✡ 001, labirinto.

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Califórnia - 1990, 17 de junho.

Mais outra consulta na sala da psicóloga tinha acabado.

As juntas de Max estavam apertadas, como se estivessem pedindo socorro. Seu rosto estava quente como fogo, suas mãos tremiam e seus olhos piscavam tão rápido que era difícil alcançar a rapidez.

Seu irmão tinha morrido de overdose fazia três semanas. Desde então, Max começou a pensar que fosse sua culpa, afinal, quem tinha dito para ele fumar até morrer era ela. Estava brava com ele aquele dia, estava vermelha de tanta raiva dele, estava doendo de tanta raiva, então disse para ele pegar toda a droga que usava e fumasse até passar mal. E ele fez. Talvez não por conta de Max, talvez porque estava tudo incompreensível aquele dia e ele quisesse se livrar de tudo de uma vez por todas, mas Max queria se convencer que era sua culpa e que ela merecia a dor que ele tinha ganhado.

O luto era forte. Tê-lo encontrado jogado no sofá, com a espuma branca na boca e o corpo imóvel, tinha sido a coisa mais difícil de ver. Naquela hora, Max ainda estava com uma raiva inadmissível dele, mas não deixou de chorar, gritar e fazer birra para ir na ambulância junto com ele. No dia seguinte, Max ainda continuava chorando e fazendo birra como uma criancinha, não conseguia aceitar. Uma semana depois, Max ainda chorava. Seus lábios chegavam a ficar inchados, pálidos e seus olhos eram como grande bolotas de neve, tão cheios que era impossível enxergar algo de muito longe. O azul de seus olhos era como uma correnteza muito forte na madrugada, tão pesada e desesperada.

Na metade da primeira semana, sua mãe achou melhor coloca-la em uma psicóloga do centro, que talvez fosse a ajudar em demasiadas coisas. Max não conseguia falar o que sentia, não dizia a verdade muitas vezes. Ela não sabia o que sentia em relação de nada, tudo parecia tão psicológico quanto físico, só sabia que devia estar em um estado decadente de lágrimas e desespero para sua mãe chegar à aquele ponto.

Muitas vezes, uma coisa que a ajudava era andar. Max adorava andar quando sua cabeça estava quase explodindo de tanto pensar, ou simplesmente andar para ver como estava o movimento da cidadezinha no fim da Califórnia. Andar de manhã pelo centro, para ver se tinha algo novo nas vitrines das lojas. Andar depois do almoço, para 'pegar um sol' como sua psicóloga tinha dito para fazer. Andar no fim da tarde para andar um pouco de skate entre as pessoas que passavam. Andar de madrugada na praia para parar de pensar um pouco, para ouvir o som das ondas quebrando ao seu lado e afundar os dedos do pé na areia, leve e fina.

Sua mente talvez tivesse se distraído demais enquanto descia o elevador de volta para a recepção. Max odiava elevadores, não conseguia colocar um pingo de confiança neles, e aquela era a coisa mais boba que devia ter em sua personalidade. O jeito como eles desciam violentamente era terrível, Max sentia suas pernas tremerem assim que entrava em movimento.

A porta abriu, mostrando a recepção bem iluminada e cheia de plantas. A secretária era uma mulher alta e de cabelos lisos pretos. Max a achava linda, mas nada simpática, já que nunca dizia 'bom dia' para ela quando chegava. Era rude de alguma forma, na cabeça de Max era rude. Mas se fosse pensar na forma de Max, ela também era rude, sempre revirando os olhos quando alguém que ela não gostava passava do lado, e não cumprimentava também. Era um tanto genérica para esse tipo de coisa.

Ela tirou a bicicleta das correntes, começando a pedalar no canto da rua lentamente, sentindo o vento de verão bater em seu corpo. As árvores balançavam para frente e para trás, levando o vento até Max de uma forma graciosa. Como a cidade era pequena, não tinha tanto movimento nas férias, todos tinham viajado, ido visitar familiares ou estavam na praia, o que era o mais provável. Um de seus conhecidos, Mike Wheeler, tinha viajado para a Itália no começo das férias com sua família toda. Pelo o que tinha passado pelo ouvido de Max, aqueles foram os únicos que haviam viajado na cidade toda, mas sabia porque eram famosos pelas inúmeras doações que faziam para a creche do centro. A Nancy, irmã do Mike, era famosa porque fazia parte do jornal local da cidade.

𝐏𝐀𝐈𝐍𝐅𝐔𝐋, max mayfield.Where stories live. Discover now