cinco

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Bela.

Anoiteceu e me encontrava chorando abraçada com Joyce enquanto falava de meu pai e como ele era amoroso comigo. Já não aguento sentir vontade de chorar a cada cinco minutos. É tanta coisa para lidar, ainda tenho que ir em nossa casa, que agora é minha, para retirar os alimentos da geladeira para não estragar. Irei deixa a casa fechada por um bom tempo, será doloroso entrar na mesma. A casa é bem bonita, confortável ele a construiu com muito amor e esforço, sempre tive zelo pela mesma pois sempre fora somente nós dois. Meu pai nunca arranjou outra mulher depois de minha mãe, ele saia, namorava mas dentro de casa? Ele jamais colocou outra mulher. 

           Convidei Joyce para comprar um lanche junto a mim, uma vez que minha mãe chegará cansada, quero agradá-la com algo diferente. Comprei o lanche para nós três e de brinde uma decepção quando encontrei Fera. 

Finalmente nossos lanches ficam prontos eu posso sair de perto desse homem terrivelmente cheiroso. Fingir que ele não existe é um trabalho árduo demais, principalmente quando os olhos dele vão de encontro ao meu rosto descaradamente. Nem sabe disfarçar. 

          No caminho para casa me pergunto o porque de ele ter me chamado para conversar se o mesmo tem namorada. Ele deve pensar que sou o tipo de pessoa que aceita ser amante ou sei lá o que, esta muito enganado. Que vacilão, ainda tratou a menina daquela forma na frente de todo mundo. 

— Sabe o cara que estava lá pedindo lanche e deu um fora na mulher? Ele me chamou no Facebook, me achou através do seu. Cara de pau, não? — digo para Joyce que para de caminhar e me encara.

— O fera te chamou no facebook? — Havia um misto de felicidade e surpresa em seu tom.

— Sim, mas ele tem namorada. 

— Caralho, não acredito! Por que você não me disse antes?

Seguro em seu pulso afim de fazê-la voltar a caminhar. Estava tarde e os caras estavam fazendo ronda de fuzil. 

— Porque não faz diferença. — Digo.

— Mas porque ele te chamou, já conversou com ele antes?

— Não. Nos vimos lá na venda, ele foi comprar absorventes para ela — Digo rindo.

— Quem diria, minha amiga nem chegou direito e já esta chamando atenção do dono do morro — Ela diz batendo palmas, escandalosa como sempre. 

Meu sorriso some quando ouço sua frase. 

— Repete.

digo parando de caminhar.

— Minha amiga n...

— Isso não, a outra coisa. Ele é o que? — Pergunto.

— Dono da comunidade — Responde séria — Você não sabia?

— Eu não, nunca se quer o vi. Deve ser por isso que ele acha que pode pegar todas e que todas vão dar mole. 

— Já não quer mais ficar com ele? 

— Querida, ele poderia ser o presidente do Brasil, ainda sim eu iria querer sentar nele.

Ela ri e logo volto a caminhar. 

— Aquela lá é só mais uma que ele come, ela se acha a dona do morro. Ela bate em todas as meninas que ele dorme, se tu olhar para ele, ela já esta em cima de tu. Pior ainda, sabe que ele é do jeito que é e ainda gosta de ficar como cachorra atrás dele. 

— Eu é que não vou apanhar por conta de macho, pau tem muitos por ai. — digo — ainda mais por alguém que não presta. 

— Ele dificilmente vai nos bailes, a ultima vez que ele foi, pegou uma gringa e ela baixou a porrada na menina que nem sabia falar português direito — Ela ri — A mina só gritava "ó my godi, ó my godi"

— Passada! — digo gargalhando em seguida. 

Pelo visto essa ai é pedra no sapato de todas as mulheres que ele fica, coitada ainda se põe nessa papel tosco. queria saber o que se passa na cabeça dessa mulherada a ponto de se rebaixar desta forma por um cara que pelo visto, gosta de ser o centro das atenções. Ele nem deve ser isso tudo...Ou é?

Ou, doidona!

Ouço alguém chamar Joyce, um menino magro com cabelos pintados de rosa se aproxima de nós duas, deixando para trás um senhor de idade que antes ele conversará. A cumprimenta com dois beijinhos no rosto e faz o mesmo comigo. 

— Bicha, essa aqui é a Isabella, ela ta morando aqui agora. — Diz Joyce.

— Fala ai, mona, sou o Ric. — Ele diz simpático.

— O que tu quer, fala ai. 

Joyce diz.

— Você não respondeu se iria ir pro baile, porra. To ali com o Osvaldo para conseguir nosso galinho, pro nosso combo — Ele diz com cara de nojo em relação ao velho— . Agora tu vai ter que ir. 

— Eu quero, mas só vou poder se a Bela for porque minha mãe vai achar que to dormindo na casa dela.

— Poxa, Belinha, vamos com a gente — Ele diz manhoso e eu encaro Joyce.

— Ela perdeu o pai dela faz pouco tempo, Ric. Não esta se sentindo bem.

Joyce explica e ele entorta os lábios sem saber o que dizer.

— Se eu estiver me sentindo melhor, pode deixar que irei. — Digo sabendo que eu não iria.

Nos despedimos e ela voltou sem muito animo para o senhor que antes estava bebendo junto ele. 

A casa de Joyce ficará no caminho então me despeço e vou caminhando até a minha. No caminho meus pensamentos são tomados pelo rosto dele. Conheço o cara e no mesmo dia ele tem todo esse poder em meus pensamentos, mas que merda o que você tem de tão atraente para a minha mente gostar tanto de recordar seu rosto? Me pego sorrindo quando lembro do mesmo me olhando sem ao menos disfarçar, pelo visto não sou a única cheia de vontades. Se ele soubesse como estou por sua culpa com certeza se sentiria feliz. Talvez isso seja momentâneo, nunca tive tantos relacionamentos assim, apenas algumas noites de diversão e só. Acho que só estou carente, apenas. Desfaço o sorriso e volto a realidade.



A Bela e a Fera da favelaWhere stories live. Discover now