"De todo o amor que eu tenho,
metade foi tu que me deu."⎯⎯⎯ Dona Cila,
Maria Gadú.•
Alexandre parou tudo o que fazia ao captar o dito alheio, direcionando-lhe um olhar alarmado. Indira — ao notar a surpresa do homem e a intimidade que o assunto sugava — se levantou calmamente e seguiu em direção à copa.
⎯⎯⎯ Você teve um aborto?
Ele se aproximou da baixa estatura com cuidado, buscando não soar invasivo ou julgador. Giovanna não era alguém de fácil acesso e ele sabia bem disso.
⎯⎯⎯ Tive. — Um mínimo curvar de labios surgiu, buscando amenizar o clima pesado que se instalou.
⎯⎯⎯ E você está bem? — O olhar era cuidadoso, desconhecido pela mulher em todos os anos que o conhecia.
⎯⎯⎯ Estou. — O replicar era ameno e quase não se era possível captar com ouvidos comuns.
⎯⎯⎯ Isso é bom. — Exalou o ar lentamente, deslizando a palma aberta contra a barba por fazer, estranhamente nervoso com a situação⎯⎯⎯ Er... Você quer conversar sobre isso? — Tampouco sabia como lidar com o caos em que se resumiu o pensar.
⎯⎯⎯ Não há o que conversar. — Deu de ombros, apanhando o copo que antes pertencia a Alexandre. ⎯⎯⎯ Você conhece o meu namorado. Luigi, certo? — Começou aos poucos.
Alexandre assentiu.
Havia se deparado com o mais novo vez ou outra, sempre no encalço da carioca com um sorriso torto; abertamente desleixado. Guitarrista de uma banda, sabia como acabar com o conceito do estilo do rock.
⎯⎯⎯ Tenho uma vaga memória.
⎯⎯⎯ A camisinha estourou. — Começou ela, desviando o olhar do curitibano. Sentia-se exposta, principalmente quando não eram de compartilhar, pouco menos ao se tratar de intimidade. ⎯⎯⎯ E, embora fosse uma cogitação abortar desde o início, detestei não ser digna de optar.
⎯⎯⎯ Como assim?
⎯⎯⎯ Eu tive um aborto espontâneo à noite. — Murmurou ao deslizar as unhas contra o couro, suspirando ao retomar ao momento. ⎯⎯⎯ Ainda estava decidindo o que eu iria fazer. Se deveria ter, se realmente estava no tempo adequado... Contudo, o universo falou mais alto. E tudo bem. Eu sou caos, ser mãe não se encaixa em mim.
⎯⎯⎯ Para de falar asneiras.
⎯⎯⎯ Não são asneiras. — O riso saiu pelo nariz, conforme a mulher o esfregava continuamente. ⎯⎯⎯ Apenas livrei uma criança de sofrer.
⎯⎯⎯ Posso falar como alguém que está de fora? — Indira se aproximou gradativamente e recebeu um acenar confirmatório. ⎯⎯⎯ Trabalho para a Karen tempo o suficiente para conhecer um pouco de cada um de vocês. E — apesar da minha ciência se basear em relatos de terceiros — sempre houve menções do quanto fazem um trabalho sensacional. O Inã ama vocês e independentemente da bagunça, vocês devem saber fazer algo digno disso.
⎯⎯⎯ Você é amiga minha. Isso não vale! — Alexandre contestou ao remexer a cabeça.
⎯⎯⎯ E justamente por isso que eu sou neutra, admito o profissionalismo acima de qualquer coisa. E preciso de uma reposta imediata de vocês dois. — A calmaria em seu tom agitou a dupla ansiosa.
⎯⎯⎯ Será que você poderia conceder uma pausa? — O curitibano ralhou e a advogada assentiu.
Giovanna se direcionou à cozinha e verteu a água, solvendo-a diretamente do gargalo da garrafa. Alta, incapacitada de pensar com maior propriedade.
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Ilécebras. (Edição)
FanfictionGioNero | Você seria capaz de se encantar por uma realidade que nunca lhe foi cogitada? Famosos pelo compartilhamento de uma relação turbulenta e quase problemática, Giovanna e Alexandre adentram a caótica energia de Ilécebras quando se enxergam na...