ancestral

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ancestral é a força mas também a fraqueza
ancestral é tudo que me fez
chegar até aqui
ancestral é meu sorriso negro
ancestrais são minhas lágrimas negras
ancestral é minha insistência em ficar
ancestral é minha vontade de partir

é tudo aquilo que me compõe, dispõe, repõe, transpõe
ancestral é meu DNA
é meu bem e meu mau-estar

meu cansaço retrógrado
minha fala constante
minha busca por ócio
o retrato pintado de meus avós em minha estante
os mais de 200 anos que ainda estou atrasada
as correntes que não me prendem fisicamente
mas mentalmente aqui ainda estão
ancestral é meu fino
ancestral é meu espaço-destino

quem te chama pra mesa de decisão?
quem caminha ao lado?
quem te põe no teu lugar?
quem te aconselha?
quem te dá enquadro?

ter que cortar caminho nessas ruas todos os dias
ter que continuar a andar sozinha nessas avenidas
ter que abraçar solitude quando queria um carinho
ter que voar quando eu só queria um ninho

ancestrais são minhas gírias
que giram em minha fala todos os dias
ancestrais são minhas irmãs
que me acolhem quando nem eu mesma me acolhia
ancestrais são esses trajetos
o chão de terra batida
ancestral é uma memória esquecida
ancestral é uma preta forte
mais ancestral ainda é uma preta fortalecida

a partir daqui traço novo caminho
corto os mato, tiro as pedra
e se eu me cortar nos espinho
me curo, mudo a rota, talvez por sorte ou força ativa
choro, ergo a cabeça e me reconstruo no final
porque só d'eu tá aqui viva
também sou vida ancestral

Poesias de RetalhoWhere stories live. Discover now