01 de Janeiro de 2020

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Helô deitou na cama finalmente, depois de chegar da festa na casa de Yone.

Estava um pouco bêbada e sentiu o quarto girar levemente quando fechou os olhos.

Abraçou um travesseiro e engoliu o choro deitada naquela cama vazia, naquele apartamento vazio, mas tentou não pensar que o que estava realmente vazio era o seu coração.

Todos os dias buscava preencher essa falta, se acumulando de trabalho, correndo cada vez  1km a mais na esteira da academia, erguendo mais peso, tomando uma taça a mais de vinho antes de dormir para pegar no sono mais rápido, para que os dias pudessem passar. Era só isso que ela queria, que os dias passassem depressa e levassem com eles essa dor sufocante que em seu peito fazia morada. 

Helô se assustou quando o celular vibrou alto em cima da mesinha de cabeceira, abriu os olhos e apalpou o celular.

"Stenio" apareceu no visor. Se coração deu um pulo no peito e imediatamente ela se sentiu enjoada, virou de lado com o celular na mão e pensou em deixar a ligação cair na caixa postal. Mas no fundo sabia que jamais teria coragem de fazer isso.

-Alô?- ela disse em voz baixa ao atender o aparelho.

-Oi Helô – Stenio também falava baixo.

Mas então ele ficou em silêncio e Helô ficou ouvindo a respiração alta dele pelo celular.

Não havia outro barulho no ambiente, ela poderia dizer que ele também estava em um quarto.

-Liguei porque hoje é ano novo – ele disse arrastando um pouco a voz e Helô percebeu que ele estava embriagado.

-Hoje é ano novo – ela concordou quase num sussurro.

-Estou em Portugal – ele anunciou.

-Em Portugal? – Helô aumentou um pouco o tom de voz surpresa, ela sabia que ele tinha viajando pois tinha conversado com Laís, mas imaginava que ele já tivesse voltado para o Brasil.

-Eu vim a trabalho – ele explicou – Mas não vi razão para voltar para as festas de fim de ano, não tô no clima de comemorar – a voz de Stenio era triste.

Helô quis desligar o telefone naquela hora, não queria deixar que a tristeza de Stenio se misturasse com a dela, sentir que ele também estava mal, era mais tristeza pra carregar no seu coração e ela já não aguentava mais carregar nem a sua própria.

Mas ouvir a voz dele, escutar sua respiração, parecia que isso tapava aos poucos os buracos em seu coração.

-Aqui o sol começou a nascer, mas não consigo dormir, nem depois das pelo menos 10 taças de vinho que eu tomei. Mas estou bem orgulhoso de mim - ele foi diminuindo o tom de voz, quase um sussurro - aguentei quase 5 horas encarando o celular sem ligar pra você. 

Helô suspirou alto no telefone, não sabia ao certo o que responder. Mas se sentiu miserável ao imaginar que ele passou a virada do ano novo sozinho. 

-O que você está fazendo? – ele de repente perguntou.

Helô olhou ao redor para o quarto escuro, a única claridade era a que vinha da rua pela fresta da cortina aberta – Estou deitada – respondeu enfim.

-Na nossa cama? – ele indagou.

-É... – ela respondeu simplesmente.

-O que você fez hoje? – ele continuou perguntando.

-Fui ao mercado e depois ao cinema.

-Você no mercado? – Stenio riu do outro lado da linha e fez Helô sorrir também – essa eu queria ver de perto.

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⏰ Last updated: Apr 25, 2023 ⏰

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Ligação - one-shot steloisaWhere stories live. Discover now