I can hear the things that you're dreaming about

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Ohm ouviu as batidas na porta e estranhou. Era tarde da noite e não imaginava quem poderia estar aparecendo ali sem avisar em uma hora daquelas. Mas assim que abriu a porta e deu de cara com Nanon e um largo sorriso, as coisas faziam um pouco mais de sentido.

Nanon não conseguiu evitar olhar o amigo de cima a baixo e trancar o ar por um minuto para que não acabasse suspirando. Ohm estava usando apenas uma samba canção, expondo toda sua musculatura quase exagerada e secamos os cabelos com uma pequena toalha, ainda que fosse tarde, ele parecia ter acabado de sair do banho.

— Er... eu preciso de ajuda. — disse, colocando as folhas de papel ao lado do rosto e dando um sorriso um pouco constrangido.

Ohm revirou os olhos rindo e deu passagem para o amigo entrar. Nanon era um ator até que bem conhecido e não era a primeira vez que pedia sua ajuda para ensaiar alguma fala, por algum motivo ele tinha sempre algum problema com seus parceiros românticos e isso não parecia ter muito sentido, levando em conta o tipo de pessoa alegre e gentil que ele era.

— Eu acabei de sair do banho e já ia para cama. Vai demorar?

— Não, é um texto bem rápido, é só que...

— Seu parceiro deu problema, né? Tudo bem. Sabe que sempre vou ajudar você. — sentou no sofá e jogou a toalha para longe, esperando Nanon fazer o mesmo, sentar em sua frente, e lhe entregar um script.

— Então você vai ler as partes com o marca texto azul e eu o laranja, ok?

Ohm concordou com a cabeça e começou as falas.

— Você ia me deixar? — seu olhar passava uma mistura de dor e talvez até raiva.

— E-eu... Eu não sei se este é o meu lugar, entende? Eu sinto que eu estou atrapalhando a sua vida. — Nanon fez um gesto com as mãos, como se tivesse largado as malas no centro da sala, como estava descrito no script.

— Eu sou o seu melhor amigo desde... sempre. Por que não me diz o que realmente está acontecendo? — perguntou, levando a mão para o rosto do outro e acariciando, sentindo ele deitar sua bochecha ali, apreciando a carícia.

— Se eu apenas fosse embora agora, todas as boas memórias iriam comigo, porém se eu expor o que realmente penso... eu vou acabar com toda a nossa amizade e todos os momentos que já tivemos juntos, tudo vai parecer diferente a partir de então.

— Por favor... — implorou, com uma lágrima escorrendo de seus olhos.

Sempre que via Ohm ter tanta facilidade em entrar no personagem, pensava que quem deveria estar atuando era ele.

Depois de uma pausa, Nanon apenas continuou o texto.

— Eu gosto de você, eu gosto tanto de você. — disse, sentindo as lágrimas escorrendo por suas bochechas, afinal, aquilo não era nenhuma mentira — Eu não consigo mais ver você com nenhuma outra pessoa, eu sinto falta dos momentos em que você é apenas meu e... eu sei que isso acaba com nossa amizade, então eu tentei ao máximo me manter em silêncio por todos esses anos, mas eu gosto de você, amo você, muito mais do que como um amigo.

As lágrimas de Nanon naquele momento eram completamente reais, afinal aquele não era o primeiro script que havia usado como desculpa para se confessar na esperança de que Ohm percebesse as muitas palavras improvisadas apenas feitas para que expressasse o que realmente sentia.

Para sua surpresa, dessa vez Ohm seguiu o script, indo em frente com a parte que estava marcada em rosa.

Sentiu a mão que estava em sua bochecha indo até sua nuca e o puxando para mais perto, selando os lábios lentamente e logo o beijando foi se aprofundando, tendo uma certa ansiedade de ambas as partes.

— Acho que você vai muito bem nesse episódio. — disse Ohm ao finalizar o beijo, sorrindo para o amigo e lhe entregando o script — Era só isso?

Nanon ficou um pouco desconcertado por alguns segundos, sem saber como agir, mas ao ouvir as palavras do amigo, sentia como se tivesse levado um soco em seu estômago.

As lágrimas continuaram escorrendo por suas bochechas e não conseguia controlar, assim como não conseguia disfarçar seu rubor, mas tentou de tudo para dar um largo sorriso e pegar a folha da mão do outro.

— Era... Era... Eu vou embora agora. Obrigado pela ajuda. — sorriu sem mostrar os dentes e levantou, pronto para ir embora.

Ohm riu do jeito fofo do amigo e segurou seu pulso, o puxando de volta para o sofá, dessa vez bem perto dele.

— Por que só não diz o que realmente quer me dizer?

Talvez ele fosse um pouco ignorante naquele assunto e não tivesse se dado conta de todas as outras vezes em que o amigo tentou se confessar, mas havia uma coisa da qual Nanon não sabia: ele falava enquanto dormia.

Ohm acabou por perceber ao ouvir as confissões durante o seu sono, o que ele realmente queria dizer com todos aqueles scripts cheio de improvisos. No início não sabia como se sentir com isso, mas naquele momento, depois de beijá-lo, havia tomado sua decisão.

— Do que está falando? — perguntou com os olhos levemente arregalados, sem entender o que estava acontecendo.

Ohm revirou os olhos e voltou a segurar as bochechas do amigo, o beijando novamente. O beijo era lento, mas intenso. Nanon segurou o rosto do amigo com as duas mãos, em parte para ter certeza de que aquilo estava realmente acontecendo e em parte para que aproveitasse cada segundo daquilo, pois não sabia quando teria uma chance como aquela novamente.

— Eu estava falando de todos os seus improvisos. — deu alguns selinhos nos lábios do amigo — Admito que quando eu percebi a primeira vez eu não sabia o que pensar e nunca tinha pensado sobre gostar de um homem antes, mas eu tenho certeza agora.

— D-do quê?

— Eu também gosto de você...

O coração de Nanon pareceu ter falhado uma batida, ainda mais quando recebeu outro beijo, o fazendo sorrir de imediato no meio deste.

Nunca imaginou que teria seus sentimentos correspondidos e agora não conseguia mais imaginar os lábios de Ohm longe dos seus.

ImprovisoWhere stories live. Discover now