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Com razão a noite anterior arrastou-se lentamente.

Durante boa parte da madrugada, Harry ficou de olhos bem abertos, encolhido sobre o colchão pouco confortável na beliche de baixo e sem realizar movimentos bruscos.

Mesmo que Hosk estivesse vigiando aquele corredor, tinha medo de pegar no sono e acabar sofrendo outro atentado, como aquele no refeitório.

Louis voltou às quatro horas da manhã, mas Harry já havia cedido ao sono, naquela hora.

Como de costume, Hosk não chamou Louis para o café da manhã junto aos outros, ao menos não em dias onde ele voltava tarde para cela após uma noite de jogos.

Odiava ser incomodado e preferia dormir um pouco mais.

Mas, naquele dia em especial, Harry precisou ser retirado da cela sozinho, mais cedo que os demais. Seu advogado havia vindo lhe dar atualizações sobre o processo, por esse motivo foi encaminhado às duchas mais cedo.

Sentado na pequena salinha acinzentada, com apenas uma mesa e duas cadeiras, Harry remexia nervoso em seu assento:

— Algo sobre o meu caso? — finalmente quebrou o silêncio. Movia os dedos de maneira ansiosa sobre o colo, embora houvesse o aperto da algema em seus pulsos.

— Estive me reunindo com o advogado da outra parte e o juiz durante essa semana — o homem explicou — no momento eles têm poucas provas contra você e consegui que algumas delas fossem retiradas do caso por não serem de fato utilizáveis.

Aquilo trouxe um pequeno alívio para o coração de Harry, embora ele soubesse que a situação poderia piorar ao longo daquela conversa.

— Estou tentando que seja absolvido e arquivado por falta de provas — Tom explicou — está indo tudo bem, na medida do possível, mas a outra parte pediu acesso a alguns históricos seus, como o da universidade e a ficha criminal.

Aquilo parecia um problema para Harry.

— Nunca cometi nenhum crime antes — franziu o cenho.

— Eu sei, nós tivemos essa conversa antes — o homem acenou — mas eles tentam de todas as maneiras, ainda mais quando sabem que estão perto de perder.

Harry se limitou a acenar, porque teria realmente de confiar que seu advogado seria bom naquele caso, afinal era o único disposto a lhe ajudar com aquela confusão.

— Mas... — suspirou profundamente — há algo que precisa saber.

— Pode me dizer. Seja o que for, eu posso lidar com as acusações, sei muito bem que sou inocente.

— Não é uma acusação, mas sim um acontecimento — Tom comentou — pensei em usar seu bom histórico como recurso para colocar em claro sua moral, mas quando liguei para lá, disseram que sua matrícula não consta.

Harry permaneceu por um curto momento em total silêncio.

Tom observou como o garoto parecia olhar para as próprias mãos, com sua respiração agora ouvindo-se mais intensa e seus lábios pressionados em uma linha fina.

— Eu... — ele iniciou uma frase, que foi interrompida por um breve soluço — eu pensei que a universidade não cancelaria minha matrícula por conta da minha condição agora.

O homem suspirou, não sabendo o que dizer para consolar o garoto, que agora lhe encarava com um brilho melancólico no olhar.

— Pensei que eles iriam compreender que sou inocente — murmurou — e então, depois que tudo se acalmasse e eu fosse solto, achei que poderia retornar a minha vida. Eu sempre fui um bom aluno...

CELA 028Where stories live. Discover now