Twilight

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A igreja soou com 7 batidas, uma seguida da outra anunciando a chegada da noite. Eram 19 horas, eu já estava de pé e o resto da cidade também, diferente de Marie que ainda dormia em seu caixão.

Mesmo que dormissemos em caixões, a cama em nosso quarto tinha muitas utilidades, ainda que dormir não fosse uma delas. Fazíamos amor na cama, líamos livros na cama e também servia para me lembrar da minha vida como humana, pelo menos era nisso que eu gostava de acreditar.

Era a primeira vez que eu acordava antes que Marie. Às vezes eu fazia isso de propósito, demorava de levantar para não ter que procurar por sangue, afinal, era mais fácil quando Marie fazia a parte mais difícil e eu apenas ficava encarregada de dividir a pessoa com ela.

Marie ainda dormia e não havia sinais de que ela iria acordar por agora.

Me vesti com um de seus casacos, era longo mas ao mesmo tempo elegante. Coloquei minhas botas e saí de casa, que mais parecia meu esconderijo pessoal nos últimos dias.

Antes quando eu andava pelas ruas, eu não costumava a pensar nas outras pessoas que eu encontrava, mas agora, tudo o que eu podia pensar eram nelas. Eu conseguia ouvir cada pensamento que elas tinham, não só isso, como seus corações palpitando dentro de seus corpos. Podia sentir o cheiro do sangue quente que encontrava em suas veias e isso me fazia desejar elas mais do que qualquer outra coisa.

Uma moça loira de repente trombou em mim, derrubando seu caderno de anotações. Seu cheiro era ótimo, algo sobre sua feminilidade e delicadeza me atraía, seu sangue oarecia ser doce. Viajei meus olhos sobre ela pensando em como seu corpo era convidativo, em como sua pele parecia morna, diferente da minha. Ter um pouco dela dentro de mim não seria algo tão ruim.

Ela se desculpou e continuou o seu caminho preocupada com seu sobrinho que estava no hospital. Pensei em várias formas de tirá-la daquela rua sem que as pessoas ao redor notassem, em como eu iria sugá-la. sozinha, sem a companhia de Marie. Mas foi um pensamento passageiro, ela já se encontrava longe quando pensei sobre matá-la.

Isso me assombrava, o desejo de matar alguém. Eu já imaginei diversas maneiras alternativas de me alimentar sem ter que sacrificar a vida de outras pessoas. Matar apenas pessoas ruins, matar apenas animais, mas nada daquilo soava certo. Eu não conseguiria sobreviver apenas do sangue dos animais, não era o suficiente para saciar minha fome nem se eu matasse uma fazenda inteira, eu precisava do sangue humano em minhas veias. Depois do que Marie me disse sobre todas as pessoas terem atitudes ruins e boas, eu me peguei pensando se eu realmente estava olhando para a pessoa por inteiro ou só pelas atitudes que poderiam condená-los.

Já tinha se passado um bom tempo desde que eu tinha começado a caminhar. Eu já estava no meu antigo bairro. A igreja estava aberta como sempre, o padre estava lá e parecia me observar de longe, eu não conseguia ler o que ele pensava enquanto me olhava, mas eu não liguei muito também. Pensei em entrar e falar com ele, mas não me atrevi. Eu sequer merecia o olhar dele e dentre todas as pessoas dessa cidade, ele poderia ser um dos únicos a perceber a mudança demoníaca que aconteceu em mim.

O vento estava tão forte que levava meu cabelo para longe. Eu quase podia escutar o barulho dele, pedindo para me levar para longe daquele lugar. Parei em frente a minha velha casa. Eu não sei o que eu esperava, mas ela estava vazia, não havia sequer sinal de alguém já tinha morado ali dentro.

Não tive muito tempo para olhar e nem queria. Observar de perto o meu passado, só o fazia mais difícil de ser esquecido.
Já estava ficando tarde e a minha fome estava se aumentando com o passar do tempo. Eu precisava procurar por alguém.

Não era fácil fazer isso. Eu estava no meu bairro onde conhecia maioria das pessoas e todas elas pareciam sorrir para mim, eram pessoas que eu conhecia desde a minha infância, eu não podia matar alguém daqui.

The Bloody House (Romance sáfico +18)Where stories live. Discover now