pousou sua mão sobre a dele.
— Vamos contar, só não agora. — ela se virou para os berços. — Teremos uma noite bem cheia.
Ramiro ria leve de uma coisa que a mulher tinha dito. Ele não se lembrava de ter se divertido tanto com alguém nos últimos tempos, em conversar sobre algo que não fosse empresa e filhos. Verdade seja dita, fazia tempo que ele não saia sendo simplesmente o homem Ramiro, e não o pai ou o empresário.

Cecília lhe contava sobre uma arte que um aluno tinha feito e como ela queria ter ficado brava, mas só conseguia rir na hora, fazendo a classe toda rir. O homem estava no bar do hotel tomando uma taça de vinho quando viu que Cecília passava. Ele nem sabia que e ela estava hospedada no mesmo hotel, e foi inevitável não chama-la para se sentar com ele.
Agora conversavam como se conhecessem há anos. Ela era uma mulher incrível, e Ramiro estava honestamente encantado.
Foram taças, e depois pediram um jantar, e mais taças. No final do jantar, Cecília estava vermelha e rindo como uma menina.
— Eu acho melhor subir para meu quarto. — ela disse, rindo e se levantando.
Ramiro se levantou junto, arrumando o terno. Cecília lhe deu um abraço e se afastou com um sorriso. Ele sorria feito um bobo, sabia disso, mas o que não esperava era seu corpo ser tomado por um impulso. Antes que ela sumisse de vista, Ramiro a chamou e andou até ela em passos largos.
— Eu sei que parece loucura, mas eu adoraria jantar com a senhora mais uma vez. — ele disse com um sorriso tímido.
— Eu vou adorar. — ela respondeu, agora a vermelhidão de seu rosto de uma origem desconhecida.
Vinho ou timidez?
O que eles sabiam era que naquela Ilha, naquela noite, tudo se encaixou como nunca. Os casais mais apaixonados, os filhos mais amados, caminhos e destinos muito bem traçados.
A vida era boa novamente.

Chão de GizWhere stories live. Discover now