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"O que eu desejo? Onde eu quero chegar? Pelo que

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"O que eu desejo? Onde eu quero chegar? Pelo que... Eu vivo?"

  Em algum momento de nossas vidas, todos nós faremos estas perguntas. Nos questionaremos sobre a razão, o motivo, a finalidade de nossos atos. A pequena Aramélia, não passava um dia sem pensar sobre isso, estava aflita sobre o chão fino em que caminhava, onde a qualquer momento, ela poderia desabar.

  A menina do campo que não tinha expectativas. A sobrevivente, que jurou vingança por seus amigos. A nobre amiga, que prometeu um dia voltar para aqueles que ama. A cavaleira honrada, que viajava em busca de uma torre para salvar o mundo. Qual delas ainda existe?

  Com o coração ainda mais dividido que nunca, quebrado, a peregrina de olho vendado viajou pelas terras esquecidas. Cruzando as fronteiras de Lemiriun e Alkanora, desbravando suas florestas intermináveis, completamente sozinha. Tanto tempo se passou, tantos males a maculou, o suficiente para já ter esquecido o propósito de seu objetivo.

  O mundo cairá em escuridão? Pessoas estão se tornando monstros, perdendo a sua luz, porque? O que isso significa? Os deuses... Quem são eles afinal? Ladrões do poder, ou meros injustiçados? A verdade há de estar no fim desta jornada...

  Alguns meses se passaram, sem qualquer contato ou lembrança a ser guardada, presa em seus próprios pensamentos. E, antes que percebesse, a viajante escalava o cume de uma montanha ao sul de Ya'Horaa, em que uma imponente torre branca tocava os céus.

  A chuva lavou os olhos chorosos da garota, que segurava firme nos rochedos e gritava para suportar a fome e o frio. Quando foi a última vez que comeu? Porque continuou a viagem neste clima? A resposta era simples, ela precisava terminar isto de uma vez por todas. Talvez somente assim encontrasse alguma paz.

  Grama molhada preencheu suas mãos, suas pernas tremiam, e por fim, os portões da torre rangeram com a sua chegada.

  Um gigantesco salão oval, de piso brilhante e lustroso, com grandes figuras de prata e pilastras rústicas de marfim puro. Nas estátuas, cavaleiros de todos os tipos eram exibidos, cada um representando sua própria luta. Um detalhe curioso logo chamou a atenção de Aramélia, uma estranha mancha de sangue seco embaixo de um magnífico Cálice de ouro branco, onde uma desconcertante Luz flutuava no ar.

  Aquele poder emanado, ressoava com cada poro de seu corpo, e seu brilho quase poderia cegá-la. Uma sensação doce, nostálgica e... Aconchegante. Era como estar de volta ao lar... Mas lar, de quem?

— Você... É o próximo Guardião?

  Acompanhada de tosses e rangidos, uma voz reverberou detrás do cálice, originada de um velho sentado ao fundo do salão. Ele era maior que a média das pessoas, mas ainda menor que o gigante Yagameth. Trajava uma longa túnica surrada e sandálias de palha, além de inúmeros anéis em seus dedos esguios. Feições enigmáticas, sem cabelos e apenas uma comprida barba branca, tão quanto a de Arudin em Lirudhia.

— Você estava me esperando? — Respondeu Aramélia, caminhando bem devagar até o estranho gigante.

— Eu esperei por tempo demais... Com esperança e medo. No entanto, se encontrou este lugar, você tem os olhos do Dragão, o protegido de Yagameth. Sendo assim, não tenho dúvidas de que é uma... Não, a última Guardiã da Luz.

— Quem é você? E afinal... Por que eu estou aqui? — Questionou a garota, impaciente — E tive de fazer coisas horríveis e me afastar de pessoas importantes para chegar aqui, então, me diga pelo que!!

  O velho homem abraçou seu cajado de madeira, buscando palavras na luz à sua frente.

— Meu nome é Beraveth, um antigo Guardião. Você já deve ter ouvido sobre nós, já deve ter ouvido parte de nossa história. Tudo começou com uma tribo, que conheceram um poder além de sua compreensão. E sem respostas, a chamaram de benção da Deusa Alka, dando início ao povo Alkaloriano.

— Eu ouvi que eram bárbaros de merda... Que faziam atrocidades — Comentou a cavaleira, recordando das palavras de seu mestre.

— Não, eles eram como qualquer outra tribo, pelo menos no começo. Com pura fé e devoção, eles cresceram cada vez mais, quase como um império. Os Alkalorianos então fizeram esta torre, o maior símbolo de amor a sua deusa... Mas, este crescimento e o fato de terem a Luz somente para si, incitou o ódio — Explicou Beraveth, com uma expressão amarga — A inveja deu início a uma guerra, e do medo, surgiram os Guardiões da Luz. Os Alkalorianos recrutaram os melhores guerreiros de cada canto do mundo, para o único propósito de proteger a benção da vida das mãos inimigas, fosse humano ou não.

  A jovem abaixou a cabeça, lembrando-se do título que o gigante lhe dera.

— Mas uma Guardiã falhou, não é?

— Todos os Guardiões morreram na guerra, protegendo os moradores... E nesta noite tempestuosa, um homem aproveitou-se da distração para chegar até a torre, onde lá encontrou a única defensora que não abandonou seu propósito. A Cavaleira de Marfim...

— Zeragon.

— Sim... Eles lutaram arduamente, ambos implacáveis, o suficiente para atrair a atenção de muitos padres para assistir este embate e orar por sua defensora. Mas, quando a cavaleira estava prestes a dar seu golpe final... A imagem de um Demônio surgiu diante de todos, e o sangue puro de nossa santa foi derramado perante o cálice. Zeragon colocou suas mãos imundas em nossa Luz, e parte dela fora absorvida por ele, causando uma catastrófica explosão.

— Por que somente uma parte? Por que não o impediram?! — Gritou Aramélia, chegando mais perto de Beraveth.

— É preciso mais do que a mera existência para suportar tanta Luz, ainda assim, Zeragon pegou metade do poder, o suficiente para derrotar qualquer um em sua presença. E aquela explosão, de alguma forma, bagunçou o espaço-tempo... Movendo a Torre de lugar, quase como se a Luz estivesse lutando para proteger-se.

— Por isso todos a perderam... E só com o olho do dragão a encontrei... — Murmurou Aramélia, ligando os pontos desta sinuosa lenda.

— O medo deu espaço à loucura, à perdição. Os Alkalorianos tornaram-se um povo aflito e em declínio, onde passaram a governar por supremacia e ódio, até que, a mão de um novo Usurpador o destruiu. Houveram apenas três usurpadores em toda a história, ainda que isto tenha sido o bastante para quase extinguir a luz para sempre — Beraveth, com o bater de seu cajado, ergueu-se com todas as suas forças — Sendo assim, esta pequena brasa é a nossa única chance de reaver a chama.

  Sem qualquer troca de palavras, o velho segurou a mão de Aramélia e a orientou até o grande cálice, o local do último resquício de Luz.

— O que está fazendo?! Essa não é a única luz que nos resta? Se eu pegar vamos todos morrer!!

— Escute Guardiã, se a Luz apagar somente os deuses e iluminados continuarão vivos... E para impedir isso, você será o receptáculo, o novo cálice... Seja a nossa Luz!!

— O... Que...?!

  A pequena mão tocou a maior de todas as incongruências, a louvada dádiva dos povos antigos, a origem de todos os nossos sonhos. O ínfimo raciocínio pareceu trivial, a compreensão absoluta tornou-se real por uma mera fração de segundos... O conhecimentos, o poder, a existência, de um Deus.

  Uma explosão imprescindível de luz branca inundou o salão oval pela última vez, e assim deu-se a luz ao novo receptáculo, uma nova Deusa perante os mortais. Aramélia Draksen, A Deusa da Luz...

  Entre as reverberações do tempo e espaço, a voz do gigante ecoou em desespero e esperança. O futuro do mundo agora estava em suas mãos, a última de todos os guardiões...

— Mate todos os falsos Deuses, recupera a Luz que nos é por direito. A justiça e a verdade estarão do teu lado. Eu oro a ti minha santa... Salve nosso mundo...!

ɪᴠᴏʀʏ ᴋɴɪɢʜᴛWhere stories live. Discover now