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Olympia decidiu o que queria fazer durante toda a sua vida em uma aula de literatura que assistiu enquanto cursava o seu segundo ano do ensino médio. O slide sobre simbolismo estava no quadro branco quando a professora começou a explicar sobre a escola literária. A menina de cabelos longos e castanhos pensou que queria saber mais sobre tudo isso e sua decisão foi facilitada pelo fato dela ainda não ter decidido sua futura profissão. Ironicamente, hoje, sentada em um restaurante com uma taça de vinho à sua frente, ela ainda não sabe qual é sua futura profissão. A brasileira está em processo de produção de seu projeto final e ainda não sabe o que irá fazer ao acabar o curso.

— Boa noite, Olympia, certo? — Ela foi interrompida de seus pensamentos por uma voz desconhecida. Sinceramente, ela não pensava que ele apareceria, não após 30 minutos de atraso.

Ele era exatamente como aparecia nas fotos do site. É bonito, alto, em forma, para dizer no mínimo; Ah, a quem queremos enganar? Ele parecia um Deus grego vestido de calças cáqui bege e uma blusa social, além do cabelo perfeitamente alinhado. É uma certeza de que se esse encontro fosse à luz do dia ele teria óculos escuros pendurados na camisa. Mas não, o relógio marcava exatamente 20:30, 30 minutos após o horário marcado.

— Eu pensava que os britânicos eram conhecidos pela pontualidade. — Ela notou bem e ele coçou a nuca. Os cabelos castanhos de Olympia caíam em seus ombros, já que eles ficavam basicamente na altura do mesmo, contrastando com seu vestido vermelho curto. Ele estava extremamente arrependido.

— Me desculpa por isso, eu... simplesmente me atrasei, mas quero começar agora o encontro, se você ainda quiser. — A fala fez ela bufar, mas também se ajeitar na cadeira e arrumar sua postura, dando ao homem a abertura para sentar. — Oi, eu sou George Russell.

— É um prazer finalmente te conhecer pessoalmente, George. — Falou abrindo o melhor sorriso que tinha nesse momento. George viu que ela não estava muito feliz, então esse era seu objetivo da noite: fazer ela sorrir verdadeiramente.

Os dois estavam conversando há um tempo pela internet e George não estava 100% seguro de que era a hora de se conhecerem pessoalmente, mas era aparente que Olympia não é a melhor pessoa com quem conversar por mensagens e também não se sentiu seguro para pedir ligação, então um encontro foi a última opção. Ele é uma pessoa sociável, não era exatamente esse o problema, eram outros fatores, outras pessoas.

— Igualmente. — Sorriu e olhou para a taça de vinho. — Essa é a sua... terceira? — Tentou considerar o tempo.

— Eu sou uma pessoa decente, George. — Falou com humor, o que fez ele sorrir verdadeiramente pela primeira vez. — É ainda a primeira, não toquei nela. Não sabia se precisaria. — Se apoiou na mesa.

— Você está muito bonita, Olympia. — Russell não mediu discrição para fazer isso ou para olhar seu pescoço e colo, exposto pela posição em que estava.

Ela não estava acostumada a receber esse tipo de elogio. No ensino médio, ela era a menina do grupo focada nos estudos, que saía sempre sem par. Quando chegou na Inglaterra, não pensou muito nisso, namorou algumas pessoas, mas nunca era ninguém que lhe interessasse inteiramente. Talvez essa experiência sirva para conhecer alguém e talvez uma dessas pessoas seja George Russell. O britânico está à sua frente, com os olhos claros brilhantes e um semblante honesto.

— Obrigada, George. — Ela agradeceu e sorriu, sem mostrar os dentes. — É estranho, eu nunca tinha escutado sua voz, você nunca me mandou um áudio. — Observou, lembrando que não sabia que era ele quando a chamou.

— Pois é, é uma das ferramentas que menos uso. Acho que talvez incomode muito a pessoa que recebe. — Deu de ombros explicando e pegando o cardápio.

Os dois engataram em uma boa conversa, aprendendo detalhes que não é possível notar, descobrir ou aprender virtualmente. Essa é a mágica do encontro, algo que muitos não gostam. É compreensível não gostar deles, mas é inegável que é só com ele, em uma conversa cara a cara – seja ela desconfortável ou não –, que você consegue ver o real caráter de uma pessoa. George estava encantado com aquilo. Fazia meses desde que não ia em um encontro, com todo o trabalho e viagens, ficava impossível parar em Londres para tentar conhecer alguém legal.

— Você acredita em amor à primeira vista? — George perguntou depois de um tempo encantado, a escutando falar. — Digo, você estuda literatura, provavelmente deve ter tido contato com esse tipo de discussão. — A pergunta não a assustou, muito pelo contrário, isso só mostrava o tipo de pessoa que ele é.

— É algo complicado. Não acho que é possível sentir amor na primeira vez em que vê a pessoa, o amor é algo muito forte. Acho que é tolice o ser humano dizer isso e sequer cogitar amor à primeira vista. — Admitiu, gostando de responder ele. — Acho que há encanto à primeira vista, certamente. Algo forte que te faz desejar conhecer a pessoa que você viu. — Tombou a cabeça para o outro lado, encostando no ombro e observando George.

O restaurante tinha uma luz alaranjada, que fazia a pele de George brilhar ainda mais do que normalmente deveria acontecer. Ele estava claramente bronzeado, deve ter vindo de algum lugar com o sol forte, que obviamente não era Londres. Ela o admirou por toda a noite e foi algo recíproco, ele não tirou os olhos delas por um segundo sequer. Os dois conversavam como se não houvesse amanhã, até que deu dez horas da noite, quando Olympia decidiu que era hora de ir embora. George pagou a conta discretamente, sem que ela pudesse notar ou contradizer e logo saíram do restaurante.

— Esse encontro foi... — Ele buscava palavras enquanto tentavam se despedir na calçada do restaurante. — Incrível, de verdade, Olympia. — Pegou nos braços da mulher. — Eu espero que possamos continuar a se falar e ir em um segundo encontro. Prometo que será sem atrasos dessa vez. — Os dois sorriram.

— Eu me sinto exatamente da mesma forma, George. — Ela falou sinceramente e suspirou, tirando um pouco do peso que sentia em suas costas. — Obrigada pela noite. — Olhava fundo nos olhos claros do homem.

Em um sorriso rápido ele conseguiu passar total segurança para ela, o suficiente para a fazer relaxar totalmente. Dando um passo para frente, foi Olympia que puxou o primeiro beijo dos dois. Foi ela quem fez ele arrepiar com o toque em seu pescoço, que puxou ele para baixo e juntou seus lábios com os dele. Foi ela quem fez ele segurar sua cintura pela primeira vez por querer mais proximidade entre os dois. Foi ela quem iniciou isso e foi ela quem se afastou e deu um sorriso. Ele se sentiu completo por esta noite, ela deu um sorriso inteiramente sincero. Após o beijo, ela abriu um sorriso e olhou para ele.

— Tchau, George. — Cessou o toque dos dois. — Te vejo qualquer dia desses. Boa noite. — Se virou e foi embora, deixando o mesmo sem palavras.

Ela fez sinal para um táxi parar e olhou rapidamente para George antes de entrar. A conexão dos dois foi incrível, o que de certa forma a assustava. Seu último namorado foi já em Londres e a conexão com ele não foi dessa forma. Por isso, ligou para sua amiga.

— Maya? Eu estou completamente fodida. — Passou as mãos pelo cabelo. — Eu achei um romântico.

Beethoven | George RussellWhere stories live. Discover now