3. Amuleto

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No outro dia fazia um sol tão frio e cinzento, e o calor era enjoativo. Meu pai saiu de casa e passou por mim todo arrumado e trancou a porta.

— Acho que vai chover... Posso ficar em casa? – Ele riu como se eu tivesse contado uma piada e abriu a porta do carro.

— Vou levar você de carro. Chuva não é motivo para ficar em casa. – Estava confortavelmente sentada em um dos degraus do conjunto e tive que me obrigar a levantar dali e entrar no carro.

Não era o fim do mundo, eu poderia ficar na biblioteca, e pedi isso a ele. Aquele lugar era aconchegante, tinha um segundo andar que era o meu favorito, eu passava a maior parte do tempo sentada lendo gibis e mangás. Meu pai já estava morando aqui antes de minha mãe e eu nos mudamos, ele foi o primeiro para cuidar das coisas do vovô, pai dele, que teve um infarto. Ano passado foi um ano pesado e terrível ainda mais por ser meu último ano no fundamental. Fato é, meu pai não viu minha formatura, e agora ele estava empenhado em me acompanhar nesses três anos de ensino médio. Isso é bom pra ele, eu sei. Depois de se preocupar tanto com coisas como a morte e tantos documentos, era bom família da minha mãe que também morava por ali acolher todos nós numa vizinhança em família. Minha tia costumava dizer que aqui era tranquilo por ser a cidade do amor, mas é certo que toda Paris é a cidade do amor. Ela insistia em dizer que a vila Beefordshire era enfeitiçada e qualquer um poderia conhecer seu amor aqui. Minha tia na verdade era uma bruxa disfarçada de fada, era incrível como qualquer coisa que ela dizia poderia se tornar verdade, isso me dava muito medo. Antes de tudo acontecer, ela previu que a loja seria do meu pai e cá estamos nós. Sai do carro e segui meu velho até o portão da loja.

— Que bom que te vi, eu estava pensando em você.

Me virei e minha tia surgiu junto ao vento quente como mágica, aparecendo estranhamente depois de ter mencionado ela em meus pensamentos.

— Agatha! – Meu pai a cumprimentou sorridente. — Como está?

Eu sabia que ele estava perguntando por educação, estava muito ocupado, procurando a chave certa para abrir a loja.

— Eu vou muito bem, obrigada por perguntar. Se importa se eu roubar a minha menina por 1 segundo?

— Não, pode ir. Só não demora, ela tem escola.

— Oh, tudo bem. – Ela segurou meu braço e colocou algo em minha mão. — Não vou demorar. – E sorriu para mim. — Sei que estava pensando em mim, minha querida. Te trouxe isso. É um presente de boas vindas que fiz. Um quartzo que abençoei deixando em minhas rosas esses dias. Fiz um colar, e quero que fique com ele.

— Obrigada tia... É lindo. – Fitei aquele colar prata com o pingente redondo e com ele em minhas mãos de repente me senti tão bem. Era bobagem? Eu não sei, mas de repente não me sentia tão cansada.

— Senti que precisava disso. Achei sua autoestima tão abalada esses dias, minha pequena. Agora se me permitir, tenho que resolver algumas coisas na floricultura. Qualquer coisa pode passar por lá.

E ela foi embora às pressas sumindo tão rápido como apareceu. Não me lembrava de ter verbalizado minha falta de autoestima. E aquela era literalmente a primeira vez que estava vendo ela desde que cheguei. Por isso que achava que minha tia era uma bruxa, como ela sabia o que eu estava sentindo? Porque de fato estava me sentindo um pedaço de bosta com o que vinha acontecendo durante aquela semana. Era literalmente a minha primeira semana naquele colégio e a loira já me perseguia fazia comentário absurdos sobre minhas roupas e meu cabelo.

— Já está na hora de você ir.

— Tudo bem, quando eu voltar passo aqui pra te ver.

Coloquei o colar no pescoço. Atravessei a rua e fui até a lanchonete, pedi um milkshake de morango. O atendente era um carinha bonito, ele sorriu pra mim e parecia estar hipnotizado.

𝘼 𝙍𝙚𝙨𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝘾𝙚𝙧𝙩𝙖Où les histoires vivent. Découvrez maintenant